Qual a importância e quanto vale um sigilo médico?
Bom, o lema de Vegas também pode se aplicar nessa história:
O que acontece em um consultório, fica em um consultório.
Ou será se fica na cama? No carro? Nos corredores do Besiktas?
A obra está mar...
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"Muitas felicidades, muitos anos de vida..."
O coro unido próximo à mesa onde se encontrava um bolo de três andares continuou a embalar a canção portuguesa de felicitações, todos alegres e saudando mais um ano de vida que o cigano fazia. Entretanto, alguém naquele imenso jardim não estava conseguindo acompanhar aquela inundação positiva, tendo apenas como companhia o incômodo e o sentimento de estar deslocada entre os familiares e amigos de Ricardo Quaresma.
Iara Volkan não percebeu quando cessou a cantoria típica e deixou as suas mãos unidas após ter batido palmas, ficando apenas estática enquanto encarava o sorriso largo que o jogador lançava para a sua ex-esposa. E Daphne o acompanhava.
A saliva foi engolida a seco e com muito esforço ela conseguiu desviar seu olhar daquela cena. Como estava bem em frente a mesa, encarou os colegas de time ao seu lado e o resto das pessoas ao redor, como se estivessem em câmera lenta, passando a se sentir uma intrusa no grupo que acompanhou os oito anos de casamento do ex-casal. Criou coragem e conseguiu dar alguns passos para trás, se misturando e se afastando do aglomerado de pessoas que ainda faziam algazarra em torno de Ricardo.
Sem sequer perceber que o aniversariante a observava.
Mas antes que ele pudesse ir atrás dela, sentiu Daphne afagar o seu rosto carinhosamente, apontando para seus filhos que brigavam para saber quem iria cortar e levar o primeiro pedaço do bolo. Fazendo-o perder de vista o corpo esguio e os cabelos curtos.
Iara já havia alcançado uma parte do jardim longe do aglomerado de pessoas para tentar organizar a avalanche de sentimento que ocorria dentro de si. Ela com seus vinte e poucos anos se sentia patética por não conseguir definir ao certo o que tanto a fazia se prender a Ricardo Quaresma.
Inicialmente pensou ser apenas uma atração física, mas com o tempo o beijo do mesmo se tornara tão perfeito ao ponto de fazê-la refém, permitindo-a ser voluntariamente prisioneira daquele abraço apertado que acontecia todas às vezes em que eles dançavam aquela valsa ensandecida na sua cama.
A história se repetia diariamente, toda semana, até que vinham as brigas por ciúmes, por não saberem expor e distinguir o que ambos sentiam um pelo outro, pelo o medo de Quaresma se entregar a uma víbora que o quebraria o coração mais uma vez. Uma briga por Iara não ter certeza se realmente queria firmar um caminho com o jogador ao seu lado.
Certeza essa que ela não conseguia ter de forma alguma pelo fato de que sempre que alguém estava ao ponto de ter o melhor dela, vinha um bloqueio instantâneo. E era rotineiro, todas às vezes que ela queria se doar para alguém novamente, travava antes do segundo tempo. Sendo que isso também acontecia com Ricardo Quaresma.
E aí se iam dias longe um do outro, o coração e o corpo implorando pelo gosto que ambos carregavam na boca. Eles nunca se assumiam, mas também não se largavam de forma alguma.
Uma birra exaustiva, infantil, totalmente fora dos planos deles dois.
Sentada perto da piscina, deixou que seu olhar saísse da água azul-turquesa para cair sobre Ricardo novamente, que dessa vez fazia poses para fotografias com os seus pais e amigos. O sorriso que ele tinha era insuportavelmente lindo, que ultrapassava facilmente aquela malícia que escorregava da sua pele.
