Já faz 6 meses e eu estou aqui dentro, maldito hora que eu fui aceitar o convite daquele piloto, quando vagabundo liga falando que vai ter grana na parada, esquece, neguin não quer saber de nada. Não sei como é o inferno mas deve ser melhor que essa porra, calor, fedor, fogo, sem água, sem luz, gente pra tudo conté lado, tudo isso num espaço de 3 metros quadrados. Cadeia é pra bicho, o que eu estou fazendo aqui, sempre vai ter um vagabundo querendo te passar, já palmiei um já. Mas aqui é assim, qualquer briga lá fora é motivo de morte aqui dentro, moeda pra nós é cigarro. Pelo menos quarta tem pelada, não salva mas engana, blusa pra dentro é regra numero um, se não esquece. Sete da manhã já tem neguin gritando, tem aposta de tudo, cigarro, roupa, comida até dia de trampo. Se rolar briga já sabe, escova de dente vira faca, mão vira arma e vagabundo vira choro.
Oito da noite ainda ta quente, eu deitado no chão em cima nada, os agentes passa, nós finge que abaixa, eles nem são doido, tao pouco se fudendo pra nós, e também recebem muito mal pra querer ver.
Aqui dentro queria estar dormindo no almirante, mas já faz seis meses que eu estou no chiqueirinho. Nem ligo, terça tem visita e segunda é dia de corte, cortar cabelo na cadeia é historia, neguin parece que tem Parkinson na mão, disfarce sai torto, mas como ninguém aqui vai comer nenhuma piranha vagabundo deixa passar batido. Sete da manhã estou em pé, sem ligar pra nada, já faço o meu, vagabundo olha, já ficamos no aguarde. Nove e pouca visita entra, esconde cigarro e maconha, mesma historia, varias mães chorando, varias brigando.
As visita vai embora, resenha zera, cadeia no silêncio, vagabundo estranha, fico quieto na minha, to palmiado, se passar já era, blusa pra fora, neguin já olha e já grita, os agentes tenta mas o medo não deixa, olho vidrado, rebelião estancou, to palmiado, se passar já era. Cinco já foi, falta mais três, o vermelho sai, já era, os três já foi, choraram. Batalhão de choque entrou, vagabundo dispia, estou tranquilo, aceno pro cria e geral corre pra cela.
Nem durmi hoje, levei um pau e estou no forninho, a hora não passa, não tenho nem um cigarro pra matar tempo, parece que eu vou morrer, mas essa sorte nós nunca tem, nós somos a escória, presidente quer nós morto, nossa família quer nós vivo, e eu nem sei o que eu quero pra mim. Cadeia não recupera bandido, só piora, um exemplo sou eu, estou aqui a apenas seis meses e já era, sou outro. Me dá mais um ano pra eu meter o pé dessa porra desse inferno, ficar tranquilo com os crias, resenhar, ninguém entendendo nada, voltar a ativa e passar batido, um dia esse dia chega, enquanto não chega nós fica derretendo, sonhando, bolando, jogando e morrendo