Capítulo 2

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-  Pode me dizer que horas são?  - Perguntou Dudu em meio a um sorriso.

E agora? Será que a Maria seria assaltada? Para a sorte ou azar ela teria que ter a prova, e com muita relutância, tirou o celular da bolsa.
Viu rapidamente que era exatamente 13:45, ótimo.

- É quinze pra uma, era para o ônibus já ter passado. - seus olhos inquietos iam de um lado para o outro a procura do ônibus.

- O motorista deve estar atrasado de novo. A troca de cobradores acontece nesse horário.  - respondeu ele novamente tentando puxar papo, porém a garota não respondeu.

Para ela isso não era normal, sabemos que o mundo já não é mais o mesmo como nossos pais fazem questão de nos lembrar. Corremos perigo a todo instante, estamos sob a qualquer maldade, qualquer resquício de violência principalmente se você for mulher. E isso é agonizante quando não se está a vontade.
Porém não se pode ser totalmente ignorante ao perceber alguém "do bem" a nossa volta. E é o que Maria tentava colocar na mente.  Traficante bonzinho, esse aí é novidade!

Mas quando se perdeu em desvaneio logo percebeu que o ônibus chegou. Agradeceu a Deus por isso.  Assim que entregou o dinheiro ao trocador, fez uma continha básica de qual lado que o sol iria estar rachando, se sentou lá no fundo no banco esquerdo. Tudo perfeito, mas como toda boa história tinha que vir o empecilho agora. Ao levantar o olhar viu um cara grotesco, provavelmente passou a noite em um bar, o bafo de cerveja barata empregava na sua alma, mas dava para perceber que estava um pouco sóbrio.

- Posso me sentar aqui?- ele a olhou e ela viu que não teria escolha, o ônibus já estava lotado, só restava o assento ao lado do seu.

- Sem problemas. - ela assentiu e ficou olhando pela janela as ruas.

O tempo passava mais devagar, acho que o dia foi separado para a reflexão diária. Daquelas em que o dia termina e você não sabe mais quem é ou quem será daqui pra frente. Onde sua paciência é testada ao limite e o que resta é entender  que tem que superar mais uma das crises existências.

- Você é muito linda sabia? - Veio como um sussuro nojento ao pé do seu ouvido e Maria sentiu a mão do cara ao lado na sua coxa.

- Não estou te dando liberdade para agir assim, seu .... - ela se levanta rapidamente e caminha para o cobrador. - Por favor pode me ajudar? Aquele homem está me assediando.

- Me desculpa minha senhora pelo infortúnio, mas só poderei retirá-lo se  houver grandes complicações. - ele levanta o olhar com tamanha passividade que a vontade de Maria foi dar um lindo soco numa paz  localizada no olho dele.

- Está de brincadeira com a minha cara? - ela encarou todos a sua volta. - Acham que é exagero pagar a taxa de ônibus para andar deliberadamente numa rua esburacada e não poder ter o direito exercido por todo cidadão de  uma viagem em paz? Agora eu tenho que calar minha boca por causa de um machista grotesco que tem a ousadia de me assediar?

Ela se sentiu gloriosa, boa parte das pessoas já protestavam com ela. Aquilo era de se esperar, atitudes assim tem que ter recorrência necessária. Então o cobrador se levantou em um suspiro e pediu para o motorista abrir as portas,  pedindo gentilmente para que o bêbado se retirasse. E foi em vão.  Ele ainda estava lá,  atrasando e importunando a vida alheia, até que um cara se levantou.

Para ser específica, o Eduardo se levantou. Já estava indignado e de saco cheio daquilo. Então se aplumou, seguiu em direção ao bêbado, apontou o dedo bem no meio daquela cara de imbecil e disse somente a seguinte frase.

- Se você quiser continuar com palhaçada aqui dentro, na próxima parada eu me resolvo contigo do lado de fora.

- Não precisamos ter violência envolvida. - o cobrador tentou amenizar a situação.

- Cala a sua boca que você não fez   merda nenhuma na defesa da moça, agora quer defender esse  merda? - Eduardo já não sabia aonde estava tirando tanta coragem para dizer aquilo, porém dito e feito.  Ele estava conseguindo.

O cobrador foi obrigado a  ficar em silêncio, o bêbado saiu cambaleando para fora do ônibus e a Maria mais uma vez conseguiu uma paz momentânea.  Aplausos se ouviu e as pessoas a vieram perguntando se queria que as acompanhasse para prestar um B.O. Ela negou, estava certa que aquele babaca teria o que  merecesse.

Ao voltar para o seu lugar aonde estava, Dudu sentiu algo a dizer para ela, mas resolveu ficar quieto. Depois de duas paradas  a  frente o homem que estava ao seu lado desceu e de repente se viu Maria ao seu lado.

- Vim te agradecer, não que tenha salvado a pátria, mas por ter dito aquilo ao cobrador. - ela sorriu e ele notou que ela era muito bonita.

- Não precisa agradecer, não suporto coisas assim.

Ela riu, foi algo engraçado saindo da boca dele. E ele ficou sem graça, sem reação e meio vulnerável. E o silêncio mais uma vez tomou, mas agora ambos estavam confortáveis com aquilo. Ele queria falar algo e perguntar o nome dela... porém a vergonha o tomara.
Já ela estava satisfeita com aquele basta na conversa, não queria criar muita intimidade entre eles. Além do mais, ele ainda continuava sendo irmão do Léo... um dos chefes do morro.
Não foi muito demorado até o destino, ela desceu em frente a uma rede de supermercado Carrefour.

Bora lá trabalhar mais um dia né, a renda pra faculdade não vai se acumular sozinha.

Seus passos vagarosos a direcionam para o caixa fechado, dá um longo suspiro e se senta. Não era comum ela não comer antes  do funcionamento, mas petiscou um biscoito enquanto arrumava o caixa.
Deu seu horário e ela começou o monótono ato, compra por compra, enquanto sorria com delicadeza para os clientes.
A hora parecia interminável aquele dia, nada parecia ser certo. Bom... menos no ônibus quando o menino a defendeu, aquilo sim seria algo ótimo para se contar pra Jéssica.
Imagina, o chef do morro ajuda a nerd nos seus direitos de paz no transporte público. Uma boa manchete no G1.

- Quanto deu as minhas compras por favor? - disse uma mulher pacientemente.

- Me perdoa, pensando demais aqui.- deu um sorriso sem graça e completou ao olhar o monitor. - Deu 17,50 senhora.

- Aqui. - disse lhe entregando uma nota de 20 e sorrindo. - Costumava ficar assim quando eu estava no tempo de namoro com meu falecido marido. Sorrindo apaixonada.

O olhar da senhora ia em direção ao um horizonte se enchendo d'água, Maria percebeu que aquele amor era puro.

- Meus pêsames, creio que deve ter tido um casamento muito feliz. - disse Maria meio sem graça.

- Conturbado pela briga das famílias, mas o nosso amor era a base pra suportar tudo aquilo. - ao finalizar a frase pegou as compras e saiu. Maria demorou uns segundos para voltar ali e continuar o seu trabalho.

Coisas boas sempre podem acontecer e deixar marcas na alma ocupando as ruins... agora ela sorria internamente ao presenciar um gesto de um amor sincero que não se apagou.

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2020 ⏰

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