Analise primogênita

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São Paulo, 25 de dezembro de 1990
  Querido Samuel, 
A desistência é real, nem todos estão aptos para continuar. É difícil e a seleção natural deixa explícito isso bem na nossa cara. Mas, mas e mas. São tantos "mas" que se eu não os tivesse minha vida resumiria em um mar de otimismo sem nenhuma contradição de apenas três letras. E bom, voltando ao objetivo desta carta...você me conhece mais que minha própria mãe. E sabe que esse contexto de uma vida triste e murcha não é sem intenções. Vamos para o contexto.
Desde vim para o centro econômico do Brasil não consigo ser estável. Há grilhões de pensamentos que me perseguem por ter te deixado, por ter desistido de nós. Não me despedi, me desculpa por favor, eu não estou pronta para abraçar as oportunidades e fugir qualquer dia fora do país, eu gostaria... gostaria que você fosse feliz, sem mim. Sinto-me culpada, errada, fraca. Eu quis te fazer feliz, mas de certa forma percebi que quanto mais o tempo passava as pontes que me faziam alcançar meu sonho iam se despedaçando, concreto por concreto, pedaço por pedaço. Não sou egoísta, te amei no passado, no presente e, quando chegou no futuro, naquele que as notas de músicas soam mostrando meu caminho a seguir eu... eu fui fraca,mas percebi que deveria ser sincera com você, e fui. Você merece uma bela mulher que acorde com uma voz doce e singela te dizendo "bom dia amor" e que anos mais tarde essa voz se distingue em vozes infantis e latidos. Tudo que você sempre sonhou e apreciou na vida. Esse é o seu sonho, Samuel.
Eu não sei bem o porquê estou escrevendo, é costume, era o meu costume para você. Mas chega de melancolia, encontrarei um terapeuta e te escreverei algumas cartas, dependendo da sua resposta a esta. Quero falar sobre a vida paulistana e os desafios de uma jovem catarinense apaixonada pelos sons e ruídos que o calmo interior não me deu.  Quero te contar minhas experiências, antes de tudo fomos amigos, unha e carne. E hoje em dia só tenho você, somente você. Agradeço-te, Samuel.

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⏰ Last updated: Sep 22, 2022 ⏰

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A música proibidaWhere stories live. Discover now