"Ouvir atrás da porta é feio" era o que a Sophia ouvia sempre da sua mãe. Ela sabia que era errado, sempre soube, mas naquela situação foi impossível evitar. Afinal, se uma pessoa queria contar um segredo para a outra, ou falar algo de extremo sigilo, que fechasse a porta direito, e não deixasse a brecha. E aquela brecha chamou atenção da Sophia. Qualquer um da casa poderia ter passado pelo corredor naquela hora, mas não, tinha que ser ela.
E ela sabia: tudo iria mudar.
Ao ouvir o que se é pronunciado no interior do escritório, Sophia sentiu seu peito apertar. E, como se o seu corpo trabalhasse por conexões, seus olhos marejaram. Ela não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Daquele jeito. Fugiu dos seus planos.
Sophia tentou ser discreta e se afastar, fingir que nada aconteceu, mas, assim que pensou em dar um passo para trás, os olhares de dentro do escritório se voltaram para ela, como ímãs em um metal. Olhares mortais, por assim dizer. Eles fizeram com que Sophia entreabrisse os lábios, sem saber o que fazer. E aquele par de olhos azuis, tão confusos para ela, encararam-na severamente.
Ela, sem pensar muito bem e sem notar que as lágrimas escaparam pelo seu rosto, soltou um soluço e saiu correndo, como uma garotinha fujona.
Correu pela casa enorme, subiu os degraus, tomando cuidado para não tropeçar, como seria do seu feitio, avançou pelo corredor mal iluminado até conseguir entrar em seu quarto. Bateu a porta e se recostou sobre a mesma.
Inspirou o ar. Lentamente e dificilmente, já que o choro estava cada vez maior e tomando conta do seu ser. Ela já não sabia se puxava o ar ou soluçava. Talvez entrasse em colapso. Fechou os olhos com força, tentando fazer tudo aquilo escapar, e quando abriu ela ainda estivesse deitada em sua cama pela manhã. Mas não. Era real. Tudo era real.
─ Sophia...─ a voz, que ela tanto temia e desejava não ouvir, ecoou por trás da porta.
Sophia prendeu o ar, como uma criança vendo como é não respirar. Talvez se ela ficasse quieta, ele poderia pensar que ela não estava e ir embora. Seria fácil.
Ou então, ao olhar para a janela aberta, seria mais fácil fugir. Pular alguns metros não seria tão ruim assim...
─ Sei que está aí ─ Sophia contraiu o rosto jogando o plano de fuga sozinho pela janela. ─ Abra a porta.
─ Não. ─ murmurou a contragosto, tentando disfarçar o choro pertinente.
─ Estou mandando.
─ Não...─ sussurrou tão baixinho, que era provável que tenha sido inaudível.
─ Eu sabia que você tinha um segredo. Eu achei que sabia do que se tratava, porque também tenho um. Mas... Não poderia imaginar que você fosse tão baixa assim.
Ela não respondeu. Não pôde. Não tinha como. Não soube o que esse tom de voz refletia. Ódio, raiva, tristeza, pena. Não. Pena não. Impossível. Na verdade ela não respondeu porque não sabia o que falar. Havia o que falar, mas ela não conseguia.
─ Eu errei ─ Sophia disse mais alto do que um murmúrio. A primeira coisa que passou na sua cabeça.
─ É, você errou. Você é cruel, Sophia. Não poderia imaginar algo assim.
─ Eu... Sei.
Ela fechou os olhos. Frustrada, magoada e culpada. Uma mistura emocional capaz de abrir um buraco no coração.
─ Abra a porta ─ a voz atrás da madeira ecoou novamente, depois de um breve silêncio.
─ Não quero te ver ─ ela tentou parecer firme, mas sabia que era um erro.
─ Mas, eu quero ver você.
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• Minha Vida Encontrando a Sua
RomanceSÉRIE OS DAVENPORT - LIVRO 2 (degustação) COMPLETO EM AMAZON KINDLE Sophia Davenport, uma mulher de 29 anos em busca de um recomeço. Mora em Manhattan com os irmãos, mas decide trabalhar como babá na casa de uma família, em Aspen, Colorado. Três c...