Prólogo

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Julho - 1812

Estava escuro no início, mas ela conseguia ouvir a respiração ofegante, como se estivesse correndo. Um cheiro de sangue e cadáver invadiu seus pulmões e os sentidos ficaram em alerta. Quando ela viu tudo com clareza, o céu azul era cenário de fundo de um campo enorme. Tudo estava destruído. Os rastros e explosões de pólvora, soldados com feridas expostas, provavelmente mortos ou implorando por misericórdia, tomavam o lugar de um espaço um dia florido, verde e ensolarado. Um lugar, pensou ela, onde a própria passaria a tarde sozinha ou com o irmão...

Irmão

­— Thommy...

Letha correu os olhos pelos vários corpos no chão, procurando por uma feição familiar. Começou a andar, com o coração brigando em sua caixa torácica. A garota nunca fora de crenças, mas rezava baixinho, implorando aos céus que encontrasse o irmão. Mas o que conseguiu ver foram mais dos homens que um dia tiveram família, que ansiavam em voltar para casa, talvez sem um membro, ou sem a menor sensibilidade. Tudo o que cabia nesses corações era o desejo de que a guerra acabaria e eles se casariam com a moça que deixaram no porto, abraçariam as mães com uma lágrima no rosto e poderiam finalmente descansar.

Ou, ao menos, era o que Thomas contava para ela através das cartas.

Thomas Crowley era o jovem mais cheio de vida que Letha conhecia. E não por crescerem juntos e ela conhecer ele melhor que outros garotos. Mas porque o irmão sempre estava sorrindo, com as maçãs do rosto coradas e os cabelos castanhos claro bagunçados. Ele se fazia presente em qualquer baile da alta sociedade, se preocupava para que todos ficassem felizes e era um dos homens mais lindos que Letha já vira na vida, mesmo sua experiência sendo curta.

E mesmo depois que a carta o convocando para a guerra chegara na casa dos Crowleys convocando Thomas para prestar seus serviços a coroa, ele abriu um sorriso para a irmã mais nova, que tinha o coração aflito, e segurou sua mão, zombando dela:

— Ora, Letha, e qual o problema? Eu vou voltar. Você sabe que vou. Talvez com um tapa olho, mas isso me deixaria mais bonito.

Na hora ela só conseguiu dar um tapinha no ombro dele e revirar os olhos. Agora, naquele momento, queria abraçar o irmão o mais forte que pudesse e chorar na camisa de linho dele. Podia ouvir a risada dele agora. Como você é bobinha, Letha. Eu falei que voltaria.

Quando a garota sentiu o vento indicar para onde deveria olhar naquele meio de corpos, os olhos já queimavam e ela teve a impressão de uma lágrima escapar. Engolindo onó em sua garganta, ela cruzou os dedos firmes e continuou sua oração até encontrar o rosto que tanto queria encontrar.

Thommy!

Ela queria ter dito, mas o nome doce do irmão não saiu e Letha correu até ele, se jogando ao seu lado no chão. Thomas estava com o uniforme sujo de lama e sangue dos pés a cabeça. Uma das mãos repousava com a arma em cima, enquanto a outra segurava algo em sua perna, que já não era mais da cor normal e tinha um vermelho escarlate forte. Sangue fresco.

— Thommy! Thommy! — Letha tentava segurar as lágrimas e colocou a cabeça do irmão no colo, passando os dedos gélidos e trêmulos no rosto do mais velho. — Eu estou aqui, querido. Está tudo bem.

A garota segurou a mão dele que estava de encontro a perna e viu outro membro dele coberto de sangue.

— Um tiro. — A voz era de Thomas e vinha fraca e falha. — Papai disse que todos bons soldados ganham tiros. Acho que agora ele vai se orgulhar de mim. — Ele tentou rir, mas suas feições se contraíram de dor e Letha apertou sua mão.

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⏰ Última atualização: Apr 10, 2021 ⏰

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