Talia

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Dês da última vez que ela foi embora, cujo já faz 1 ou 2 meses, uma parte minha também se foi, e eu juro, juro que tento a esquecer, mas é complicado, sempre que olho na estante o seu rosto está lá, sempre que ponho meus fones, ela está lá nas minhas músicas preferidas, e até nas letras das que nunca ouvi antes, parece que sempre ouço alguém bater na minha porta, da mesma forma que ela batia, fico esperando sempre ela no meu andar.
E eu tento superar com uma garrafa de licor, as vezes um simples vinho barato, qualquer coisa que me entorpeça, só pra ver se esqueço, mas nunca funciona, pois começo a lembrar quando ficávamos bêbadas na beirada da minha cama, lembro dela dançando da sua maneira desengonçada na minha frente, me fazendo rir, e ficar louca ao mesmo tempo, parecia perfeito, mas só era quando estávamos nos divertindo, e era isso que ela queria apenas, apenas um romance divertido sem muito compromisso, e eu só queria viver o que nunca ninguém tinha me feito viver, eu a queria por inteiro, mas ela só queria uma metade de mim.
Naquela noite eu bebi mais quatro drinks, misturei tudo que podia e que tinha em casa, pois não aguentava pensar que ela não iria voltar, e estava tão embriagada, que quando cai na minha cama, parece que senti seu cheiro entre meus lençóis, senti o gosto do seu batom de cereja, senti ela do meu lado, e quando estava cansada, quase pegando no sono, ouvia a sua voz, e ela batendo na minha porta, com certeza era uma ilusão que a bebida me ocasionou, mas era tão real que eu fui conferir minha porta.

Parecia uma ilusão, parecia que estava só sonhando, mas não era, ela estava lá com sua maquiagem levemente borrada, entrando cambaleando na minha casa sem ao menos eu permitir que ela adrentace, mas eu não iria negar, nunca, nunca mesmo. Apenas fechei minha porta e olhei para o lado, ela estava lá, confusa e silenciosa, eu me apresentava no mesmo estado, até que senti como se fossemos ímãs, um negativo, outro positivo, nossos corpos aos poucos se aproximavam cada vez mais, quando me dei conta nossos lábios já estavam grudados, nossas línguas se entrelaçando, como se fosse uma dança compassada, com movimentos já planejados, aos poucos sentadas no sofá e eu queria no mínimo tentar ter algum diálogo, mas nossos corpos continuavam unidos, além que no estado que estávamos, seria impossível tentar falar uma palavra que não ficasse embolada, e pra conferir que ela não iria embora de manhã, eu rapidamente a soltei, conferi que tranquei minha porta peguei minhas chaves, e cometi uma verdadeira loucura quando a joguei pela janela estando no 6° andar, nenhuma de nós ligou pra o que tinha acabado de acontecer, só voltamos a ser atraídas, andando cambaleando em direção ao meu quarto, sentido seu batom de cereja, vendo suas dancinhas estranhas enquanto se despia, enquanto me despia, eu vi seu corpo de verdade na minha cama naquele momento, e eu achava que era algo que não voltaria a ver novamente.
De manhã ela ainda estava lá, dormindo como um anjo, e quando acordasse poderíamos tentar pela milésima vez tentar resolver tudo. Enquanto ela não acordava, tomei um banho, e fiz café do jeito que ela gostava bem forte, assim como seu temperamento, e fiz chá pra mim, pois não estava muito bem naquela manhã, mas isso não vem ao caso, o que importava naquela manhã era apenas nunca mais deixar ela ir. Quando me virei pra pegar o açúcar me deparo com ela usando meu moletom preferido, e apenas isso, me fez lembrar da nossa primeira vez juntas, quando ela ainda tinha 17, quando deu conta que não estava em casa entrou em desespero pois sua mãe iria lhe matar, tínhamos acabado de sair de um aniversário, e eu a levei direto pra minha casa ao invés de levar ela pra sua casa, ela apenas vestiu aquele moletom, um short jeans e foi pra cozinha desesperada para me pedir pra a levar logo pra casa, mas eu tinha cuidado de tudo antes, mandando mensagem pra mãe dela (cujo já me conhecia a alguns anos, e confiava em mim) falando que iria levar ela pra minha casa já que era mais perto do local da festa, lembro de naquele dia só tampar a boca dela que não ficava por um milésimo de segundo quieta, a puxar firme em direção a minha cintura, e fazer ela esquecer a bronca (que não iria acontecer) de sua mãe. Mas ao invés de nessa vez ficar falando desesperadamente, ela apenas estava silenciosa me fitando, parada na porta, e eu começando a adoçar meu chá:
-Ei, senta aí! Fiz café- continuava apenas olhando pra minha xícara
-Como você vai destrancar aquela porta? Foi um erro eu ter vindo aqui de madrugada, mas achava que nem iria me atender.
- Poderia ser alguma emergência, ainda mais aquela hora- Não queria admitir que estava pensando nela
- Realmente era, eu estava bêbada e carente, mas poderia ter ido pra qualquer lugar que seria melhor
- Seria mesmo? Admite logo que estava com saudade de mim!
- Para com essas brincadeirinhas bobas, não tenho mais 17 pra me apaixonar nesse seu jeitinho convencido.
- Não sou convencida, eu só quero dizer...- Fui lentamente em sua direção-... Que quem estava com saudade, era eu - A abracei, e tentei a beijar, mas ela recuou.
- Nicole! Para, eu não te amo mais, eu não sei o que estou fazendo aqui, com essa bosta de moletom, com suas roupas, depois de passar a noite contigo, eu só quero ir embora, eu só estava bêbada, esquece de tudo por favor!
- Eu fiz café do jeito que você gosta- disse em um tom empolgado e sorrindo.
- Quando você vai entender que eu só tô afim de ir embora daqui?
- Não lembra que eu joguei minhas chaves pela janela?
- Lembro, por isso que estou perguntando como e quando vou sair
- Só se a gente tentar pelo menos continuar amigas, você sabe que eu não consigo viver brigada contigo
- Cara, a gente já tentou, mas não funciona, a gente tem que se esquecer
- A gente já tentou isso também, e olha como estamos agora, independente do que a gente tenta, sempre voltamos a isso, tipo um loop
- Eu sei, eu sei - ela finalmente puxou a cadeira e sentou - Eu não sei mais o que a gente faz.
- A gente nunca tentou começar tudo do zero, sempre foi como pessoas que acabaram de terminar e voltaram.
- Como se fossemos apagar as lembranças num passe de mágica
- Mas as lembranças que são a parte legal, se não fossem por elas eu não teria vontade de te beijar ao te ver com esse moletom parada na minha porta, e tudo o que aconteceu só vai fortalecer nossa relação, Talia!
-Esse não é meu nome, em primeiro lugar, em segundo, para de me chamar assim, eu não sou personagem do seu livro, tá vendo, é por isso que eu não quero mais, por esse motivo a gente deu errado da primeira vez, e vai continuar dando, você quer que eu seja quem eu não sou, só pra transformar sua ficção em realidade, você sabe que eu não gosto e continua, cara, sempre que você me chama de Talia, eu lembro de tudo que odeio em você, a forma que parece que não aceita quem eu sou, todas as vezes que me puxou pelo braço sem motivos, fingindo ser o par romântico e ciumento da Talia, toda vez que me fez ser só uma cena de pornô e nada mais, eu não sou uma personagem, entendeu, não tô' aqui pra fazer você ir pra seu mundinho dos livros românticos, eu sou uma pessoa, você é uma pessoa, beleza?

Eu apenas respirei fundo, e pensei sobre tudo que ela me disse, e era verdade, eu só queria um romance de livro, onde tudo era perfeito, mas isso fez com que o meu se tornasse imperfeito, e acabasse, várias e várias vezes, eu achava Talita perfeita, assim como também achava Talia incrivel, o problema é que Talita não enxergava que eu só via as boas semelhanças entre as duas. Ok, no início do relacionamento eu era infantil, e queria modelar Talita pra ser uma Talia na vida real, se tornou até um relacionamento abusivo, mas aos poucos eu cai em mim, e até hoje estou caindo, é difícil mudar do dia pra noite, ou de uma semana pra outra, mas eu juro que o quanto eu podia evoluir, eu tentei, e Talia agora era só um apelido que virou costume
- Tá, espera um momento - Sai correndo em direção ao meu quarto, e peguei na minha estante o livro, voltando direto pra cozinha- Votei!
- Qual motivo fez você trazer o livro pra cá?
-Esse! - Peguei o livro, meu isqueiro, e segui na direção da pia pra começar a queimar-lo.
- Não é mais fácil doar pra alguém?
- Doando não é tão divertido e simbólico.

Chegou o momento onde só haviam cinzas, e finalmente, senti que Talia tinha se desprendido de Talita, e Talita tinha se desprendido de Talia, provavelmente ela sentiu o mesmo.

- E agora, depois de eu ter queimado meu livro preferido, você volta comigo, não, não calma espera de novo!- Sai correndo novamente em direção ao meu quarto, e peguei nossas alianças de namoro que ela tinha jogado na minha cara na penúltima vez que terminamos, eu as guardei numa caixinha, com todas nossas fotos reveladas, textos, cartinhas, ingressos de shows e eventos que fomos juntas- Votei, e agora você deve fechar seus olhos, e só abrir quando eu falar que pode, só virá um pouquinho aí na cadeira- eu cuidadosamente me ajoelhei e peguei a aliança - Pode abrir!
- Ah eu não acredito que você está fazendo isso - ela sorriu e revirou seus olhos.
- Estou sim. Pois bem, Talita Guimarães de Oliveira, você aceita, Voltar a ser minha queridíssima namorada?
- Ah, meu Deus, não sei se deveria,eu não quero me magoar de novo, eu não quero te magoar, eu não quero mais beber tanto, pra ver se te esqueço, e repetir todas as vezes novamente.
- Por favor, eu já tô de joelhos, não só pra pedir sua mão, como pra implorar que você aceite.
- Acho que essa é minha melhor opção, pois bem, eu aceito- Eu coloquei a aliança em seu dedo, e levantei, e sentei em seu colo a Beijando, quase derrubando toda a mesa.
Depois de um longo, e molhado beijo veio a questão:

-Ok, eu consegui o que queria, mas e minhas chaves? Tenho que trabalhar amanhã
-Amor, amanhã é Domigo!
-Achava que amanhã era segunda, então tá ok, vamos continuar sem chave até amanhã, você trancadissima aqui comigo- sorri entre selinhos.

Fim (talvez)

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⏰ Última atualização: Jan 14, 2020 ⏰

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