Parte 3

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Ela tinha dobrado a colher dele,tinha-o trantornado completamente e agora ia embora para sempre.

Que havia de fazer?Talvéz não fizesse nada se ela não tivesse olhado uma última vez para ele antes de sair.Um sorriso leve,enigmático,e sobretudo um olhar arrasador que o atingiu em cheio,como um raio.Era como se ela já soubesse tudo o que ele sentia e o desafiasse a continuar.

O Joel contorceu-se na cadeira completamente agitado.Aquilo não podia ficar assim,não senhor.Sem saber bem porquê,estava a levantar-se e a apanhar a mochila.Olhou para a saída dos lavabos para controlar a Marta e depois saiu devagarinho,como quem não quer a coisa.A tempo de ver a rapariga mais adiante,a caminhar vagarosamente ao lado da nulher elegante vestida de negro.

-Ei!-Chamoi o empregado de braços no ar.-Isto não é para pagar?

O Joel voltou a pedir desculpa e veio pagar a conta.Nunca tinha feito uma figura daquelas num café e sentia que toda a gente olhava para ele.A Marta também podia aparecer a todo momentoas ele só pensava na rapariga dos olhos lindos e saiu antes que o empregado lhe estendesse a mão com o troco.Na rua,olhou em todas as direcções e,mas não viu a rapariga e ficou angustiado.

E agora?Tinha-a perdido de vista,provavelmente para sempre,pensou ele,e essa ideia pareceu-lhe insuportável.Veio até ao meio da rua para poder ver mais longe e ia sendo atrepelado.O motorista pôs a cabeça de fora para o insultar,mas ele nem deu por nada.Veio para o passeio em frente e varreu toda a rua com o olhar,mas não havia rasto da menina nem da mulher.

E,no entanto,elas não tiveram tempo para se afastarem assim tão depressa,pensou o Joel.E das duas uma:ou tinham entrado rapidamente num carro,num táxi,por exemplo,ou noutro sítio qualquer.E também podiam morar ali perto.Fosse como tosse,ele sentia que a rapariga continuava por ali.

Voltou a atravessar a rua e a mochila pareceu-lhe mais pesada do que nunca.

Que dia,Joel!Que noite!Que olhos!Naqueles poucos minutos tinha vivido mais sensações do que no último ano.Já tinha sentido frio,calor,medo,vergonha,agonia,deslumbramento,alegria.E agora tinha acabado tudo.

Decidiu voltar ao café e continuar a comversa com a Marta.Mas essa ideia também lhe parecia insuportável.Até porque agora já não tinha dúvidas.O que sentia pela Marta não era amor.Tinha aprendido isso nos últimos minutos.

Foi andando devagar,muito tristemente,já que lhe custava sair dali.Mas queria evitar a Marta,já não tinha pachorra para ela.Havia de voltar ali,mais tarde,à procura daqueles olhos,mesmo sabendo que a rapariga podia nunca mais passar naquela rua.Ou passar quando ele lá não estivesse.Quando muito,arriscava-se a ver a Marta,que morava por cima do malfadado café.

Que vida!Já não lhe apetecia ir para o Algarve acampar com o Jorge e a Joana.Aliás,tinha perdido a vontade de fazer fosse o que fosse.

Um vagabundo que estava à porta do Museu da Tecnologia pediu-lhe uma esmola e depois um cigarro,mas ele não ouviu.

-Ei!-Gritou o homem,ofendido.

O Joel parou e levantou os olhos do chão e então viu,no interio do edifício,a rapariga dos olhos lindos.Ia a subir a escadaria de pedra do edifício com a mulher ao lado e olhou para trás naquele momento e também o viu.Sorriu outra vez para ele e o coração do Joel soltou um grito selvagem.

-Tens aí um cigarrito,ó chavalo?-voltou o mendigo.

Mas agora é que ele não ouvia nada.Recuou dois passos e olhou para fachada do edifício,onde havia um grande cartaz de pano.Lá estava escrito:"A Conquista do Espaço".Era o anúncio de uma exposição.

-A conquista do espaço...-Murmurou ele.-Nada mais apropriado...

Pelos teus lindos olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora