Capítulo um

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Deitado sobre o corpo frio e sem vida, derramava lágrimas que não cessarão jamais. Mamãe estava morta, o câncer a levara de mim, meu coração estava em pedaços. A partir daquele dia, me tornei um homem sozinho no mundo. Apesar de não saber se poderia me considerar um homem, havia acabado de atingir a maioridade, mas as responsabilidades da vida me obrigaram a crescer.

Sarah, minha mãe, me criou sozinha desde quando tinha cinco anos de idade, meu pai nos abandonou e nunca mais deu notícias, desde então, ela vinha batalhando para nos sustentar e me dar a melhor formação. Há dois anos, foi diagnosticada com câncer no estômago, lutou com bravura e coragem, realizou diversos tratamentos e tomou remédios muito fortes em busca da cura. Havia dias em que ela parecia não aguentar mais viver, porém seu sorriso permanecia intacto. Infelizmente, a doença foi mais forte do que ela, entregando-se, ela descansou.

— Senhor, precisamos levar o corpo para autópsia. — a enfermeira parada ao lado da maca me olhava com pena. Me levantei e com o rosto ainda lavado pelas lágrimas, sai do quarto deixando os médicos e legistas levarem o corpo da minha mãe para o necrotério.

O hospital, referência no tratamento de câncer, cuidava de todo o procedimento do velório e sepultamento dos pacientes quando estes vinham a falecer. Não precisei fazer nada, eles cuidaram de tudo. Passei pelos corredores até chegar na lanchonete, entrei no local para comer alguma coisa, fazia algumas horas que não me alimentava direito, estava começando a me sentir fraco.

Caminhei até o balcão para fazer meu pedido, uma garçonete me atendeu com um sorriso simpático nos lábios.

— Bom dia, o que o senhor deseja? — olhei atento para as opções disponíveis no balcão.

— Vou querer uma salada de frutas e um suco de laranja. — forcei um sorriso para a moça.

— Aqui está sua salada de frutas, o suco ficará pronto em instantes, pode aguardar em um dos lugares que eu levarei até o senhor. — ela indicou uma das mesas disponíveis na lanchonete.

Peguei a salada de frutas, agradeci e me dirigi para um dos lugares, escolhi uma mesa próxima ao balcão, em poucos minutos a garçonete trouxe meu suco e o colocou em cima da mesa.

— Aqui está seu suco, bom apetite. — ainda sorridente, ela se virou para voltar ao balcão.

— Com licença. — ela se virou para mim, me olhou com certo pavor, parecia temer ter errado em algo. Apertei os olhos para enxergar seu nome no pequeno crachá grudado em sua roupa. — Gabriela... muito obrigado! — ela soltou o ar dos pulmões e sorriu aliviada.

— Disponha. — novamente, ela se virou e retornou para trás do balcão.

Comi a salada de frutas, que estava deliciosa, bebi todo o suco, recolhi a sujeira e levei até o balcão, entregando tudo nas mãos de Gabriela, que pegou os descartáveis e depositou em um lixo, em seguida, caminhou até o caixa para receber o pagamento.

— Deu R$ 12,00, senhor. — tirei uma nota de R$ 20,00 da carteira, entreguei a moça e aguardei que ela me devolvesse o troco. — Aqui, seus R$ 8,00 de troco, muito obrigada pela preferência, não vou desejar que volte sempre, afinal o ambiente em que estamos não é o melhor lugar para ficar voltando sempre... — ela sorriu, nervosa. — Desculpa senhor. — ela ficou sem graça, seu rosto ficou corado pela vergonha, a encarei com uma expressão serena, aquela jovem parecia divertida e leve, mas eu não estava no clima para ser simpático e brincalhão. Dei um sorriso de canto, acenei com a cabeça e agradeci.

— Até mais. — me virei para sair da lanchonete.

***

Seis meses depois...

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⏰ Última atualização: Jun 15, 2020 ⏰

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