(𝖒𝖚𝖘𝖆)
figura da mitologia grega, fonte de inspiração nas artes ou ciência
Zurique, SuíçaSeus dedos movimentavam-se gentilmente sobre as teclas alabastrinas do instrumento musical. Ora sentia-se semelhante a uma deusa grega no apogeu de uma batalha sanguinária, totalmente enraivecida; ora contente demais, como se acabasse de ganhar na loteria. Seu humor variava conforme exigia a composição. As notas musicais lúgubres eram acompanhadas por uma expressão facial igualmente melancólica, e, quando o gran finale encontrava-se próximo, não pôde evitar sorrir em inegável satisfação.
Leona se levantou, aproximou-se da enorme plateia que preenchia o Schauspielhaus Zürich e, diante dela, por fim, curvou-se em sinal de profundo agradecimento. Os aplausos fortes e os olhares admirados - de vez em quando, chorões - provenientes do público aqueciam o coração da jovem pianista.
Uma vez Wassily Kandinsky dissera que "é belo o que procede de uma necessidade interior da alma". Para Theron, sua existência era diretamente conectada as cordas de um piano: carecia dedilhar todas as teclas para que pudesse viver e somente descansaria quando não houvesse mais ardor dentro de si.
Sua paixão era semelhante à chuva: Theron adorava dormir ao som das gotículas estatelando-se no chão, embora soubesse que elas poderiam destruir cidades inteiras.
Leona adorava sentir o cheiro da grama recém-molhada pela manhã ao tomar um achocolatado quentinho, com suas meias de coelhinhos fofos estampando seus pés. Gostava ainda mais de inventar desculpas esfarrapadas para poder ficar em casa o dia inteiro tocando piano, sozinha. Entretanto, as dores que sentia em ambas as mãos depois de tamanho esforço eram angustiantes. Dedicara sua infância e juventude ao nobre instrumento e, hoje, embora gozasse de fama e dinheiro, havia abdicado do essencial: a si mesma.
Ah, sim! Theron tinha Michelangelo, seu melhor amigo, confidente, família e único proprietário de todo o seu coração.
Mr. Michael-Angel era um furão-doméstico demasiadamente fofo e malditamente mimado. O animal de pelo amarronzado era seu grande parceiro de viagens; levara-o até ao Japão uma vez. Agora, pela quinta vez na Suíça, o amiguinho a esperava confortavelmente dentro de sua gaiola na suíte presidencial do luxuoso hotel, enquanto Leo ainda se encontrava ansiosa na frente do antigo teatro, a espera de um táxi.
Suas bochechas róseas congelavam devido à baixa temperatura; a ponta de seu nariz estava avermelhada e seus finos lábios, levemente solferinos. O sofisticado vestido longo que trajava arrastava-se pelo chão conforme a jovem andava impacientemente de um lado para o outro. Do outro para o lado.
- E-eu não estou fazendo nada demais! - gritou. - Você p-pode tirar suas mãos nojentas de cima de mim?! - imersa em seus próprios pensamentos, Leona sequer notara a cena protagonizada por um turista e três oficiais suíços a poucos metros de si. - Hör auf!
- Zigaretten nicht erlaubt! - advertiu impaciente um dos polícias. Cigarros não são permitidos! O homem que trajava pesadas roupas escuras parecia estar alheio a todo o ocorrido, visto que ainda possuía o cigarro preso entre os lábios.
A julgar pelo forte sotaque do rapaz, Leona constatou tratar-se de um inglês obstinado que não entendia bulhufas de alemão. Deveria ajudá-lo? Theron já estava esgotada mentalmente para arrumar uma encrenca com a justiça suíça; seus braços doíam e ela contava os segundos para que o táxi chegasse. Estava com saudades de Michael-Angel e tinha tantas coisas incríveis para compartilhar com o amiguinho. Merda! Quando seus olhares se encontraram, Leo soube que não poderia mais fingir que não estava ali.
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MUSA • styles
RomanceAs pupilas esmeralda cintilante escondiam uma fusão horripilante de analgésicos, antidepressivos e ansiolíticos. Seus lábios finos sopravam as mais belas palavras. Dispunha de traços tão delicados quanto uma flor ao desabrochar. Aprisionado em sua p...