Quarta feira, 5 de dezembro de 2018
- Hey, Hirai! – A garota corria a passos rápidos; os mais longínquos que conseguia dar com as pernas curtas até a melhor amiga, que há pouco avistara mexendo em seu armário no grande e largo corredor da faculdade. Esta, que por sua vez manteve a cabeça baixa, deixando um suspiro esvair de seus lábios ao ouvir a voz animada da Kim atrás de si. Ergueu os ombros e colocou no rosto o melhor sorriso que conseguia, mas sabia que não poderia enganar sua soulmate.
- Hey, Hyunnie. – Respondeu num tom abaixo do que era de costume, mas com o sorriso ladino rotineiro ainda presente em seus lábios. Bagunçou levemente os cabelos morenos da menor, recebendo um gemido em reclamação, o que arrancou uma risada anasalada de si.
- Deus, Momo, por que você gosta tanto de bagunçar meu cabelo? – Continuou, ajeitando os fios grossos e negros para o lado direito com a destra enquanto segurava o pulso da amiga com a outra mão. Ao erguer o olhar para encarar a melhor amiga de anos, Dahyun soube que algo estava errado.
As grandes e escuras bolsas embaixo dos olhos não escondiam uma – ou mais – noites mal dormidas, o leve inchaço na lateral de suas têmporas indicava um passado e iminente choro, que provavelmente tinha se dado na noite passada. A coloração amarelada, talvez anêmica de sua pele era resultado de uma péssima alimentação, se esta existisse. Ela estava deplorável.
Assustada pela aparência insalubre da amiga, a Kim logo soltou seu pulso, dando um passo atrás para olhá-la por inteiro, ainda com os olhos arregalados. A japonesa mordeu o interior da bochecha, claramente nervosa com a reação da outra. Agora não tinha mais jeito, não podia mais esconder a fossa em que se encontrava.
"Não." – Pensou, balançando a cabeça por alguns instantes como se o ato fosse colocar seus pensamentos no lugar. – "A Hyun já tem problemas demais, não tem que se preocupar comigo." - Concluiu, voltando seu olhar para que encarasse as orbes castanhas e ainda surpresas da coreana.
- Jesus, Momo, você está... Péssima. – Sussurrou, chocada pela indiferença em que Hirai estava lidando com a situação. Tinha consciência de seu estado, mas não podia fazer nada, afinal.
Além de fingir que estava tudo bem.
- Ah, não diga isso, Hyun. – Brincou, empurrando o ombro da amiga para trás, que a olhou de lado, estranhando. -É sério, Dubu, é apenas falta de inspiração pra minhas telas, passei a noite no ateliê mas não consegui pintar nada. Estresse de artista, você sabe como é, certeza que já passou por isso também quando não conseguia escrever. – Inventou a primeira desculpa que veio à sua mente, esperando que fosse convincente o suficiente, mas não tinha certeza que seria. Na verdade, não tinha certeza de mais nada àquela altura.
- Se você diz... – A mais nova murmurou, brincando com o peso do próprio corpo sobre os pés. Ainda achava que algo estava muito errado, mas decidiu não prolongar o assunto. Momo era bem grandinha para se cuidar sozinha. – Mas não estou gostando dessa sua cara, Moguri, o que acha de irmos tomar sorvete? – Ofereceu com um sorriso, metendo as mãos pequenas por dentro dos bolsos do sobretudo de couro numa tentativa de esquentá-las perante ao frio cortante de Seul naquela época do ano. Em resposta, a maior apenas deu um risinho, tomando um dos braços da menor nos seus.
- Eu acho uma ótima ideia, mesmo que esteja frio pra cacete, um sorvete nunca cai mal. – Sorriu, pegando uma das mãos da garota e colocando-a dentro do bolso de seu próprio casaco agora, entrelaçando os dedos curtinhos e gélidos dela aos seus.
Enquanto traçavam o relativamente curto trajeto até a sorveteria, Momo ainda ponderava consigo mesma se deveria dizer à Dahyun sobre tudo o que acontecera nos últimos dias. Sabia que ela ouviria e ajudaria da maneira que pudesse, até porque, era sua melhor amiga. Mas após pensar bastante, resolveu manter o silêncio. Ela não precisava ouvir os desabafos desesperados e, de certa forma, sem fundamentos da japonesa; tinha mais com o que se preocupar. A Kim notou a estranheza e a distração da amiga, que andava mais pensativa do que o de costume, mas também resolveu se calar. Se fosse algo importante, ela com certeza contaria, era pra isso que serviam as confidentes. Estavam tão absortas em seus próprios pensamentos e preocupações que nem perceberam que haviam chegado ao estabelecimento de destino, o caminho de fato havia sido bem mais rápido naquele dia.
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Gray - Dahmo
RandomOnde Momo é insegura e toda vez que se sente insuficiente, uma mecha cinza aparece dentre os cabelos de Dahyun, sua soulmate.