Querida Matilda,Saiba que todos os momentos que passamos lado a lado foram de extrema importância pra mim, e que jamais esquecerei de tudo que você representou na minha banal existência, muito obrigada por tudo e descanse em paz.
Ass: Tweek
Ao terminar de escrever sua trágica carta, a qual pretendia ler no funeral de Matilda, Tweek pôs-se a chorar e a lamentar sua perda, sentado em frente a enorme bancada da cozinha, as mãos tremendo (mais que o normal) e o rosto coberto por lágrimas salgadas. Estava tão imerso em seus sombrios pensamentos que mal pôde notar a silenciosa chegada de seu pai, que havia adentrado a cozinha naquele momento.-Por que você está chorando assim, meu filho?!- Foram as palavras do homem ao ver o garoto loiro debruçado sobre a bancada, encolhido, enquanto chorava e tremia.Já conhecia seu filho o suficiente para perceber que o mesmo deveria estar tendo uma de suas crises. Correu até ele.- O que houve?! O que aconteceu?!
-PAI! - Tweek gritou, após o toque das mãos do mais velho em suas costas, virando abruptamente na direção do mesmo com um olhar espantado.- A MATILDA!
-E quem é essa, meu filho? - Tentou perguntar o homem, espantado. Já estava acostumado com os surtos do garoto, e tinha noção de que era difícil manter um diálogo com o mesmo, mas desta vez seu filho parecia realmente um maluco descabelado e seco de tanto chorar.
-COMO ASSIM, PAI? A MATILDA!! - Tentava dizer,agarrado firmemente ao tecido da camiseta do pai, chorando descontroladamente. - ELA!! - Apontou em direção ao lado oposto da cozinha, onde, em cima de uma bancada próxima ao fogão, encontrava-se uma enorme cafeteira vermelha.
Seu pai direcionou o olhar para onde o garoto apontava. Depois voltou a encarar o filho, um olhar perdido. Olhou de novo para a cafeteira e ainda não conseguia entender.
-A cafeteira? Você está chorando por causa de uma cafeteira? - A paciência do homem começava a se esgotar. - Santo Cristo, você deu até nome pra ela?!
Tweek estava prestes a ter um surto.
Aquela cafeteira havia se tornado a maior companhia do garoto loiro nos últimos anos. Ele sempre havia tido uma personalidade um pouco...complicada. Sabia disso. Desde quando ainda estava na escola era alvo de piadas e xingamentos pelo seu comportamento estranho. Mas ele não tinha culpa, sentia que sua vida inteira havia sido assim, aquilo era só seu jeito de ser (mesmo que estranho e paranóico).
A única coisa que o havia ajudado a lidar com seus problemas era o café. Seus pais não sabiam mais o que fazer com as crises frequentes de pânico do garoto, e acharam que uma cafeteira iria resolver o problema. Um pouco paradoxal, se levarmos em conta que o garoto havia sido sempre muito ansioso e nervoso - mas, como o próprio Tweek já era contraditório por si próprio, o café apenas acabou se tornando uma grande amiga para ele (e com ela,a cafeteira).
Tweek sempre teve poucos amigos, mas nunca ligou. Porém, quando terminou o ensino médio, começou a se sentir mais sozinho, já que agora não tinha mais com quem conversar todos os dias, e eram raras as vezes que saía de casa. E foi neste período que o garoto descobriu sua alma gêmea: Matilda, o presente que seu pai lhe deu de aniversário de 19 anos.
Aquele mês os dois fariam três anos juntos, se não fosse a tragédia de a pobre Matilda simplesmente resolver quebrar. Tweek havia finalmente passado em uma faculdade e tudo ia lindo e perfeito: porém, o desastre com a sua cafeteira estragou todos os planos. E agora, ele estava perdido.Sentia que o universo estava contra ele e que aquilo era o fim do mundo.
Tweek teve um surto.
-COMO OUSA FALAR ASSIM DA MATILDA? NÃO É SÓ UMA CAFETEIRA! ELA É TUDO PRA MIM! - O loiro praticamente berrava.
-Se acalme, filho! Não precisa gritar! - Tentava dizer o homem, controlando-se ao máximo para não sair aos berros também.
-AGORA FICAREI SEM CAFÉ PRA SEMPRE! EU VOU MORRER,PAI! EU VOU MORRER!- Dizia dramaticamente, enquanto puxava os próprios fios dourados.
-Claro que não, Tweek! Você ainda pode fazer café! - Seu pai o consolava, passando a mão nas costas do filho, este que estava quase escorregando da cadeira. - Porque não tenta fazer sem a cafeteira? É uma ótimo forma de você passar o tempo também. Aprenda a fazer café, e não se preocupe com a Matilda: eu vou levá-la para o concerto, ela voltará pra você. - Em um mundo normal o mais sensato seria guardar dinheiro para uma nova cafeteira, mas o homem sabia que Tweek não abandonaria tão facilmente assim a ‘’Matilda’’. O garoto agora só fungava, se encolhendo cada vez mais. Agora se acalmava, mas ainda assim esboçava um olhar tristonho e murcho.
-Promete, pai? - Perguntou,ainda soluçando.
-Prometo.
Na manhã seguinte, Tweek acordou cedo. Estava determinado. Nada o iria fazer parar. Já havia assistido aos tutoriais do YouTube e estava mais preparado do que nunca para fazer seu primeiro café. Seus pais já haviam saído de casa, então ele teria a cozinha só para ele.
O garoto já possuía um histórico desastroso relacionado a culinária, mas ainda assim acreditava que, daquela vez, seria capaz de fazer algo útil. E então pôs a mão na massa:
Ferveu a água. Suas mãos tremiam um pouco, mas ele já estava acostumado.
Pegou a garrafa térmica. Faziam anos que não encostava suas mãos na boa e velha garrafa térmica.
Colocou o filtro. Colocou o pó. E, por fim, a água.
Esperou.
Esperou.
E coou.
E terminou o café.
Colocou na xícara. O cheiro era o mesmo que saía de Matilda, só que mais forte. Estava animado, suas mãos ainda tremiam um pouco mas ainda assim conseguia levar a xícara até a boca. Deu uma assopradinha e bebericou.
E quase deixou a xícara cair.
-QUE HORROR, MEU DEUS! - Foi o que conseguiu dizer depois de experimentar o pior café do mundo.- ONDE FOI QUE EU ERREI?!
Estava em completo pânico, se sentia um inútil que nem ao menos era capaz de fazer um café decente. Tudo bem, era sua primeira vez, erros eram possíveis, mas ainda assim, qualquer coisa era motivo de surto para o pobre Tweek.
Tentou pensar. O que ele faria, então? O seu café havia sido um fracasso. E se ele fosse até uma padaria pedir um café pronto de uma vez?Não, era muito longe,e não tinha dinheiro suficiente para ir todos os dias tomar café fora. Pensou mais um pouco. Talvez a vizinha pudesse o ajudar: ela era uma senhora, morava sozinha, dona Terezinha o nome. Idosos eram experientes em fazer café, assim pensava Tweek. Mas ele não se lembrava em qual casa a senhorinha morava...esquerda ou direita? Tinha que tomar cuidado para não ir à casa do vizinho errado, afinal também havia um garoto que o loiro achava bonito, e tinha certeza que ele era seu vizinho.
Foi em frente à sua casa para pensar melhor. A casa a direita parecia uma casa digna de uma senhora de respeito: muitas samambaias no quintal e gnomos de jardim. Com certeza era ali.
Logo avistou um poddle correndo pelo pequeno jardim, um poddle todo chique de lacinho no pescoço e tosado. Com certeza era ali.
E caminhou firmemente até lá. Chegou à porta e tocou a campainha. Já havia planejado o que diria a senhora: que estava em completo desespero pois seu café havia sido um fracasso e que apenas ela seria capaz de salvar sua vida antes que ele surtasse de vez e explodisse a casa. Era um bom plano.
Porém, sua confiança se esvaziou no segundo seguinte quando a porta foi aberta e quem estava na sua frente não era Terezinha, e sim um garoto alto de gorro azul, supostamente o mesmo garoto que Tweek achava bonito e o mesmo que ele tinha certeza ser seu vizinho.
Craig Tucker.
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♡ Amor expresso ♡ - Creek
FanfictionTweek é viciado em café,mas seus péssimos dons culinários o fazem depender de uma antiga cafeteira elétrica.Em uma bela manhã de domingo,sua cafeteira,Matilda,o abandona,e para sustentar seu vício o loiro decide bater na porta de seu vizinho Craig...