PARTE I

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    "We're only getting older, baby, and I've been thinking about it lately, does it ever drive you crazy just how fast the night changes?". A mulher respirou fundo para deixar que a melodia, uma de suas favoritas em toda a vida, adentrasse em seus poros e agisse como o calmante que sempre parecia ser. Bruna odiava voar. Veja bem, amava a sensação de estar distante da superfície, cortando os céus tal qual estrela cadente. Amava o avanço incrível que aquilo representava - fazia com que pensasse em seus avós, imigrando através dos mares durante meses. Mas também odiava, paradoxalmente, a sensação que lhe embrulhava o estômago sempre que estava dentro de um avião - ainda que a rotina como jornalista lhe colocasse sempre a cruzar o país. Apertando os fones de ouvido para que a música isolasse seus sentidos, não notou a outra que, um tanto sorridente, acenava para indicar que precisava tomar o lugar ao seu lado.

    — Oi! - a expressão no rosto da mulher era risonha, tornando pequeninos seus olhos castanhos e tão bonitos, e algo no modo como ria fazia Bru imaginar que provavelmente a deixara falando sozinha por alguns segundos constrangedores - Posso? - indicou a poltrona da janela, ao que a outra se levantou imediatamente.

    — Me desculpa... - Bruna sorriu, levantando-se enquanto tirava os fones a fim de servir a mulher com alguma dose de boa educação agora que já passara a vergonha de ignorá-la.

    — Imagina... - ela abanou as desculpas com um gesto gracioso - Hyo. - apresentou-se, alargando um sorriso. Havia alguma semelhança entre as duas, que ia além da estatura e dos cabelos castanhos que lhes alcançava o meio das costas. O modo como sorriam largo, dando uma chance à vida para que esta lhes desse uma boa surpresa em sua próxima curva, também eram parecidos.

    — Bruna. - a resposta veio com um sorriso aliviado. Aquilo também funcionava: ter alguém com quem conversar. Tanto quanto a música, era feito um calmante direto em suas veias... Não era frequente, contudo, visto que na maioria das vezes viajava sozinha e precisava dividir o espaço com estranhos.

    — Bruna, na verdade... - ela parou, antes de tomar o lugar que indicava sua passagem - Será que posso te pedir um favor? - segredou, o sorriso adquirindo um quê de constrangimento - Se importaria de trocar de lugar comigo?

    — De poltrona? - a outra questionou, recebendo um aceno em concordância - Sem problemas! - sorriu, pulando para o assento da janela, deixando vago o do corredor para que Hyo se ajeitasse.

    — Muito obrigada! - agradeceu, sentando-se no espaço apertadinho da classe econômica - Eu costumo enjoar, e aqui fica mais fácil de alcançar o banheiro... - explicou, com uma risadinha.

    — Eu também não sou tão fã de aviões, não se preocupe. - Bruna a tranquilizou, feliz por ter alguém com quem matar aqueles poucos minutos apreensivos antes da decolagem.

    — Ai... - Hyo suspirou antes de prometer, com um sorriso - Pelo menos seguramos a mão uma da outra.

    A conversa fluiu fácil, e não demorou até que soubessem o suficiente da vida uma da outra, para se surpreenderem com a afinidade tênue que se estabeleceu de pronto: em outra vida, talvez fossem melhores amigas. Hyo descobriu que Bruna era jornalista investigativa, tinha ascendência latina - o que ficava claro em seu gestual e sorrisos largos - e tinha um border collie chamado Ollie, que era sua família inteira. A outra, por sua vez, era formada em gastronomia e administrava com todo o coração um café charmoso que Bru prometera conhecer em breve, era a maior fã de baladas dos anos 80 que já pisou na Terra, e era recém-casada com um cara incrível. Seokmin.

    O nome dele surgiu tantas vezes na conversa, que Bru sentia quase como se já o conhecesse. Os dois haviam se conhecido durante uma viagem para a Tailândia, num roteiro quase cinematográfico: o buggy dela emperrou no meio do nada, e Seokmin apareceu com aquele sorriso tranquilo que fazia todas as dores do mundo desaparecerem, salvando-a do aperto e roubando seu coração. Passaram uma semana intensa juntos, apaixonaram-se tão rápido que seus corações poderiam doer, se não fosse uma feliz coincidência também Hollywoodiana: não apenas moravam na mesma cidade, mas residiam no mesmo bairro desde a infância.

OH MY GHOST - Lee SeokminOnde histórias criam vida. Descubra agora