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Meu nome é Weverton, tenho 20 anos e não tenho grandes coisas da minha vida para contar. Sou um jovem universitário em período de férias da faculdade, vindo de uma família classe C; Não temos dinheiro para viver muito bem, mas também não somos pobres a ponto de passar fome.
Mas não dá pra ficar parado, deitado, esperando a grana dos rolês dos fins de semana cair do céu né? Vamos a luta para ganhar uma graninha extra.
Foi então que o meu padrasto Antônio, numa conversa com minha mãe, teve a idéia de fazer balas trufadas para vender. Eu estava do meu quarto a ouvir toda a conversa e confesso que não me agradou nenhum pouco a idéia! Imagine: sair por aí oferecendo bala para as pessoas na rua, receber várias vezes a palavra não como resposta... Não sei se isso vai dar certo não. Crio coragem e resolvo ser franco com meu padrasto:

- Olha será se essa é uma boa idéia? Digo, a crise tá grande, as pessoas não estão afim de gastar dinheiro atoa...

- Não custa nada darmos um voto de confiança nesse projeto do Antônio né Weverton?

Nada mais digo, mas confesso a vocês que no fundo, mas no fundo do meu coração eu desejo que dê alguma coisa errada! Quando eu disse que queria ganhar um dinheiro extra pro rolê eu não cogitava essa idéia de vender docinho na rua.
Na segunda-feira acordo tarde [como de costume nas férias] e tudo estava pronto: as balas, o isopor, a polchette e até a monark do meu padrasto! Meu Deus, isso só pode ser um pesadelo...

- Tonzinho, [Minha mãe, de maneira carinhosa, insiste em me chamar assim desde os 7 anos] hoje depois do almoço você começa ok?

- Tudo bem mãe...

No horário marcado lá estava eu saindo de casa direto para o centro da cidade, com um sol quente pra chuchu! Um verdadeiro ensaio para o inferno.
Paro na igreja matriz, amarro a bicicleta e por um instante fico fitando aquela longa avenida cheia de pessoas e lojas e ao mesmo tempo fico perguntado a Deus onde foi que eu errei pra merecer isso; mas agora não dá mais pra voltar atrás, Let's Go!
De loja em loja, de cliente em cliente, entre uma venda e outra, entre sim's e não's vou perdendo a timidez, vou me desafiando a cada nova venda.
Quase no fim da avenida, numa das últimas lojas eu entro e vejo algo que simplesmente fizeram o sangue parar de correr pelo meu corpo: Uma obra de arte cheia de graça, até então desconhecida aos meus olhos, presentes em uma espécie de divindade grega de um pouco mais de um metro e sessenta e oito, olhos pretos como o ébano, o sorriso branco como as nuvens do céu ao amanhecer, seu corpo sutilmente definido se assanhando na camisa gola pollo azul levemente apertada ao corpo, cabelos lisos e negros com um penteado jovem e charmoso, brincos discretos nas orelhas e a barba muito bem desenhada.
O meu histórico de relacionamentos afetivos compõem um perfeito folhetim dramático para o horário das 9 na TV; como se já não bastasse o fato de não ser assumido para a minha família ainda por cima atraio relacionamentos tóxicos que sempre me deixam ferido, magoado e desgastado. Havia prometido a mim mesmo que neste novo ano que acabara de iniciar eu seria um verdadeiro don Juan! Usaria todos os garotos que estivessem a minha disposição sem um pingo de sentimento e consideração e sem me apegar. No entanto eu me encontrava ali: parado, admirando aquela criação divina feita com grafite 0,3. Num choque entre um estado de transe e realidade eu desperto com um grito de um dos atendentes da loja
- Ei cara! Cê tá bem mano?
- S-sim Sim! Estou... Errr.. gostaria de comprar um doce?
- Claro que sim! Sou viciado em doces, um verdadeiro doceiro kkk
Depois de lhe entregar o doce, receber o dinheiro saio me despedindo do pessoal prometendo voltar no dia seguinte; ele, com um sorriso convidativo e uma voz muito doce me falou:
- Venha mesmo viu cara! Seus doces são maravilhosos e eu quero mais!

- Aquilo ecoou pelo meu sistema nervoso me fazendo suar frio..

Saí de lá com o suspiro ofegante e a garganta seca! Meu Deus que vontade louca de voltar lá, de passar na porta da loja outra vez!!
Assim durante todos os dias eu me levantava, me arrumava por um motivo muito maior do que arrecadar dinheiro. Ver ele, conversar com ele já era suficiente pra tornar o meu dia inesquecível!
Durante dias e dias eu passava pela loja no mesmo horário e lá estava ele na porta; fomos nos aproximando! N'um certo dia ele aprendeu meu nome, outro dia acabamos conversando sobre algumas coisas bem aleatórias e assim sucessivamente até que nos tornamos bastante próximos! A ponto de todo dia ele saber a hora certa em que eu passaria pela avenida com os meus doces.
Aconteceu que eu fiquei muito doente! Fiquei internado com uma pneumonia "braba" e fiquei 10 dias sem ir as ruas vender doces, sem ver ele. Foi um verdadeiro tormento! Eu já estava impaciente, louco pra melhorar e voltar a trabalhar, voltar a ver ele; então, finalmente a melhora veio e eu pude voltar a rotina, logo quando cheguei na bendita avenida o avistei de longe! Minhas mãos suavam e comecei a tremer, fui chegando perto da loja e ele notou a minha presença e ficou me olhando fixamente até que eu me aproximasse; quando cheguei ele logou falou:

Doce (Conto) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora