Com a Banda COLORS!

Capítulo Vinte e Quatro - Famosos Também Levam Vidas Difíceis

Eu não era bonita quando comecei a cantar.

Minha voz era gloriosa, deslumbrava todos que a escutavam, mas era só verem minha aparência que minha música ficava ruim aos olhos dessas pessoas.

Mesmo assim, fui contratada. Acharam que maquiagem podia resolver o problema da feiúra e sabiam que não precisavam exatamente mostrar meu rosto nos videoclipes, mas eu ainda possuía muitos haters da minha aparência, me xingando em todas as redes sociais e até meus fãs concordavam.

Fiquei loira, tirei o aparelho dos dentes e gastei uma quantia impossível de loções para o rosto e espinhas. Fazia academia cinco horas todo dia e caminhava de manhã. A única característica que não precisei mudar foi o tom bronzeado natural de minha pele. Eu gastava o dia inteiro com minha aparência e com minha música e aos poucos parei de falar até com a minha família.

"É tudo pelos meus fãs" eu dizia.

Afinal, eram os únicos que prestavam atenção em mim. Nós éramos pobres e eu possuía quatros irmãos mais velhos, eles eram os xodós de minha mãe. Posso dizer que ela não gostou de gastar dinheiro comigo, com roupas novas e com um quarto separado dos meus irmãos. Resumindo, ela não gostou muito de ter uma filha.

Ela dizia que, como eu ganhava coisas novas demais, ela tinha que dar mais atenção aos meus irmãos e assim ela explicava sua ausência em minha vida. Meu pai era o único que me dava a mesma atenção que dava aos meus irmãos, fora ela que havia escolhido meu nome dizendo que era a primeira flor que ele cultivava naquela família, mas ele morreu tão cedo que eu só lembrava de seu sorriso ao me levantar no ar.

Então meus fãs eram tudo o que eu tinha.

Em pouco tempo, eu parecia uma modelo. Os fãs comentavam alegres o quão linda eu havia me tornado e eu fiquei extremamente feliz.Não durou muito, entretanto, pois os haters reapareceram. Diziam que eu havia me tornado tão superficial que até minha música já não emanava nenhum sentimento.

Se eu poderia apenas ignorá-los e seguir com a minha vida?

Eu dependia de audiência para fazer fama, eu tinha que ficar perfeita, então não, eu não podia ignorar, eu tinha que melhorar. Para emagrecer mais rápido, fiz dietas e também gastei boa parte da noite com aulas de meditação e de música, para conseguir melhorar minhas letras, pois pretendia cantar no "Music Awards" e queria que fosse algo surpreendente.

Um dia acordei no hospital, minha mãe chorando. O médico me disse que eu havia desmaiado de exaustão e que eu estava desnutrida. Minha mãe, morrendo de preocupação, dizia que nunca mais iria me deixar sozinha, e achei irônico o desespero dela. Será que todos os meus irmãos já saíram de casa? Ela provavelmente estava fazendo aquele drama todo porque queria mais que o dinheiro mensal que eu lhe dava, sempre se preocupava comigo quando precisava do meu cachê. Mas a premiação era no dia seguinte e eu não tinha tempo de pensar e me recuperar no hospital.

Levantei da cama, tirei as agulhas e disse que eu era ocupada e não tinha tempo a perder, precisava ensaiar minha música. Subornei o médico, peguei um taxi, dei dinheiro para a minha mãe e não dei chances para ela me impedir. Ela não veio falar comigo até o mês seguinte.

No dia da apresentação eu estava péssima, olhei minhas redes sociais e todo mundo já sabia que eu havia sido internada, diziam que se eu não sabia nem cuidar de mim mesma, não tinha chance de fazer músicas que os fãs gostassem, tinham se decepcionado comigo. Diziam que alguém como eu jamais subiria na vida.

E de tão negligenciada que fui a vida inteira eu simplesmente acreditei naquelas palavras, batucando na minha cabeça o dia inteiro.

Contratei a melhor maquiadora para consertar minhas olheiras, peguei um vestido vermelho ousado para mostrar meu novo corpo e fui a premiação com o melhor sorriso falso que consegui fazer. Minhas pernas estavam fracas e reclamavam para parar, e se eu fechasse meus olhos eu sabia que não iria acordar mais naquele dia, por ficar a noite inteira ensaiando.