31. Martina

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Eu segurava meu passaporte com as mãos trêmulas. A incerteza me rodeava. Estava tão cheia de dúvidas que meu coração se encontrava pesado. Logo eu que sempre fui um espírito leve. Logo eu que sempre fui cheia de certezas e convicções. Sentada embaixo da minha árvore preferida naquele parque, olho para cima e vejo a inscrição que fiz com um canivete no tronco aos dezesseis anos de idade. Sorrio. Mas dessa vez é um sorriso um tanto melancólico. Os nomes Martina e Vittorio estão escritos dentro de um coração. Mas é muito mais que isso. Vitto está gravado em meu coração e alma. Eu sou apaixonada por ele desde que me entendo por gente, mas nunca fui correspondida. Sempre fui como uma irmãzinha. Reviro os olhos ao me lembrar do apelido ridículo que ele me dera: Pipoca.

Volto a olhar meu passaporte. Um futuro lindo está à minha frente. Pelo menos foi isso que meu amigo Federico me fez acreditar e me convenceu a tirar o passaporte para irmos juntos à França, buscar meu sonho. E como sempre fui uma sonhadora incorrigével, aqui estou eu decidida a embarcar rumo ao desconhecido. Desde pequena meu sonho é ter uma doceria e Fed me disse que Paris é o local mais indicado para se estudar pra ser uma chef de renome. Eu sei que é e quero desesperadamente ir.

E eu me agarrei naquilo porque dentro de poucos dias nada mais me prenderia à Buenos Aires. Minha melhor amiga logo se casaria.

O homem que eu amava nem sequer me dava bola. Por mais que eu sempre tenha acreditado que Vitto me amaria, aquela certeza vinha definhando a cada dia. Principalmente com a chegada iminente da namorada. Ela viria para o casamento da Marcella e escutei que ele a pediria em casamento. Era melhor eu ir embora dali, afinal, é como diz o ditado: longe dos olhos, longe do coração. Eu nunca acreditei naquilo, mas eu precisava tentar.

 Eu nunca acreditei naquilo, mas eu precisava tentar

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Para meus pais eu sempre fui um estorvo. Nosso relacionamento sempre fora péssimo. Confesso que nunca entendi o porquê, apesar de sempre ter imaginado mil teorias a respeito. Não me lembro de nenhum momento de carinho. Não havia amor deles por mim e eu também não os amava, pois nunca me senti querida ou amada.

 Não havia amor deles por mim e eu também não os amava, pois nunca me senti querida ou amada

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Encosto minha cabeça no tronco daquela árvore que sempre fora minha mais fiel companheira. Ali eu chorei tantas vezes que nem sou mais capaz de contar. Mas ali também aconteceram coisas que ficarão pra sempre gravadas em minha mente. Sorrio ao lembrar do dia em que conheci o Vitto. Eu tinha seis anos e acabara de me mudar para La Boca. Eu sempre fui louca por doce e na minha ânsia de pegar o doce de leite que minha mãe comprara, derrubei o pote e pra não apanhar, corri como uma louca pra fora de casa. Corri demais até que encontrei uma praça arborizada. Escolhi uma árvore com um tronco bem grosso, mas acabei esbarrando num menino. Ele se virou com raiva, mas seus olhos amenizaram quando ele me viu com o rosto banhado em lágrimas.

Casamento por amor? - FINALIZADOOnde histórias criam vida. Descubra agora