Meus olhos aos poucos se abrem e piscam algumas vezes, enquanto ouço o som distante do dia acordando. O mundo do que vivo agora desliza entre meus cílios, ao passo que ainda me acostumo com a ideia de já estar acordada.
Tudo estava o mais completo e ensurdecedor silêncio, como um mistério guardado, pendendo nas sombras do todo canto e entre pincéis deixados pelos móveis sem intenção de parecerem organizados. O cômodo, um pouco escuro por culpa das cortinas pesadas e sussurrantes que nos deixavam ábditos da claridade do sol que pousava-se sobre as nuvens, mas as respeitavam, não atravessando-as.
Cocei meus olhos e percebi então, de que eu havia acordado naquela manhã, por pura vontade própria; sem o grito cortante do despertador. A liberdade doce me abraçou, suave como um aroma macio ao lembrar de que naquele dia, eu não teria aula. Me estiquei então, sorrindo sem motivos plausíveis, sentindo meus dedos dos pés agradecerem pelo feito e apontarem para a direção Sul de onde estávamos para que o frio, fosse mais para lá.
Me olho escrita pelas paredes, nos traços e pinceladas suaves de mim, pensando no que passa na cabeça de Scott todas as vezes em que ele acorda e sou eu quem mesmo sem estar aqui, desejo um bom-dia sem voz á ele.Então, giro meu pescoço e a vista dele adormecido ao meu lado, me fez sorrir até sentir minhas vistas molharem nos cantos das pálpebras, queimando e aliviando. Me viro para a direita, para que eu pudesse olha-lo melhor. Minha mão abaixo da minha bochecha, meus pés cobertos pelas meias quentinhas espalhados por debaixo das cobertas emboladas. Seus traços eram preciosos como estrelas que brilham em abismos, cintilam e explodem em fragmentos de um céu que só eu vejo.
Sua boca entreaberta, seu rosto com uma expressão sossegada e tantas, tantas marcas cicatrizadas. As pálpebras unidas, a barriga para cima e sua mão grande, descansada sobre seu estômago. Meus olhos deslizam como água nas calçadas sobre seu maxilar, pescoço, veias saltadas e seu peitoral. Pego-me a admira-lo, como um crítico a ver minuciosamente um quadro ou escultura de cerâmica á sua frente, esculpindo suas formas em lembranças eternas.Scott suspira, se mexendo, depois abre seus olhos, devagar como um bebê. Olhou primeiro para o teto, para algumas de mim, depois, para a eu de verdade.
— Bom dia — Sorriu fraco e doce, com as pupilas brilhantes ainda entreabertas. As mãos passearam sobre sua face, uma tentativa de estar mais acordado. Amassou suas bochechas e coçou sua imensidão azul, com seus pulsos.
— Bom dia — Digo á ele que se aproxima lentamente, e me dá um beijo demorado na minha testa. Seus lábios estavam gélidos, assim como a ponta do seu nariz e seu queixo. Seu braço desliza, enrolando-se na curva do meu quadril coberto pelo pijama, descansando-se na quentura que vinha de mim, dando-nos um choque térmico.
— Já acordada? — A voz rouca falhava, como um rádio antigo tentando achar uma estação boa com algo íncrivel a tocar. Os olhos tornaram a fechar, em um instante de paz profunda.
— Não faz muito tempo, na verdade. — Olhei os desenhos outra vez, mordendo o canto de meu lábio inferior. Vou sempre olha-los e tenho certeza de que nunca poderei me cansar. Não tem como, já que cada vez que olho, vejo mais e mais. Seja detalhes, seja imagens ou tipos de papéis. Gosto como Scott usa vários tipo de cores e pincéis, para ilustrar o mesmo devaneio.— Eu não consigo parar de olhar para eles.
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Cigarette Daydreams [ book one ]
Romanceℰra mais uma das incontáveis manhãs frias e vazias na cidade. Durante uma conversa com sua melhor amiga Heather a caminho do colégio, Cora é convencida a tomar um simples café expresso no Invers que segundo sua amiga, era a melhor cafeteria da...