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Guardou os fones de ouvido no bolso para sentir o silêncio ao seu redor. Ele olhava para o horizonte lotado pelos edifícios e arranha-céus daquela metrópole procurando algo. Talvez uma razão para ficar, ou uma para ir, ou simplesmente um objeto específico que o despertasse interesse. Sendo véspera de Natal, os itens inclusos na lista eram: bonecos infláveis gigantes de renas, lojas abertas naquele horário, luzes neon das cores de uma aurora boreal no topo dos prédios... ah claro. Luzes, ele procurava por pisca-piscas. Noah era um garoto simples e curioso, fazia sentido de que mesmo naquela situação ele ainda permanecesse com isso em sua mente.

Pisca-piscas pretos, pensava. Eram bem incomuns, e ele se identificava com coisas que iam contra o habitual. Por sinal, aquele não era o plano dele.  A cobertura de um apartamento de alguns andares não era o ambiente mais original para isso, e sim, isso passava pela cabeça dele. Você acha que no momento que o desespero e a falta de esperança dominam alguém, ela é tomada por determinação e as paranoias se esvaem, quando na realidade, esse é o senso comum de uma pessoa estável.

Nada em Noah denunciava sua desordem. Duas camadas de roupas e um moletom preto se provavam necessários naquele sádico inverno. Ele tinha olheiras, mas ninguém espera menos de um novaiorquino. O celular em sua mão, simples, protegido por uma capa artesanal, wallpapers de paisagens capturadas por ele mesmo, nada armazenado ali demonstrava que aquele garoto sem expressão era amigo da depressão. Tudo isso porque ele fazia questão de esconder. Ninguém das oito milhões de pessoas que o cercavam iria o notar. Ninguém.

— Oi — disse o dono de uma voz agitada que acabara de deixar as escadas laterais do apartamento. A reação imediata de Noah foi arregalar os olhos por um milésimo de segundo e guardar o celular no bolso, o que fazia nele era algo de extrema importância. 

Noah o analisou de cima a baixo. Loiro por baixo do gorro de Papai Noel. Excessivamente sorridente. Seu olhar seguira o celular até ser guardado. Assaltante, Noah logo se assustou, mas se acalmou ao perceber que não fazia sentido temer isso se ele fosse realmente pular dali.

— Desculpe — continuou, quando notou que seu cumprimento não seria respondido — Não quis te assustar. As estrelas me trouxeram aqui, elas gostam de me guiar. São lindas, não acha?

Louco, pensou, dessa vez sem se a alarmar, ele não podia o julgar, especialmente pois a beleza das estrelas naquela noite era algo que ele também queria ter se tocado em aproveitar. O garoto de gorro se aproximou das bordas do telhado, os all-stars a poucos passos de Noah. Suspirou como se fosse a última vez, algo que Noah realmente não gostava de presenciar. Entre eles, uma linha imaginária do mesmo tipo que a dos trópicos poderia ser traçada, separando dois hemisférios, um sereno e um transtornado.

— Acho que são — decidiu responder, na esperança de que o entediasse e ficasse novamente só, pois não queria ter que fazer isso na companhia de outra pessoa. Seria ruim para os dois.

— Deveria ter certeza — advertiu. — Cada uma delas são maiores e mais brilhantes que o Sol, e mesmo de tão longe, conseguimos as contemplar. Algumas delas nem estão mais ali. A luz de uma supernova demora centenas de milhares de anos-luz para chegar até nós, o que é ótimo para a nossa sobrevivência, mas também é poético, não acha? As estrelas são coisas que podem ser facilmente comparadas com a humanidade — disse e inclinou-se, para poder se fixar na profundidade dos olhos de Noah. — São como memórias e pessoas. O luto é a luz de uma estrela que já morreu, mas que se encontra perpetuada naqueles que ainda estão vivos.

Os fonemas dessa palavra de quatro letras entrando pelos olhos em vez dos ouvidos de Noah era algo que só podia ser feito por alguém que tivesse alguma relação com ele. Ele teria que saber pelo que ele passou, e o que ele perdeu. Um stalker? Alissa me viu saindo e mandou alguém me seguir? Ou seria um amigo... dela?, a pilha de possibilidades começava se montar, e quando ela surgia, os tiques começavam. Ele esperou, e esperou, mas por qualquer razão que seja, eles não apareceram.

Por Favor, Não Pule (É Natal)Onde histórias criam vida. Descubra agora