She knows

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Liesel P.O.V

Cá estamos, nos olhando com cara de paspalhos e tentando pensar em algo silencioso e eficaz para nos tirar daquela enrascada.

Uma janelinha mísera acima do vaso sanitário gritava para ser usada.

- Vai! - Michael fala em mímica, apontando para a mesma. 

Nego com a cabeça, apontando para minha roupa. 

- Eu não vou passar por aquela coisa ali, é muito pequena. - ele continua, me encarando de forma indignada.

Discutimos em silêncio durante alguns segundos até a próxima batida.

- Liesel, abre essa porra que eu também preciso usar. - a voz raivosa esbanjava impaciência, logo ela mesma arrombaria aquela porta.

Reviro os olhos, batendo com o pé no chão.

Michael me ajuda a atravessar metade do corpo, e de traseiro pendurado para fora, vejo sua cara louca de vontade de rir até se mijar nas calças.

- Seu idiota, me ajuda! - sussurro entre dentes.

- Amor, você devia se ver agora. - debocha baixinho, dando suas mãos para que eu as segurasse.

Quase tocando o chão, ainda amparada por ele, ouvimos o motor de um carro próximo dali. Arregalo os olhos e fito sua cara, que se retorce como se dissesse ¨desculpe¨. Caio de bunda na relva úmida, fitando furiosa pela última vez o rosto risonho dele antes que desaparecesse pela janelinha.

Dou a volta até a frente do local, pisando duro e batendo os restos de grama que se grudaram em meu vestido.

- Querida, você não tinha ido ao toalete? - questiona meu pai ao me ver, para minha sorte.

Tommy, ele e John estavam em frente à porta.

- Estava ocupado e eu não podia segurar. - resmungo, cerrando os olhos e lançando um milhão de xingamentos ao ver Michael se aproximando. - Era um assunto urgente de mulher. - invento, ajeitando os cabelos.

- Ah, sim. - meu pai faz careta, ficando levemente envergonhado. Ele detestava se meter em ¨assuntos femininos¨, quanto menos sabia melhor, em sua cabeça é claro. - Sim, sim, vamos indo então.

Theodora veio pouco tempo depois, nos observando como um gato faz com seu rato. Torcia para que ela não tivesse nos descoberto.

A viagem dali até a cidadezinha deles foi mais rápida depois de tudo, me aconcheguei no banco e tirei um cochilo até sentir que o veículo se tornava cada vez mais devagar. O cheiro de fumaça invadiu meu nariz, o que me obrigou a sentar novamente.

Vejo do lado de fora muita lama, prédios feios e o que parecia ser uma grande fábrica. Passamos por sorte reto deles, mas no carro da frente o que parecia ser Tommy apontava para fora, conversando com meu pai.

Pouco tempo depois paramos em frente à uma bela casa em um bairro mais agradável. De dentro saem uma mulher com duas crianças, eu não a reconheço. 

Todos saímos do carro, indo em direção a casa e sua anfitriã. A questão mais interessante daquela noite foi a cena de observação mais horrorizante da vida de Theodora, quando John beijou a mulher nos lábios e as crianças lhe chamaram de papai. Eu a vi craquelar seu rosto de porcelana e o sorriso se despedaçar, transformando-a em uma espécie de boneca mal-assombrada e medonha.

¨Tudo bem, bola pra frente¨, pensei comigo. Mas não, não mesmo. Ela empertigou-se novamente, caminhando até a pobre moça. Olhou-a da cabeça aos pés e estendeu sua mão para que fosse beijada. 

Papai ficou transparente com tamanha malcriação.

- Theodora! - rugiu ele, voando para o lado dela com uma velocidade recorde. - Onde estão seus modos?! - ele diz baixinho em nossa língua, próximo ao pé do ouvido dela. - Perdão senhora, ainda não estamos acostumados com esse país. 

Que desculpa esfarrapada velho George, era óbvio que ela sequer fez questão de ir na onda, permanecendo na pose de baronesa durante o restante da noite. 

Aquilo me chateava. Por mais unidas que fossemos, Theodora me cansava demais às vezes. Ela sempre queria ser mais, ser a estrela, o centro das atenções. A vida toda fora assim, não se contentava com nada que não fosse digno dela, naquela ideia louca de brilhar que ela tinha.

Lá pelas tantas, papai se cansou daquela insolência toda logo após a estrelinha se recusar de comer algo que não fosse provado antes, fazendo careta para a comida e envergonhando a moça. 

Tudo que fiz foi impensado, mas o suficiente para atrair uma leve inimizade da parte da minha irmã.

- Dê-me aqui que eu como então. - tirei o prato de sua frente com força, comendo com vontade e fazendo questão de suspirar de deleite. - Isso aqui tá ótimo. - aponto para minha boca, revirando os olhos em um prazer forçado.

A verdade é que estava horrível, mas eu ainda sim continuei fazendo uma expressão de como não conseguia acreditar em algo tão bom e divino.

Michael me encarou com um vislumbre de sorriso.

- Concordo, está maravilhoso. - meu pai diz, fuzilando minha irmã com o canto de seus olhos.

É claro que o clima não era mais o mesmo.

As criadas tiraram a mesa após o término do jantar, e reclamei de estar cansada.

- Gostaria de se deitar senhora? - pede Michael, a cara mais séria e desinteressada do mundo, como se fosse um criado pessoal.

- Gostaria. - respondo, na mesma expressão que ele, desviando os olhos e fazendo o esforço para parecer entediada.

Mas por dentro eu estava sorrindo de um lado para o outro, e nem mesmo sei por qual razão. Eu pensava em nós dois juntinhos na cama, suspirando após uma sessão de sexo ardente e selvagem.

- Você e sua filha podem ficar em minha casa barão. - Thomas se pronuncia, levantando-se de supetão da cadeira. - Temos tanto a discutir, quero que prove do nosso Whisky. 

Foram tantas as palavras ditas por aquele homem que até eu mesma me senti atordoada.

- Michael, você leva a senhora baronesa para onde ela irá se hospedar por hoje? - continua ele, sorrindo. - Ela disse estar cansada, não queremos entediá-la com nosso papo de homem.

Antes de podermos concordar, sinto o olhar de Theo queimar em nós. 

Sua perspicácia para a fofoca nunca desapareceria, e obviamente já havia entendido a jogada daqueles dois. 

- Boa noite senhor. - nos despedimos, sob o silêncio acusador dela.

Quando o carro já estava longe dali, suspirei exasperada.

- Ela sabe de tudo. - vomito, me permitindo dividir o medo com ele. - E vai usar isso contra nós.

Paramos na garagem de outra bela casa, esta mergulhada em sombras e silêncio. 

- Quem sabe do quê? - pede Michael, abrindo a porta.

- Theodora. - digo enquanto tiro os sapatos, tateando a parede no escuro. - Ela vai contar para o nosso pai se não tiver o que quer.

Sinto seu corpo contra o meu, tocando suavemente a pele exposta de meus braços.

- Ela é sua irmã, o que é que pode querer de você meu amor? Vamos esquecer isso por hora. - diz ele ao pé do meu ouvido, fazendo alguns pelos se arrepiarem. 

Ele me guia pela escuridão da casa até o quarto, beijando de leve meu pescoço e acariciando meu corpo.

Quando nos deitamos, de roupa mesmo, sinto que me amassa, seu corpo contra o meu, tão gostoso e pesado. Imediatamente fico excitada.

- Só vamos aproveitar. - continua o que disse lá embaixo, e é óbvio que eu estou delirando em resposta.

Tudo que eu quero é que se enterre em mim, e é o que ele faz.

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