Precipício

Paz - one shot

Meu mundo girava, estava tonta, eufórica, sem ar, cada tentativa de respirar era dolorosa demais, minha cabeça doía, mas não conseguia parar de andar, cada passo em direção ao precipício parecia magnético, quase como uma promessa, nada mais de sofrimento, não veria mais as faces cheias de decepção, sentia que finalmente teria minha paz, que não seria mais um sonho distante.

Parei na beira do precipício, o rio corria de forma agressiva, escuro, a luz da lua não era o suficiente para ilumina-lo assim criando um rio de águas negras, antigamente poderia ter me assustado, mas hoje parecia atrativo, como se me chamasse, dizia meu nome de forma sedutora, é o canto da sereia me chamando, me contando promessas sedutoras. Não haveria mais lágrimas, meu pai não sentiria decepção, eu não traria mais vergonha para a família.

Tudo se resolveria, só mais um passo, só mais uma respiração, então as águas negras me engoliriam e eu estaria fazendo o certo pela primeira vez, ninguém sentiu a minha falta, e nem sentiriam, sou apenas um peso morto e nada mudaria isso.

Todos dizem que sou muito jovem para entender alguma coisa, mentirosos, sei que me menosprezam, sei que veem o quão inútil sou, sei que eles tem inveja da minha posição na família e sei que me odeiam por ser inútil, por uma inútil nascer com tantos privilégios.

Mas eu sorrio, um sorriso histérico preenche meu rosto, sei que estou dando meu último suspiro, nuvens cobrem a lua cheia, deixando tudo em um profundo breu, e dessa forma dou meu último passo.

O mundo parece desacelerar e o vento batia em minhas bochechas de uma forma que chegava a doer. Muitos acham que cair na água é o mesmo que cair em um colchão de espumas...

Estão errados!

A dor do impacto é indescritível, se pudesse soltar um ruído de dor, o faria. Mas a água infiltrava meus pulmões, tudo doía e a correnteza me arrastava, se pudesse entraria em desespero, mas uma crescente sensação de paz me invadia, meu mundo escurecia e o silêncio tomava conta, uma inexplicável paz tomava conta de mim.

Finalmente é o fim.

Não é?