Eu estava estático, e fiquei assim até que o celular parou de tocar. Eu não falava com meu pai a tanto tempo que ele me ligando mais parecia uma possibilidade impossível. Logo depois que sai de casa, a única coisa que eu desejava mais do que ter noticias de Yoongi era alguma coisa do meu pai. Se ele me ligasse naqueles dias, eu seria capaz de desabar, e talvez até perdoasse ele com o tempo. Mas esse tempo foi passando, e eu não recebi nenhuma ligação, nenhuma mensagem perguntando se eu estava bem. Dona Shi continuou trabalhando lá por causa do salário, saindo na primeira oportunidade, mas quando eu perguntava, ela se desculpava e me dizia que meu pai agia como se nada tivesse acontecido, talvez até que nunca tivesse tido um filho. Isso levava a coragem de voltar para casa como o vento sobra um punhadinho de areia.
Eu sempre admirei meu pai, desde pequeno. Ele era amável, me apoiando em tudo, e até mesmo quando, com 16 anos, me assumi gay, ele não saiu do meu lado; quando meus antigos "amigos" passaram a me tratar com desgosto, meu pai sempre teve os braços abertos para mim. O que só piorou o choque quando fui basicamente abandonado.
Ele não me bloqueou nas redes sociais, muito menos parou de me seguir ou trocou de conta. Ele continuava postando fotos enquanto eu postava as minhas. Graças à internet, ele sabia que eu havia tido um filho; sabia quando eu postava fotos do aniversário ou de algum passeio com ele. E nunca, em nenhum momento, se preocupou em visita-lo, ou me mandar uma mísera mensagem perguntando do próprio neto. Até uns 4 anos atrás, eu ainda curtia seus posts; eu sei para onde ele viajou nas férias, eu sei que arranjou uma nova namorada. Ele tocou a vida como se nunca tivesse sido meu pai. E eu curtia os posts, com esperança de que ele olhasse as notificações, como se, de modo covarde, eu dissesse: "ei, eu ainda sou seu filho. Ainda estou aqui, apesar de tudo". Mas não adiantou.
Meus olhos começavam a arder quando celular tocou novamente. E tocou. Tocou até a chamada cair, me deixando no silêncio até que o aparelho vibra com uma nova mensagem.
p a i.
| Temos que conversar.
E só. Nenhum "oi filho que não vejo a anos", nenhum "desculpe' ou "eu te amo", apenas uma ordem, pois isso não foi nem um pedido, ele nem perguntou se eu quero conversar com ele, apenas que precisamos conversar. E eu quero. Quero muito conversar com ele, perguntar porque ele não foi atras de mim naquele dia; nem naquele ano. Mas ao mesmo tempo, eu não quero. Eu estou magoado, mas também estou com raiva. Quem ele pensa que é para simplesmente aparecer como se nada tivesse acontecido??
Não percebo Yoongi me chamando até que ele coloque a mão em meu ombro, e eu o olho, sobressaltado. Ele me olha, com carinho e preocupação em seu olhar.
-- Você está bem? -- Eu faço que sim. -- Não minta para mim, Taehyung. -- Eu hesito. Nego com a cabeça.
-- Cadê o Yon? -- Olhei ao redor, não vendo meu menino na sala.
-- Mandei ele tomar banho. -- Eu fiquei tão avoado assim?-- Agora, eu quero que você suba, tome um banho quentinho, deite na cama e chore, que eu vou por o Yonmin para dormir e já já vou lá te consolar, tá? -- Eu rio.
-- Deixa... deixa que eu ponho ele na cama, okay?-- Peço.
-- Okay, okay. Só... não deixa seu pai ter esse efeito sobre você.-- Ele pede, me beijando na bochecha e saindo da sala.
Eu me levanto, deixando a mensagem sem resposta, fazendo o que me foi dito. Deixo que a água do chuveiro passe pelo meu corpo, escorrendo minha tensão pelo ralo. Quando me seco e visto, já me sinto um pouco melhor, apesar da tristeza que ainda insiste em batucar minha cabeça. Olho para o celular, na mesinha.
p a i.
| Eu sei que você viu a mensagem, Taehyung.
| Estou te chamando para um jantar aqui em casa, na sexta.
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Sugar Kitty
FanficTaehyung achou um gatinho de rua, que não era apenas um gato comum, mas um híbrido. Numa sociedade racista e que oprime os híbridos, o amor deles floresce com dificuldade em SugarCat. Falam que o amor não divide, de multiplica. E esse aumentou tanto...