Flores, amor e pudim.

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Segurei firme a porta de rolo e a abaixei, ouvindo o som alto que ela fazia sempre que eu fechava a oficina.

O silêncio da rua contrastava com o som alto, não só da porta mas também dos barulhos do motor dos carros e das peças durante o dia.
A luz amarela esquentava o ambiente e por isso eu suava mais do que o normal, coisa que Marcela sempre reclamava quando vinha aqui, algo que ela passou a fazer com mais frequência nas últimas semanas.

Peguei uma flanela e limpei o excesso de graxa nas minhas mãos, deixando o resto para tirar no banho.

Os finais de ano eram sempre mais movimentados aqui na ofinica, porque diferente de mim, todos queriam viajar nessa época e por isso, era a melhor época que eu tinha para tirar um dinheiro extra e garantir um natal e um ano novo mais tranquilo.

Apaguei uma das luzes e quase esqueci o celular em cima da bancada, mas o toque dele chamou a minha atenção.
O nome na tela fazia meu coração acelerar desde que ela me ligou pela primeira vez, independente de quantas vezes por semana ela me ligasse.

Marcela era uma mulher única, e eu não digo isso apenas por ela ser a melhor e mais solicitada arquiteta que a nossa cidade já conheceu, mas também por ela ter me conquistado como eu nunca achei que alguém fosse fazer.

Nos conhecemos no aniversário de um amigo nosso, um dos únicos que temos em comum, e o seu sorriso me atraiu antes que eu pudesse reparar nos seus peitos ou na sua bunda.
Fisicamente tínhamos pouco em comum, assim como no nosso jeito.

Marcela era furacão e eu calmaria.
Ela gostava de festas e eu adorava ficar em casa.
Ela preferia doce e eu salgado.

Não tínhamos quase nada em comum, mas quando nos tocávamos ou nos víamos, a química parecia ser imediata.

— Alô. — falei ao atender e me escorei na bancada, cruzando um dos braços.

— Te atrapalhei? — ela perguntou e eu neguei com a cabeça.

— Nunca. — descruzei o braço e passei a mão pelo cabelo.

— Já fechou a oficina? — sua voz ficou mais manhosa e eu dei um sorriso de lado, sabendo que bastava apenas um estalar de dedos para que eu aparecesse na sua casa.

— Acabei de fechar. O que tem em mente? — éramos sempre diretos um com o outro.

— O que acha da gente ver um filme hoje? — ouvi sua sugestão e mesmo demorando um pouco para responder, eu não ponderei muito.

Era noite de Segunda-feira, quase oito da noite e eu estava exausto, mas eu sabia que quando Marcela tinha essas ideias, era um sinal de que ela não estava de brincadeira.

— Chego em alguns minutos. — não pensei duas vezes antes de responder.

Ouvi sua risada baixa do outro lado da linha e em seguida ela me mandou um beijo, antes de desligar.

Com quase vinte e seis anos, eu não imaginava que isso fosse acontecer algum dia, mesmo ouvindo meus amigos falarem sobre se apaixonar.
Eu gostava de estar com ela, gostava do nosso papo e da forma como nos tratávamos.
Talvez eu estivesse vivendo o que eles tanto falavam.

Meu banho foi mais rápido do que eu planejava, porque eu ainda queria passar me alguns lugares antes de ir para o seu apartamento.

Marcela não era do tipo romântica, que gosta de receber flores e que esperou a minha ligação no dia seguinte a nossa primeira transa, e talvez fosse isso que tivesse me atraído tanto nela.
Eu gostava de ver a sua reação quando eu lhe dava flores, porque suas bochechas sempre coravam com esse gesto tão simples.

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