Nunca paramos de contar.
Contamos os segundos que vivemos, os passos que demos, o número de títulos que temos em casa. Contamos nosso tempo, nosso peso, contamos dinheiro e todo o resto. E quem começou a contagem?
- Não importa – disse minha mãe, e sendo a número 1 lá em casa, acreditei.
Porque no meu mundo apenas números importam, e todos temos um.
Vanessa é um 7, de sete bocas beijadas na última festa.
Leandro é um 5, de cinco em todas as provas de matemática e Luís... Luís é um 10, um número difícil de ser na escola.
Maria é um 2, de duas advertências; Josué é um 8, de oito crushs platônicos; e eu... Eu sou um 15.
Eu sei, é um número ruim, e acredite não aceitei esse destino de primeira. Lutei, resisti, gritei e tentei a carreira de números em likes, mas no fim do dia eu ainda não tinha quantidades importantes que me dessem identidade. Eu era apenas a menina da rua 15, e foi esse número que pegou.
Rua 15 de novembro para ser mais exata, e morar no 15 é estranho.
15 parece um número pontudo, de esquina, incomodo, e não gosto. Não tinha casa aconchegante na rua 15, isso era na 14 ou 16. Pessoas solitárias moram no 15, acidentes aconteciam no 15, mas eu tento não pensar muito nisso. Talvez o número fosse para combinar com outra coisa, como com o fato de que eu era ímpar, extra desde nascença, mas essa teoria era proibida na minha família de números conservadores.
Diziam que 15 era um número 'direito', mas em segredo eu sempre fugia dele. Nessa fuga as vezes eu conseguia me reduzir para caber em um 3.
Mais aberto, mais caótico. Ser o três era bom porque é um número comum, do dia a dia, sabe? E quando a gente não tem números de destaque o mais importante é tentar buscar um número aceitável . Eu era um bom número 3, e isso me deixava exausta.
Nem lá nem cá, nem intelectual nem atleta, nem feia nem bonita, nem alta nem baixa... Aceitável. Um número que cabe no bolso. Só mais um número útil.
Qual o seu número?
