Capítulo 8

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Aline sustentava o olhar pasmo e defensivo de Naara após ter olhado para a pose desafiadora de Etama. Sentia na pele a tensão e expectativa percorrendo o recinto feito uma corrente elétrica.

Fez várias perguntas a si sem que fosse capaz de responder, apenas para barrar o pânico da possibilidade de ainda não estar segura. O que Etama quis dizer? Os rebeldes não poderiam oferecer segurança para a sua família e seus amigos? Estavam fadados ao fracasso mesmo após terem passado por tudo aquilo? Giovana e Isabel surgiram como se as visse em sua frente...

A voz de Naara veio quebrando o fluxo de pensamento dela, trazendo-a de volta à realidade.

— Etama, nós não estamos morrendo — o tom de repreensão estava claro. Etama apenas arqueou uma das sobrancelhas e a encarou com desdém. Naara prosseguiu, dirigindo-se a todos os presentes na sala. — Não posso prometer segurança, tudo o que posso falar para vocês é que, depois do incidente em São Paulo, nós temos de agir com cautela. Não podemos arriscar perder todo o nosso trabalho de anos por causa de uma atitude impensada, podemos? — finalizou com os olhos pousados em Aline, como se a pergunta fosse diretamente a ela.

— Pois eu digo que temos de aproveitar a confusão do inimigo e atacá-lo diretamente na sede governamental e de mídia. Se não for agora, quando será? — Etama também finalizou focando Aline.

O silêncio que se seguiu após as duas falas revelou a Aline que elas esperavam que participasse do debate, ajudando no impasse, se posicionando. Aquela constatação a assustou. Sequer sabia o que discutiam, afinal acabara de chegar. E ter todos os olhos nela não ajudou em nada.

Um rapaz de altura mediana e de pele negra ergueu os dois braços, balançando-os para chamar a atenção. As irmãs o encararam.

— Naara, Etama, a garota acabou de chegar — saiu do meio das pessoas, chegando mais perto delas. — Ela provavelmente não faz ideia do que vem acontecendo e no que andamos trabalhando. Não é melhor explicar isso antes de partir para uma decisão?

Etama revirou os olhos e puxou uma cadeira para se sentar de pernas cruzadas.

— Você está certo, Levi. Acho melhor situarmos os novatos. Ao menos uma ideia geral da situação preocupante do grupo — frisou a palavra ao fixar os olhos nos de Naara, que lhe devolveu o mesmo olhar gélido.

— Pois bem Levi tornou-se o centro das atenções, por isso foi para o meio da sala, ao lado das irmãs, que permaneceram em silêncio, dando a palavra ao rapaz de cabelos e olhos escuros. — Não somos apenas fugitivos e destruidores da paz, pessoal — sorriu de canto de boca, achando graça das palavras tantas vezes veiculadas pela mídia como se fossem verdade. — Estamos focados em derrubar de uma vez por todas o atual regime de ilusão e mentiras no qual o país foi mergulhado. Cada um ao seu modo, claro — passou rapidamente o olhar pelas irmãs.

Naquele momento, Catarina já conduzira os recém-chegados a se sentarem em cadeiras disponíveis ao redor da grande mesa. Aline se sentia particularmente desconfortável, pois quase todos os presentes estavam com a atenção nela. Como já conheciam a história que Levi contaria, ela virou a principal atração. Contudo, esforçou-se para abstrair-se daquilo, concentrando-se na narração e inclinando-se sobre a madeira, como fazia quando pequena nas aulas da mãe.

— O mais importante é vocês entenderem que, há trinta e cinco anos, iniciamos efetivamente um plano de recuperação da nação — Levi explicava. — Várias crianças que nasceram rebeldes foram levadas para que vivessem dentro do sistema. Antes disso, primeiro foram feitos testes, e, quando esses jovens conseguiram se firmar na atual sociedade, enviamos a parte expressiva de crianças, principalmente aquelas que ficaram órfãs — Aline soube na mesma hora que Isabel, César e Meire fizeram parte daquilo. — Essa foi a segunda fase, e hoje vocês são o fruto disso, sendo a terceira e última fase.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora