Quem

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Sérgio Silva, nome tão comum e monótono quanto eu. No auge dos meus 26 anos, não tão longe de Saturno, mas também não tão perto assim, vivo meus dias em busca de uma motivação. Ainda não me conheço tão bem quanto deveria.
Sei que sempre odiei a solidão e talvez seja o motivo de agora eu estar tão sozinho. Meu medo sempre foi não ter mais ninguém ao meu lado. E agora, aqui estou eu. Sentado na sala de uma casa antiga, esperando mamãe chegar de sua caminhada com as amigas para dizer a ela que falhei em mais uma entrevista de emprego.
E dessa vez, eu agi muito mal. Simplesmente travei quando a recrutadora me perguntou o que a empresa ganharia me contratando. E eu não faço ideia de quais são minhas qualidades.
Eu sei que homens da minha idade já têm suas próprias vidas, com empregos medianos e carros populares. Alguns já são coachs e aplicam golpes de pirâmide por aí. Enquanto isso, moleques não sabem nem mesmo quem são.
Se você perguntar à minha ex, Michele, eu sou um babaca.
Se você perguntar à minha mãe, dona Rosa, sou um garoto perdido.
Se você pergunta ao meu pai, diga a ele que eu gostaria de tê-lo conhecido. E que, a propósito, se eu tivesse tido uma figura masculina em casa, talvez eu não estaria nessa crise de identidade. É, com certeza é bem mais fácil jogar a culpa em meu pai. Me sinto mais leve.
Quando pergunto a mim mesmo, fico preso em um sentimento ruim por horas. Quem eu sou?
Eu sou apenas o cara que traiu a namorada no primeiro (e consequentemente o último) aniversário de namoro porque não conseguiu controlar seus instintos?
Eu sou apenas o cara que quebrou os dentes de um moleque da 4ª série porque ele estava zoando um amigo meu?
Eu sou bom ou mau?
Será que eu estou apenas me sabotando com essa reflexão estúpida porque na realidade ninguém sabe realmente quem é e apenas veste um personagem e sai por aí dizendo coisas sobre si mesmo que não são verdadeiras? — a porta da sala abre, tirando-me dos meus pensamentos.
Dona Rosa me fitava com uma expressão de pena. Sua roupa de ginástica estava molhada de suor e sua testa brilhava.
— Sérgio, acho que está na hora de crescer. — deu-me a sentença e entrou em silêncio em seu quarto.
Eu preciso de um emprego. Eu preciso parar de sobrecarregar a minha mãe e ser um homem adulto. De alguma forma, tenho que me conhecer para responder uma merda de pergunta simples.

Pragas da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora