O início-3

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Sempre foi natural, minha mãe e eu conversarmos sobre qualquer assunto, ela sempre me deu liberdade para perguntar sobre qualquer coisa,como era somente nós dois, ela sempre procurou ser minha mãe, mas também ser minha amiga. Lembro-me de que aos sete anos fiz a pergunta que agora vejo que pra ela foi a mais temida:

_ Mãe, eu não tenho pai?

_ Pai... claro que tem.

_ E cadê ele, os meus amigos todos tem pai, eu sou o único que não tem?


Naquela noite ela sentou-se comigo no sofá, segurou minhas pequenas mãos, e durante alguns minutos ela se manteve em silêncio, parecia confusa em como iniciar a conversa, depois respirou fundo e quebrou o silêncio:

_ Jordan... eu estava adiando essa conversa durante algum tempo, pois achava que era muito pequeno para entender, mas agora você já é um homenzinho, já não é mais um bebê, tem sete anos já consegue entender, o seu pai infelizmente ele não está mais aqui, nós dois, nós... nos amamos muito, eu tenho certeza de que se ele soubesse da sua existência ele correria só para te abraçar, mas ele se foi, ele virou uma lembrança boa nas nossas vidas, somos só você e eu.

Ela desviou o olhar para a esquerda, para evitar que eu visse as lágrimas que escorria por seu rosto, quando voltou a se pronunciar, o som de sua voz era mais baixo do que o habitual, confesso que as palavras que ela me informou naquela noite, não me trouxe a compreensão do que realmente elas significavam, apesar dela dizer que eu era um homenzinho e que já conseguia entender, eu não conseguir.
Mas a medida em que os anos foram se passando e a compreensão já não era tão complicada eu deduzi que aquela conversa foi para dizer que o meu pai havia morrido, tempos depois ela confirmou isso com suas próprias palavras.

Jordan acabou se habituando com a ausência de um pai, arriscando dizer que sua mãe lhe supria nas duas funções, tanto de mãe como de pai, e se caso necessitasse de uma referência masculina ele via em Bryan o homem mais próximo dessa imagem.

As crianças crescem e não era diferente justamente com ele, agora Jordan estava com quinze anos, havia se apaixonado pela primeira vez, a estranha sensação de que precisava entender melhor o que sentia e que sua mãe não seria capaz de entende-lo, afinal era coisa de homens e ela por mais que desembainhasse bem o seu papel de mãe e pai, ela ainda assim era uma mulher.
Por essa razão ele resolveu procurar Bryan que inicialmente se assustou ao ser questionado:

_ Eu sinto umas vontades estranhas quando estou com uma pessoa, quando sei que devo avançar ou recuar... acho que dá pra entender o que estou querendo dizer... quando sei que chegou o momento de transar?

Pigarreando para limpar da garganta Bryan arregalou os olhos, e eu logo notei o seu desconforto, ele que era solteiro e nunca tivera filho, deveria estranhar eu o procurar para aquele tipo de conversa, mas ele era o único ao qual eu confiava conversar algo tão íntimo como minha primeira vez. Nem mesmo com a minha mãe eu tivera essa coragem, ele forçou um sorriso entredente a olhar-me e calmamente começou a dizer:

_ Bem Jordan, o seu corpo vai dizer qual é o momento certo, ele te dará essa resposta, quando se está com outra pessoa... digamos de uma forma mais íntima, ele reagirá de acordo com o seu desejo. Normalmente os adolescentes tem muita curiosidade sobre esse assunto, e acaba procurando as respostas em  sites de pornografia, por isso eu estou feliz que tenha vindo me procurar.

Bryan explicava as sensações que seu corpo poderia sentir, e em quinze minuto ele lhe dava uma aula de orientação sexual.

Aquela conversa foi tão significativa para mim que aquela mesma tarde a prática se sobrepôs sobre a teoria. Eu me sentia pronto, preparado, confiante, tudo isso se devia aquela conversa esclarecedora que tive com o homem.
De súbito aquela conversa com Bryan me fizera muito bem, quando se reencontraram, apesar de não dizer nada, o sorriso que eu dirigi ao homem deixou claro que aquela conversa resultara de forma positiva. Em resposta ele moveu levemente a cabeça e eu entendi exatamente o que ele queria me dizer.


Lógico que isso foi notado por minha mãe, mas discreta ela nem perguntou nada, se depois ela o fez a Bryan não sei dizer. Mas sempre tive a sensação de que ela soubesse mais do que perguntava, sentia que não era preciso dizer nada, ela sabia de tudo.
Talvez o sorriso em meu rosto denunciasse, ou talvez ela tivesse arrancado a informação do advogado, mas eu tinha certeza ela sabia.

Já estava com dezessete anos, quando tive minha primeira experiência com um rapaz, era um amigo de infância, e acabou acontecendo por um acaso, ambos havíamos bebido e aconteceu, dona Rebeca, minha mãe nunca tratou a sexualidade de forma pesada, embora eu não me sentisse completamente a vontade de conversar esse assunto com ela, sentia-se embaraçado ao citar a ela como havia acontecido, embora ela não me recriminasse por qualquer coisa que eu fizesse em relação a minha opção. Ela me dava total liberdade para descobrir o amor da forma mais plena possível, e eu estava na fase da descoberta, gostava de sair com mulheres, elas me atraíam, mas não me negava quando me sentia atraído por alguém do mesmo sexo que eu.
Eu estava na fase experimental, cheio de hormônios, sangue quente, e de uma forma ou outra eu queria curtir cada momento que a vida me proporcionava. Mas apesar disso ainda não havia encontrado a pessoa que mexesse com os meus sentimentos ao ponto de querer abandonar essa vida vulnerável e se fixar somente em uma só pessoa.

Um bad boy romântico isso era muito brega, mas eu não me importava com rótulos, rótulos só servia para separar as pessoas, e isso não era bem o estilo que eu desejava ter.
Até porque as pessoas eram diferentes, e bem mais complexa do que os rótulos poderiam definir.

Minha mãe era um exemplo disso, em sua fragilidade feminina ela se mostrava uma mulher que superava em força muitos homens que não chegavam aos seus pés. 

O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora