Primeiras impressões

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Estava entediado. Chegara na mansão de seus pais a alguns dias e mesmo depois disso Happy não saira do seu pé. Não entendia o por quê de ter aulas. Era um gênio desde sempre e estaria facilmente no MIT ou Harvard se assim desejasse. É claro que ter reprovado e ter sido expulso algumas vezes não contribuía muito para isso. Mas sua inteligência ainda era inquestionável e as riquezas de herdara também.

Riquezas que ainda iria herdar. Se corrigiu mentalmente, lembrando que só teria acesso a herança depois dos vinte e dois. Por ora, Obadiah Stane era seu tutor e responsável (mesmo que já tivesse atingido a maioridade há um bom tempo) e o causador de sua volta ao Brasil depois de toda aquela confusão no internato em Manhattan.

Não que Tony desgostasse do país. Vivera a maior parte da infância ali, até a morte de seus pais em um acidente aéreo. Passou a adolescência naquela mesma mansão, nas mesmas condições de agora, se desconsiderasse o fato de que Obadiah era mais sensato naquela época, já que pouco antes de entrar no Ensino Médio o levou para os Estados Unidos.

Seu comportamento também não foi dos melhores. Vivia em festas, chegando quase sempre bêbado, drogado e acompanhado na casa de Stane ou no seu dormitório nos internatos. Isso, é claro, quando não participava de algum ato dos Avengers. E recordar de tudo lhe lembrou que seu tutor seria o dono da razão caso discutissem outra vez sobre a decisão dele.

Como se não bastasse abandonar sua vida nos Estados Unidos, descobrira que o Magnus, único colégio decente naquela cidade, onde estudara antes de se mudar, fora fechado já que seu dono estava envolvido em diversos escândalos de corrupção. Conhecendo seu tutor como ninguém, Tony apostava que o fato de terem se mudado poucos meses antes do fechamento não era mero acaso.

Uma parte de seus colegas foram para o exterior, como ele, ou para os grandes polos nacionais. Alguns poucos escolheram ficar na cidade, sendo remanejados para os demais colégios. Como Tony agora seria.

Devia ter desconfiado quando Happy chegou em seu apartamento em Nova Iorque, algumas semanas depois de sua expulsão. Principalmente quando passou a dar aulas sobre o conteúdo didático brasileiro. Pensou por um instante que Stane o mandara em memória à sua mãe, já que Maria Stark era brasileira como Tony. Mas não. Ele apenas o preparava para ingressar no Santa Mônica.

Era um dos colégios menos ruins, mesmo sendo público. Como foi o que recebeu maior demanda dos alunos do Magnus e seus pais ricos, o colégio teve melhoramentos. Passou por reformas e novos investimentos, considerando que a Associação de Pais e Mestres era formada agora por grandes empresários que queriam o melhor para o ensino de seus filhos, além de ter o aumento de atividades extracurriculares no contraturno.

Entretanto, não era ali que Tony se via terminando os estudos. Obadiah disse que seria algo breve, e que antes do segundo semestre brasileiro ele já estaria estudando fora outra vez. O jovem não entendia o motivo de não irem logo, já que se mudar tantas vezes podia prejudicá-lo, mas Stane garantiu que ainda haviam negócios a se resolver por ali, e agora Tony ficaria com ele. Decidindo atormentá-lo mais uma vez, o jovem se dirigiu até o escritório, parando na porta ao perceber que ele estava acompanhado.

-- Eu lhe garanto, Brito. O Santa Mônica será fechado antes do previsto. - O sotaque de Stane soava cansado, como se não fosse a primeira vez que discutia aquilo.

-- Mas você matriculou o garoto lá, Obadiah! O que quer que eu pense? - Uma voz desconhecida contra-argumentou. Não tinha sotaque, assim como Tony, já que português era sua primeira língua.

-- Que será mais fácil para mim ir para fora com o garoto, sem que os advogados da empresa pensem que estou negligenciando a educação dele, e com o fechamento do colégio eu teria a desculpa perfeita para levá-lo comigo para o exterior outra vez. Já basta a reprovação dele e todas as expulsões e mal comportamento que contam pontos negativos para mim. - Tony estava prestes a entrar no escritório, rompendo em fúria por falarem mal dele (mesmo que fosse verdade), mas Obadiah continuou. - Eu sei que Tony terá um futuro brilhante e acredito no potencial dele, por isso iremos para Londres assim que ele terminar os estudos. Mas eu preciso terminar pessoalmente essa burocracia para a construção da nova instalação, assim como acompanhar de perto o ensino dele. Então ele ficará comigo até essa confusão toda se desenrolar, para garantir que ele consiga desenvolver todo esse talento que eu sei que ele tem. - Ele suspirou pesado, antes de Tony ouvi-lo puxar uma cadeira. - Howard era como um irmão para mim e considero Tony um filho. Já me dói saber que tive que deixá-lo em internatos por tanto tempo por causa do trabalho. Não quero me distanciar outra vez. Mas voltando ao foco, aquele colégio será fechado. Não há discussões sobre isso.




Odiou a camiseta do uniforme antes mesmo de vê-la. Em sua última escola, podia vestir a roupa que quisesse e ser obrigado a vestir algo lhe lembrava dos piores internatos em que ficou. Bom, nunca passou muito tempo em algum, sempre arrumando motivos para ser expulso, mas ter essa sensação de liberdade perdida, mesmo que uma camiseta realmente não significasse muito, era angustiante.

E Tony Stark sempre liberava sentimentos negativos de formas nada convencionais.

Encarou a fachada do colégio. Era como quase todos os públicos que vira de longe, com azulejos vermelhos cobrindo as paredes, o portão com interfone. A secretaria logo ali, e a diretoria do outro lado do corredor.

O colégio realmente parecia uma prisão de fora, com os portões parecendo grades e os guardas logo ali na porta, impedindo qualquer um de sair antes do horário. Isso era uma das coisas que Tony sentiria falta, já que ele mesmo fazia sua grade e agora teria tudo ditado pelo sistema de ensino.

Assim que entraram, Happy e ele, sentiu alguns olhares sobre si, e não tardaram em andar logo para a sala do diretor Nick Fury, que explicou como as coisas seriam para a adaptação de Tony. Como fora expulso no início de fevereiro, quase no final do segundo semestre, conseguiu fazer algumas provas para concluir o 11th Grade. Mas era início do ano letivo ali, já que estavam em abril, então Tony podia acompanhar o conteúdo de sua turma, e caso precisasse, podia fazer reforço com os professores.

Olhou com tédio para seu horário, antes de seguir a psicopedagoga Maria Hill até sua sala já que o sinal havia soado a algum tempo. Seriam cinco períodos de cinquenta minutos, com um intervalo de meia hora entre a terceira e quarta aula. Todas elas ocorreriam na mesma sala, com excessão de quando precisassem usar os laboratórios ou biblioteca. Não haviam armários, então teria que trazer os matérias de cada dia consigo na mochila, e no contraturno teriam diversas atividades extracurriculares, que não somavam em nada para seu futuro, então não as faria.

A mulher lhe deu um sorriso contido antes de entrarem na sala, ela logo indo até a mesa do professor com alguns papéis. Tony encarou todos da sala superficialmente, logo se sentando em uma carteira vaga, sem esperar a autorização do professor.

Ainda sentia os olhares dos colegas sobre si, mas decidiu não se importar, puxando assunto com a ruiva que se sentava na fileira do lado.

P.S.: Eu te odeio Onde histórias criam vida. Descubra agora