07 | T i n t a & T i r o s

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Estava nevando, as nuvens derramando aquela poderosa branquidão por toda Paris.

     Até o mais insensível e ignorante dos homens poderia relacionar essa cor com seus melhores momentos – à inocência, à paz, à luz, à pureza. O sinal mais extremo e inferior talvez fosse o vazio, para alguns. Então... Por que eu só conseguia pensar na malícia, na dor, na escuridão... Na podridão que tudo aquilo representava? Por que aquela cor só me lembrava de uma bola de neve, que rolava e rolava, juntando em uma grande massa qualquer coisa ruim pelo caminho que percorria?

     Talvez nada fizesse sentido.

     Talvez, somente Alícia poderia me entender.

     Mas Alícia estava em cima de uma maca por mais de quatro anos graças àqueles infelizes.



     Alícia tinha o rosto marcado por desgosto e tormenta. Lágrimas grossas deslizavam pelas bochechas proeminentes, deixando um rastro limpo ao redor de todo o sangue e terra, a cor feia da morte. Mas nem mesmo água santa poderia curar todos aqueles hematomas em seu rosto de porcelana – tons arroxeados, amarelados e esverdeados. Eles diziam que eram suas marcas sobre nosso corpo, sobre nossa alma. E eu realmente acreditava.

     — Eles não vão parar. — sussurrava ela — Eles nunca irão parar com isso.

     Eu permaneci calada, apenas cumprindo meu papel como uma boneca perfeita. Meus dedos percorreram pelo rosto de Alícia, limpando e secando o sangramento nasal. Não comentei nada sobre o outro lado já estar coberto por cortes.

     — Fique ereta. — murmurei, olhando-a com um brilho doce e compassivo — Se inclina para frente e aperta o nariz. Isso deve parar em alguns minutos.

     Ela o fez, mas continuou a falar.

     — "Liberdade é pouco. O que eu desejo... — ela parou, ainda com o tom anasalado. Seus olhos escuros ainda derramavam lágrimas —... ainda não tem nome". Falei certo?

     Eu me inclinei e beijei seu rosto com cuidado, como uma mãe que se orgulha de um filho – mesmo que eu tivesse apenas quinze anos e ela fosse apenas um ano mais nova. Citar poemas e livros era exatamente o que eles queriam de nós.

     — Exatamente como te ensinei, Ali.

     — É por isso que não recebe os castigos. Eles não querem que a boneca perfeita deles fique em pedaços — sussurrou ela, ainda com a mão pressionando o nariz.

     Balancei a cabeça de um lado para o outro, travando a mandíbula com força. Senti todo o peso do mundo sobre meus ombros, e a cada segundo eu me afundava mais e mais. Os livros eram minha única fuga no meio de um mar de mentiras, surras e castigos. E eu tentava ensinar Alícia também, para que ela tivesse um porto seguro quando eu não estivesse mais lá.

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