Lutando comigo mesmo-10

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Na manhã seguinte, não fui acordar Jordan, e qual foi a minha surpresa quando estava já no meio do dejejum quando ele apareceu, me olhou, mas não me dirigiu a palavra, então rompi o silêncio:

_ Acordou cedo hoje, nem precisei acordá-lo.

_ Na verdade nem cheguei a dormir.

Meu pai resolveu aparecer justamente nessa hora:

_ Estranhou novamente o silêncio meu filho?

Jordan se virou para ele e sorriu, depois voltou o olhar para mim:

_ Bem... não exatamente Douglas, atrevo a me dizer que minha noite foi até agitada de um certo modo.


Quase me engasguei, quando interessado meu pai queria saber do que se tratava:

_ Agitada, como assim?

_ Eu falo metaforicamente, muita coisa para processar.

_ Eu entendo que tenha sido muita coisa mesmo filho, a morte da sua mãe, descobrir que tem uma outra família, a mudança para a fazenda, mas como está lidando com tudo isso?

_ Olha Douglas, eu estou gostando bastante.

Vez ou outra ele me lançava um olhar, mas não se demorava nele, percebi que algumas vezes ele mordia o seu lábio inferior de um lado só, e não era a primeira vez que ele fazia isso:

_ Então só espera chegar a época da quadrilha que a igreja faz aqui e toda a cidade participa.

_ Quadrilha?


_ É uma dança que os jovens fazem todos os anos aqui. Nesse dia as mulheres fazem bolos e salgados para arrecadar dinheiro para a igreja, inclusive o Roger foi o noivo durante dois anos seguidos.

_ Noivo?

_ Isso é besteira... não significa nada.

_ Pode não significar para você, mas a Sandrinha significa muito.

_ Sandrinha?

_ Ela é apaixonada pelo Roger.

_ Para com isso pai... a Sandrinha é só uma amiga. Eu já estou indo... você vem ou vai ficar ?

_ Estou indo.

Já estávamos no meio do caminho quando ele perguntou:

_ Sandrinha... é sua namorada?

_ Amiga.

_ Amiga com privilégios?

_ Privilégios... de que privilégios quer dizer?

_ Beijos... amasso... cama?

Parei de caminhar para olhá-lo:

_ Eu nunca beijei ela, então isso responde, seus outros questionamentos.

_ Existe alguém que esteja beijando além do beijo que aconteceu ontem?

_ O que aconteceu ontem...

_ Já sei o que vai dizer... que não vai mais acontecer, que não podemos, mas quer saber, você não passa de um covarde.


_ Covarde?

_ Exatamente... você foge dos seus sentimentos, ou vai me dizer que não mexeu com você aquele beijo, olha para mim e diz se é capaz.


Prendi a respiração, meu coração batia descompassado, ele mordia o canto de seus lábios o que lhe dava um charme e uma imensa vontade de voltar a sentir aqueles lábios contra o meu, eu o olhava tão fixamente que parecia que com aquele olhar ele conseguiria decifrar-me por completo, e de repente eu disse:

_ Apenas pare. Eu não posso.

_ Me dê uma razão que me convença de que não podemos.

_ Somos homens.

_ Somos homens, e temos sentimentos, os sentimentos não vê a diferença entre homem e mulher, ele apenas acontece.

_ Nós somos irmãos.

_ Não somos irmãos, não temos nenhum vínculo sanguíneo, e mesmo o Douglas foi o seu pai, não o meu.

_ Mas ele é seu pai.

_ É meu pai de sangue mas não de coração, e seu de coração mas não de sangue, isso não vai mudar em nada.

_ Acha que eles vão aceitar isso assim facilmente?

_ Não, não acho, mas é você quem tem que saber se quer viver isso, não eles.

_ Você falando assim parece tudo tão fácil, mas aqui não é a cidade grande, aqui todo mundo se conhece, o que um sabe logo se espalha.

_ É esse o seu medo?

_ Não seja ridículo, do que acha que eu tenho medo?

_ Essa é uma pergunta que só você vai saber responder.


Ele caminhou na frente e eu fiquei ali, parado, apenas olhando ele seguir em frente. Quando cheguei no celeiro ele já estava cuidando dos animais, Jordan tinha o poder de me desestabilizar de causar estranhas sensações que eu nunca havia experimentado.
Trabalhamos em silencio todo o tempo, e já no final antes de voltarmos a casa eu disse:

_ Eu realmente pensei...

_ O que?

_ Eu pensei no que conversamos...

Ele se virou para mim interessado:

_ E a que conclusão chegou?

_ É... eu tenho medo, medo do que eu sinto, medo do que vão dizer, mas o que me causa mais medo é...

_ É...?

_ O meu maior medo é que nós somos muito diferentes, olha para você, você é da cidade grande, gosta de usar suas roupas de marca, de som de buzina ao acordar, agora olha para mim... eu sou rústico, gosto disso aqui, de cuidar dos animais, de adestrar cavalo xucro, do cheiro de terra molhada. Nós não temos nada em comum.

_ Não dizem que os opostos se atraem?

_ Isso é muito bonito na teoria Jordan, na prática não. Quando passar os cinco anos hein... você vai voltar para a sua vida e eu... ?

_ Não tem nenhuma semana que estou aqui Roger. 

_ Exatamente por isso é melhor cortar o mal pela raiz logo no início, não vamos dar início em algo que não vamos conseguir levar adiante.

_ Então é isso, você tem medo do amanhã, e não se arrisca, eu não me importo de enfrentar quem tiver que enfrentar para viver o que eu desejo.

_ Nós somos diferentes Jordan. Temos pensamento diferentes

_ Entendi...


Estávamos um na frente do outro:

_ Bem... você está no meu caminho.

Ele tentou passar, mas eu não permitir, permaneci no mesmo lugar, ele então repetiu:

_ Se não se importa eu gostaria de passar, você está no meu caminho.

Mesmo convencido de que aquilo não daria certo, eu cedi ao meu próprio desejo e o beijei avassaladoramente, juntando meus lábios aos dele vorazmente, obrigando-o a entreabri os dele para receber os meus, foi um beijo faminto, um beijo guloso onde ali não cabia nenhum outro pensamento que não fosse aquele beijo, meu corpo chocou-se contra a pilastras que separava uma baía a outra e preso entre o seu corpo eu me entreguei aquele beijo sem nenhuma reserva me permitindo ousar ainda mais naquele simples contato que me deixava meu corpo todo febril.


O amor acontece devagarOnde histórias criam vida. Descubra agora