O colégio estava no escuro quando estacionou na rua de cima, poucas luzes acesas. Sabia que haviam câmeras ali, então resolveu deixar seu carro distante para que não pudessem reconhecer a placa. Estava quase no portão quando uma mão o puxou bruscamente e quando ia socar a cara da pessoa, reconheceu um dos amigos do Flash.
O loiro apareceu logo depois, apontando para a câmera que quase o pegou caso tivesse dado mais alguns passos naquela direção. Todos vestiam capuz ou touca, cobrindo o rosto como podiam. Tony logo seguiu o exemplo, subindo o capuz do seu moletom antes de acompanhá-los até uma parte do muro onde um caixote era usado como apoio para pularem dentro do campo do colégio. Tony foi com eles, caindo de forma equilibrada no gramado.
Flash liderava os demais garotos para uma área do colégio que o moreno desconhecia. A iluminação ali era ainda mais precária, principalmente depois de entrarem naquela sala onde as paredes eram escuras. Ao bater em uma poltrona, Tony logo entendeu que estava na sala onde ocorriam as aulas de teatro no contraturno, e no momento em que ia perguntar o que iam fazer, alguém acendeu a lanterna do celular, iluminando os degraus para o palco.
Assim que chegaram em cima do palco, Flash abriu a mochila que trazia nas costas, retirando de lá uma lata de tinta. Antes que qualquer um pudesse dizer alguma coisa, o loiro abriu e jogou a tinta vermelha nas paredes, manchando tudo a sua volta. Depois de esvaziar a lata, ele pegou um spray e escreveu em garranchos “Fora Aberração” em uma área limpa da parede. Tony não sabia para quem era aquele recado, mas de qualquer forma seguiu os demais até o corredor, sem saber o que pensar a respeito. A porta da diretoria seria pichada também caso alguém não aparecesse com uma lanterna, gritando.
O zelador correu atrás deles e Tony tropeçou uma vez ou duas ao tentar pular o muro de volta, já que não tinha nenhum apoio para subir. Seu capuz tinha caído a muito tempo, mas ignorou isso ao correr pela rua e entrar no carro, pouco se importando com os limites de velocidade. Assim que chegou em casa, subiu a escada do jardim que dava acesso ao seu quarto no segundo andar, abrindo as portas de vidro com cuidado e deitando na cama da maneira que estava, pensando na noite que tivera.
Jarvis o olhou estranho ao servir o café da manhã. Logo descobriu que manchou toda a cama com a tinta escarlate que Flash usou. O mordomo ficou preocupado quando a empregada comentou, até Tony dizer que era tinta, o que piorou a situação já que demorou muito tempo para desconversar a origem dela.
A suspensão de Flash foi o segundo assunto mais comentado naquela manhã de sexta. O atentado à professora de teatro foi o primeiro. Ou professor. Tony não sabia como chamar um não-binário, mas optou pelos artigos femininos assim como a maior parte dos alunos que faziam a fofoca rodar a escola. Natasha estava revoltada, assim como Alexia, que era aluna dela e amiga da turma. Muitos amavam a Yao.
Quando soou o sinal para a segunda aula, antes mesmo que o professor de biologia entrasse na sala, Tony foi chamado pelo diretor. Seguiu calmamente até a sala de Fury, como se não devesse nada, mas notou o olhar penetrante que o homem lhe dirigia ao sentar na cadeira em frente à mesa dele.
-- Não tem nada para me contar, Tony? – Ele perguntou, cruzando as mãos sob o queixo.
-- Bom dia para o senhor também, senhor diretor. – Respondeu com deboche, reforçando o senhor, largado de qualquer modo na cadeira. – E não, não tenho.
-- Tem certeza, senhor Stark? – Fury devolveu o deboche, virando o monitor do computador para ele, logo rodando imagens das câmeras de segurança, ou melhor, o rosto de Tony um pouco granulado evidente nas gravações. – Eu sei que não deve ser fácil para o senhor toda essa adaptação, mas o que fez foi muito, muito errado. Yao resolveu não dar queixa, mas isso ainda é vandalismo de propriedade pública. Como é sua primeira semana aqui na escola, posso diminuir sua punição, desde que entregue os demais. – O diretor apontou para as pessoas de rosto coberto nas imagens.
Tony permaneceu em silêncio. Nunca, sob nenhuma hipótese, ofenderia alguém dessa forma, sequer teria ido até a escola se soubesse das intenções de Flash. Mas, aprendeu com os Avengers que independentemente da situação não era dedo duro. Então continuou calado.
-- Você não me dá escolhas, Tony. – Fury suspirou. – Informarei seu representante legal sobre suas infrações. Não levarei esse caso à polícia, mas será punido. Levando em conta que todos os danos são na sala de teatro e a Yao, irá ajudar sua turma, tanto na limpeza do que fizeram como nas apresentações.
Tony abriu a boca para contestar, entretanto o olhar do diretor deixou claro que ele estava sendo clemente e caso dissesse mais uma palavra, aquilo iria piorar. Resmungou alguma coisa, mas o diretor resolveu encarar aquilo como uma concordância.
-- Uma e meia hoje, na sala que você já conhece. – Fury comentou enquanto ele se levantava, em direção à porta.
Assim que a abriu, viu que alguém esperava sentado em uma das cadeiras do lado de fora. Lembrou então que depois do intervalo do dia anterior Flash não foi o único que não voltou à sala. A marca arroxeada na maçã do rosto do garoto de cabelos castanhos não parecia tão recente, o que indicava que podia ser do dia anterior, a prova concreta do motivo da suspensão de Flash Thompson.
O loiro que já estava ganhando a raiva de Tony aumentou ainda mais sua conta no vermelho, principalmente quando o moreno viu os olhos inocentes de Peter desviarem dos seus, algo como vergonha estampada neles. Não sabia o porquê, mas ver mais alguém afetado por Flash pareceu a gota d'água para Tony.
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Notas da Autora:A atriz que interpreta a Anciã em Doutor Estranho é não-binário(a) então decidi usar isso aqui.
Espero que tenham gostado♡
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P.S.: Eu te odeio
FanfictionDepois de ser expulso de um internato em Manhattan, Tony Stark se vê obrigado a voltar a morar com seu tutor, Obadiah Stane, no Brasil. Porém, as coisas não estão mais no seu controle. Seu tutor o obriga a estudar em um colégio público, já que o Mag...