▪︎ 14: Medo

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Paolla Oliveira.

Ver Sérgio completamente impotente me deixava de coração partido, mas eu não sabia ao certo como reagir à uma situação dessas. Eu ainda estava incrédula, mas ele bem já desconfiava, o que deixou ele ainda mais quebrado.
Estávamos sentados no sofá da casa dele, não haviam vestígios de que Bianca esteve lá aquela tarde quando cheguei, apenas os olhos vermelhos de Guizé deixavam claro que o problema havia sido ela.
Sua cabeça estava deitada em meu colo, enquanto ele ainda soluçava e fungava, tremendo de tanto nervoso que havia passado. O doloroso é que ele sonhava em ser pai, por tanto tempo esperou o momento certo e mesmo assim, quando teve o sonho realizado, não passou de um teatro escracho.

Minhas mãos passavam calmamente pelos seus cabelos castanhos escuros, enrolando eles na ponta dos meus dedos e soltando suavemente. Fazia algum tempo que ele apenas chorava em silêncio, tivera coragem apenas de me dizer o que havia ocorrido e depois se calou para ficar em seus pensamentos. Encolhido no sofá e desfrutando em silêncio dos carinhos que eu fazia.
Ele se revirou no sofá, olhou para mim com os olhos ainda marejados e inchados de tanto choro. Passei minha mão pela sua testa, que fervia e eu não podia imaginar a enxaqueca que ele teria depois. Sérgio respirou fundo e finalmente decidiu que tinha que expressar seus sentimentos, deixando uma lágrima escapar antes que pudesse dizer qualquer coisa. Meu polegar impediu que ela descesse, começando um carinho por todo seu rosto.

— Eu sabia que ela tava mentindo, mas eu me apeguei à mentira, sabe? — Ele disse rouco, sua voz falhando na última palavra. Ele tremeu como se fosse desabar em choro novamente, mas segurou bravamente.

— Você realmente queria ser pai, não é? — Perguntei, com muito tato, secando as lágrimas que seguiram depois da pergunta.

— Sim... — Respondeu Sérgio, mordendo o lábio inferior, tentando conter as lágrimas.

Ele não deveria tentar mostrar uma imagem que não era a dele apenas para manter sua força. Eu o conhecia o suficiente para saber que ele era uma manteiga derretida, ainda mais em situações difíceis. E eu gostava dele assim mesmo. Olhei no fundo dos seus olhos.

— Não há nada de errado em chorar nessas situações, meu amor. — Eu falei, o tom de voz doce o suficiente para ser obedecido.

Ele soluçou mais algumas vezes e novamente o choro intensivo veio dos seus olhos, enquanto ele acomodava melhor seu rosto, escondendo-se na minha barriga. Continuei os carinhos em seu cabelo e fechei os olhos, respeitando seu espaço com muita calma e compreensão. Mas na situação errada, lembrei do sonho que tive com ele mais uma vez. A gente na praia, nosso filho correndo em nossa direção e era a carinha do Sérgio. Lindo, corado pelo sol, sorriso sem-vergonha tão amável quanto o do pai e os cabelos tão lindos quanto os meus. Nossa pequena cria, meu pequeno sonho.
Eu seria a que daria esse prestígio para ele, com certeza. Mas era preciso muito tato.

— Você vai ter esse filho, Gui. — Sussurrei.

— Eu só quero ter se for com você. — Ele disse abafado, de volta.

[...]

Sérgio realmente ficou muito afetado pela notícia destruidora. Uma febre forte o tomou e após tanto chorar, uma enxaqueca devastadora o tomara. Após alguns calmantes e remédios, deixei ele dormindo em seu quarto. Depois de muito tempo em um colapso emocional, observar ele dormindo tão sereno era um alívio. Apesar de saber que logo quando ele acordasse as coisas estariam cruéis da mesma forma.
Estava numa poltrona, olhando-o com total pesar. Se eu encontrasse aquela sociopata na rua, uma surra seria pouca para ela. Queria vingar Sérgio de todas as formas, ele não merecia nem um pouco essa forma de tortura e traição. Preso por devoção num casamento podre para ser apunhalado assim? No mínimo, revoltante!
Enquanto eu pensava profundamente em formas de acabar com a vida de Bin, meu celular tocou e eu atendi lá mesmo, sabendo que para ele acordar seria um tantinho complicado.

Medo BoboOnde histórias criam vida. Descubra agora