Quando minha se recuperou totalmente e voltou para a escola, e eu á minha vida, tentando voltar com tudo no eixo, me vi sem clientes das vendas que eu fazia e não queria ficar nas leituras, quase sem dinheiro nenhum e não sabia por onde começar. Comecei a ver empregos, mandando currículos e acabei fazendo trabalhos de doméstica diarista por alguns meses, conseguindo equilibrar minhas contas . Nessa época conheci e tive contatos com pessoas ricas, alguns não tinham sequer noção de quantos gastavam com as limpezas.
Uma vez fui chamada para limpar a casa de uma mulher rica, ela deixou a chave na portaria do prédio em que morava e eu cheguei bem cedo para a limpeza seguindo ás instruções dela. No meio do dia o marido dela, que era promotor chegou em casa e foi direto para o quarto. Eu não havia terminado o meu serviço lá e não sabia o que fazer. Liguei para a esposa dele que solicitara meus serviços e avisei que o marido estava no quarto, se eu deveria incomoda-lo para terminar o meu serviço. Para a minha surpresa, ela disse que o marido fazia parte dos meus serviços e desligou. Eu não entendi nada no momento, achei que ela estivesse brincando ou eu não estava entendendo o significado daquilo. Continuei limpando o restante do apartamento, e ele sai do quarto pedindo para eu fazer café. Não estava nos planos realizar trabalhos de cozinheira, mas a empregada que cuidava disso estava fora, não havia ido aquele dia, o que eu estranhei muito, já que eu, uma estranha, iria limpar a casa. Fiz o café e arrumei a mesa, e o avisei que estava tudo pronto. Voltei para os meus serviços e ele me chamou para acompanha-lo no café. Recusei, claro, mas ele insistiu e eu fiquei com medo por alguns segundos de que aquele convite pudesse significar algo perigoso para mim. Sentei-me na mesa puxando mais uma xícara de café, calada. Ele me observava quieto.
— Você não precisa ficar com vergonha ou com medo. — Ele me disse.
— Imagina, eu não estou com medo, mas com vergonha sim.
Ele sorriu e continuou comendo um dos biscoitos amanteigados. Continuei apenas no café, e confesso que estava com fome, não havia levado nada para comer e imaginei que serviriam alguma coisa. Eu me enganei.
Após o café, o homem foi até a sala principal assistir tv e eu retirei a mesa e lavei a louça. O homem de novo me chamou e me convidou para me sentar com ele.
— Senhor, me perdoe, eu estou aqui para limpar a sua casa, a sua esposa me chamou...
Ele me interrompeu fazendo sinal para eu parar de falar.— Não se preocupe com ela. Ela está por ai fazer compras ou me traindo.
Arregalei os olhos e me senti petrificada.
— Ainda assim, não posso me meter nos assuntos de vocês. Eu preciso terminar o meu trabalho e ir para casa.
— Você é uma pessoa boa, moça. Outras iriam aproveitar e quem sabe, se atirariam em mim e depois me extorquir, como já aconteceu.
Eu fiquei calada, não queria me meter naquilo, não era do meu feitio me intrometer em algo assim. Ele assistia canais de notícias, trocando de canal a todo momento, como se nada o interessasse de verdade.
— Você sabe o que é sugar daddy?
— Não. — Eu respondi.
— Nunca ouviu dizer?
— Não... Nunca.
— Certo. Vou deixar você terminar suas coisas e me perdoe por deixa-la desconfortável.
Levantei-me e fui terminar o meu trabalho, e finalmente consegui terminar a limpeza do quarto.
Quando terminei o meu trabalho, avisei o homem e recebi o meu pagamento, mas em dobro. Recebi a mais do que era pretendido. Eu recusei o adicional, mas ele insistiu.
Fui embora, peguei dois ônibus e um metrô para a casa, e naquele dia eu abracei tanto minha filha, tanto que parecia que havia ficado fora por mais tempo longe dela.
Depois dessa casa, eu pesquisei o que era sugar daddy, no entanto não achei que fosse algo para mim que já estava na casa dos 30 anos. Deixei essa curiosidade para lá e continuei a limpeza, até encontrar outra pessoa que me apresentasse o universo sugar de novo.
Fui limpar mais um apartamento, dessa vez de um rapaz solteiro, e havia recentemente ficado rico com um sorteio de um consórcio. Nesse dia que fui limpar sua casa, ele comprara um carro e várias outras coisas. O apartamento era recém comprado e ficava fora da cidade. Durante o lanche de "descanso" que ele me oferecera, mencionou sobre sugar daddy também.
— Ouvi falar— Eu disse, curiosa para saber o motivo daquele assunto.
— Você acha que eu poderia ser um?
— Não sei muito sobre isso, mas penso que sim. Você é bem de vida, pelo que vejo.
Ele me disse que queria uma relação séria com benefícios mútuos, que não conseguia se imaginar saindo com mulheres fúteis e vazias.
— Você quer ser a minha "baby"?
— Hã? Como assim? Você nem me conhece. Eu sou sua diarista...
— E daí? Podemos nos conhecer, e você não seria minha diarista mais, e nem precisaria fazer esse trabalho.
— Olha, não daria certo. Além disso, tenho uma filha.
Ele me olhou por uns instantes, queria dizer algo, mas desistia. Eu terminei o lanche e terminei o trabalho com o apartamento, com ele ainda lá fazendo suas ligações e resolvendo assuntos.
Ao ir embora, ele me deu um valor a mais do combinado, e me levou até ao terminal de ônibus.
— Se você mudar de ideia sobre ser baby, pode entrar em contato comigo. Ainda estará de pé.
— Por que eu? Você pode ter tantas mulheres que quiser... Eu não sou adequada.
— Não quero ninguém adequada. Todas as adequadas são fúteis. Não é o que eu busco. E você é inteligente, bonita... Podemos fazer um teste, se quiser.
Fiquei de pensar, e quando cheguei em casa eu pesquisei mais sobre o assunto e resolvi tentar. Liguei para ele e sugeri que nos encontrássemos ás vezes para se conhecer apenas. Ele sempre me respeitou e fez tudo como eu queria. Depois do quinto encontro ele me deu um colar avaliado em cinco mil reais, como prova de confiança, segundo ele. Depois me levou ao cabelereiro, quando eu disse que queria cortar um pouco o cabelo que estava grande demais e quebrado. Ele fez questão de me esperar até terminar. Elogiou bastante o corte que escolhi.
— Agora, quero te levar para comprar roupas. Eu me lembro que você queria comprar algumas, que as suas estão bastante velhas.
Eu fiquei com vergonha na hora, mas aceitei.
Fomos á várias lojas, roupas caras que eu não sabia como combinar, fiquei preocupada na hora. Tivemos ajuda de uma vendedora atenciosa que me ajudou a escolher algumas peças.
— Não pense que me esqueci da sua filha.
Compramos várias roupas para a minha filha. Ela ficou tão radiante com as roupas novas que dormiu junto com as sacolas.
Em dois meses desse relacionamento que nem era relacionamento, pois nunca nos beijávamos, ele sugeriu que nos mudássemos para um apartamento na cidade dele.
— Você ficaria mais perto de mim, seria mais fácil cuidar de vocês duas. — Ele dizia.
Eu fiquei tentada e receosa. Se eu me mudasse, correria o risco de não dar certo e não ter para onde ir depois. Eu fiquei muito insegura com essa proposta e o enrolei muito para não tocar no assunto.
No fim, ele mobiliou um dos apartamentos que comprara e disse que eu poderia ficar lá até quando quisesse. Deixou á minha disposição uma vaga na melhor escola para minha filha, além de um carro com motorista para nos locomover. Deixou essa proposta erguida até eu finalmente aceitar.
Nós nos mudamos para o apartamento, minha filha teve um quarto decorado como ela queria. Foi um começo que parecia um mar de rosas, ou um sonho em que eu não queria me despertar, mas as vezes o medo ainda habitava em mim. E se não desse certo? E se algo de ruim acontecesse? Eu tinha preocupação maior com a minha pequena, de ela sofrer de alguma maneira. Eu tinha que protege-la de tudo. De alguma maneira eu me preparava para enfrentar qualquer coisa.
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Segredos Guardados
Non-FictionAlgumas pessoas me disseram que minha vida viraria um livro um dia. Mesmo escrevendo meus livros e ficando famosa no meio, nunca contei coisas tão intimas e perigosas ao meu respeito, e a respeito de outras pessoas também. O que vou contar são coisa...