Coruja

270 27 22
                                    

As paredes escuras davam um ar sombrio a tudo, mesmo que as luzes estivessem acesas. Talvez fosse pelo lugar estar vazio e seus passos ecoarem de maneira macabra por causa da acústica do lugar. Ou pelo vermelho no palco parecer sangue. Resolveu não subir lá em cima outra vez, então se sentou em uma poltrona na fileira da frente. Elas não eram confortáveis como as dos teatros que frequentou. Na verdade, era como se estivesse em uma cadeira normal.

-- Imagino que seja o Tony. – Uma voz falou do nada.

Tony se sobressaltou, olhando ao redor, não vendo de onde vinha a voz. Estava se questionando se não estava imaginando aquilo quando uma mão tocou seu ombro, e dessa vez Tony se levantou, olhando para trás. Uma mulher o olhava divertida e ele se deu conta de que não ouviu os passos dela quando a mesma se aproximou e sentou na fileira de trás.

Ela era careca, e se deu conta de que estava descalça e usava roupas estranhas e largas quando se levantou e parou na sua frente, lhe estendendo a mão.

-- Sou Yao, mas meus alunos me chamam de Anciã. – Ela mantinha um sorriso sereno. Tony apertou a mão dela, mesmo que a situação toda fosse esquisita. Aquela mulher era esquisita e dava calafrios em Tony.

-- Eu... eu queria me desculpar por... – Algo no olhar penetrante dela lhe dizia que Yao, ou Anciã, sabia do ocorrido. Sabia que o que aconteceu não era de nenhum modo certo e um pedido de desculpas parecia a coisa certa, principalmente ao se dar conta de que que aquela mulher lhe dava medo e estavam sozinhos naquele lugar macabro. Mas antes que pudesse concluir, ela o interrompeu.

-- Sei que não foi você que fez aquilo, e realmente não me importo com a opinião de vocês. – O olhar dela endureceu, o azul parecendo gelo, mesmo que sua voz continuasse tão pacífica e calma quanto antes. – Mas enquanto estiver aqui, - ela mostrou o lugar ao redor deles com um gesto amplo – exijo respeito para comigo e meus alunos. – Ela se virou então, as vestes esvoaçando com o movimento enquanto subia os degraus até o palco. Antes de entrar na coxia, ela falou, sem olhá-lo. – Ouvi dizer que é muito inteligente, Tony. Mas não é o que parece se suas amizades incluem Flash Thompson.

-- Como a senhora sabe? – Tony perguntou desconfiado, andando de lado para vê-la sair de lá com duas latas de tinta.

-- Flash tento fazer mal a um dos meus alunos no intervalo. Bom, na verdade ele conseguiu, mas o peguei no flagra, conseguindo a suspensão dele. – Ela deixou as latas no chão. – É muita coincidência na mesma noite um ato desses acontecer. – Yao olhou para a pichação, com os braços cruzados. – Além de que não seria a primeira vez que ele faz algo assim, então é fácil reconhecer a caligrafia dele.

Tony então subiu no palco, parando ao lado dela.

-- Eu não sabia que ele faria algo assim. – Falou baixo. – Para falar a verdade, eu sequer sabia que ele tinha sido expulso ontem.

-- Tudo bem, Tony. – Ela sorriu para ele, virando a cabeça sem sair da posição em que estava, parecendo uma coruja na visão do jovem. – Algo me diz que você não tem muita coisa a ver com isso. Mas foi sua escolha ser o único punido, então arque com as consequências. – Ela apontou para as latas com o indicador, sem descruzar os braços.

Nesse instante, passos leves foram ouvidos, mas Tony foi o único que se virou para ver o dono deles. O garoto que estava na diretoria mais cedo entrava, trazendo consigo uma sacola grande. Ele olhou confuso para Tony ante de desviar os olhos e passar por ele, deixando a sacola cair ao lado das latas de tinta.

-- Eu pensei que havia sido o Flash. – Ele falou para a professora. Sem sequer olhar para o Tony, apesar do moreno saber que era o assunto da conversa. Teria se irritado caso não estivesse muito ocupado prestando atenção no som da voz do garoto.

-- Para todos os efeitos, Tony é seu mais novo colega e você vai ajudá-lo na limpeza disso. – Ela disse ainda encarando a parede manchada, para então retirar um leque de algum bolso, se abanando enquanto saía dali. – E, é claro, esse assunto morre aqui, Pete.

Peter assinou, mesmo que ela não pudesse ver por estar de costas para eles, parando pela porta. Tony o encarou, esperando que ele dissesse alguma coisa ou fizesse algo para acabar com aquele clima estranho. Mas como ele não o fez, Tony assumiu que ele devia começar um assunto.

-- Teatro, heim? – Sorriu para o colega, mas ele não o espelhou.

-- Há pincéis e rolos na sacola, assim como aqueles... aqueles negócios de plástico para colocar tinta. – Peter respondeu como se não o ouvisse, abrindo a sacola e tirando as coisas citadas de dentro dela. – E não pense que irei fazer tudo sozinho.

-- Okay, miss simpatia. – Respondeu com humor, ainda sem conseguir uma reação do menor. – Mas eu não sei o que fazer. Ou melhor, não sei como fazer isso.

O garoto entrou o encarou, e Tony viu uma centelha de julgamento naqueles olhos amendoados, quase podendo ler 'Mas foi capaz de causar tudo isso' quando Peter encarou o estrago nas frente deles.

-- Abra a lata, coloque a tinta naquele treco e use os rolos ou pincéis para cobrir... isso. – Ele comandou, alterando o olhar de Tony para as paredes.

O moreno deu de ombros. Não tinha nada para fazer naquela tarde mesmo. Mas estava curioso em relação ao garoto que o acompanhava.

__________________________
Notas da Autora:

Espero que tenham gostado.
Agradeço a leitura

P.S.: Eu te odeio Onde histórias criam vida. Descubra agora