Save me

Capítulo 1

Meu pai estava morto. Minha irmã estava morta.

Não ouse chorar.

Fechei os olhos tentando evitar que as lágrimas caíssem pelo meu rosto.

Eu precisava ser forte. Respirei fundo.

Já estava escuro e as ondas do mar quebravam nas pedras com uma certa violência que me deixava assustada.

Observei as pessoas no calçadão e congelei quando o vi.

Matteo Acciolli.

Ele vestia um terno preto que se encaixava perfeitamente em seu corpo alto e esguio. O fazia parecer mais velho.

Senti uma fisgada forte no peito, provavelmente foi algo psicológico.

Qualquer ser humano comum já teve um amor não correspondido, um ponto fraco extremamente incômodo.

Pois bem, Matteo era o meu ponto fraco.

Ele andava com a calma de um predador. E de fato era isso que ele era.

Não o encare, Jade.

Me levantei da areia fofa tentando me distrair. Qualquer proximidade com ele representava um risco para minha sanidade mental.

Minhas mãos suavam frio e eu as limpei discretamente no short jeans escuro.

Sem conseguir me conter lancei um olhar discreto em sua direção.

Me arrependi no mesmo instante.

Seus olhos azuis afiados pareciam me perfurar, era intimidador.

Não jogue um jogo que sabe que não poderá vencer, Jade.

Desviei o olhar irritada e o observei uma última vez.

Seu cabelo loiro estava bagunçado o que em contraste com seu rosto o fazia parecer um anjo, era surreal.

Eles tinham um ar agressivo, perigoso e letal. Quase demoníaco.

Contive um suspiro.

Peguei minha bolsa de couro da areia e segui tranquilamente até a grande pedra.

Subi nela e a cada passo meu coração parecia bater mais rápido. Rápido o suficiente para que eu escutasse.

A medida que a altura aumentava e o vento se tornava mais forte a sensação de morte parecia cada vez mais real.

Não vá fraquejar agora, Jade.

A pedra estava escorregadia mas não o suficiente para me derrubar.

Meu pulmão já começava a queimar e clamar por ajuda.

Eu clamava por ajuda. Qualquer ajuda.

Cheguei ao topo e me aproximei da ponta da pedra. Uma sensação de vertigem me atingiu em cheio.

Meu estômago se revirava apenas com a vista. Eu sempre tive medo de altura.

Olhei para o mar e toda a sua imensidão. Tão furioso e sutil.

Meu pai não sabia nadar e mesmo assim ele pulou no mar. Ele o abraçou e aguardou a morte. Suicídio.

Respirei fundo e fiquei de costas para o mar e abismo.

Meu único arrependimento era não poder cumprir a promessa que fiz a Cida.

A mulher mais doce e determinada que cruzou o meu caminho.

Era a empregada da família que me amava mais do que minha própria mãe.

Fechei os olhos e abri os braços. Todo o meu corpo tremia.

Uma lágrima teimosa insistia em escorrer pelo meu rosto.

Perdão Cida , hoje não poderei voltar pra casa.

Me aproximei ainda mais do abismo e deixei meu corpo cair para trás, em direção ao mar agitado.

Eu não sabia nadar.