Sinto que devo te contar ainda sobre os procedimentos de escrita que optei utilizar. Como bem deves ter percebido, a maioria dos textos confiados a ti são escritos no "eu" - narrador em 1ª pessoa. Mas esse "eu" não necessariamente encerra-se nesta que aqui vos escreve. Talvez até essa conversa tenha esse poder transcendental: esse eu está para além de mim.Porque são muitos eus que habitam esse corpo. Socialmente convencionou-se em chamar "eu". Como algo único ou individual.Quando entendo agora: eu, uma multiplicidade.
Não gosto muito de personagens, confesso. Sabes por quê? Parece-me as minhas personagens todas são infantilizadas. Lembro de exemplos que se repetem nos fragmentos: borboleta e bailarina. Ensaio cenas com um desses personagens. Narrador em 3ª pessoa? Parece ironia. Tão próximas à infância. Talvez borboleta, bailaria e a criança que ainda cirandem. Falo dessas coisas. Ecoa uma risada gostosa.
Mas qual o problema em ser infantil? Devir-criança como potência inventiva. Na disputa de forças, momentos em que esse devir veio à superfície. E fizeram-se borboletas e bailarinas. Ainda joguei com Pollyanna. Saltitei por aí com Doroty.Agucei a curiosidade com Alice.Todas meninas e crianças. Todas ali como forças que se manifestam.
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Sem título & com muitos nomes - Ômega
No FicciónDissertação Mestrado em Educação e Tecnologia do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) Mestranda: GUEDES, Tamires Orientador: DE ARAUJO, Róger Albernaz Pelotas, 2020 Imagem: aquarela com nanquim "Ponto no caos" por Cristiane Aldavez