Capítulo 2 - Dilacerado

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Junto os pedaços novamente daquele que se desfez.

O desejo pode ser tão perverso e inalcançável...

Pode bagunçar o que está certo, e

Fazer ser certo o que parece errado.

Marcos

O suor toma conta do meu corpo e percebo isso antes de realmente despertar. Mais uma noite de sono que parece acabar comigo ao invés de me refazer, respiro fundo e procuro abrir os olhos lentamente.

Não posso dizer que sei o que está acontecendo, pois estaria mentindo mesmo que tudo pareça tão real, fico mais tempo na cama do que deveria e por mais estranho que pareça não me importo.

Levanto sentindo que o meu corpo não despertou e abro a janela vendo aquele sol forte brilhar em mais um dia, parece querer fazer-me acordar a força. Procuro algo nessa cidade como se pudesse justificar esses sonhos bizarros.

Quando percebo que o sol não irá me fazer ter disposição vou fazer café, preparo um forte e faço um sanduíche com queijo branco e pão integral, tento manter a forma.

Meu telefone vibra e vejo a mensagem que deveria alegrar o meu dia.

Olá querido, bom dia. Vemo-nos mais tarde. Beijo da sua Bárbara.

Leio mais uma vez e tento compreender quando foi que isso deixou de ser o suficiente para mim, só pode ser culpa desses malditos sonhos.

Bom dia querida, estou ansioso para vê-la mais tarde. Beijo do seu Marcos.

Respondo sabendo que essa é verdade e esses sonhos são apenas loucuras de minha mente e se eu der atenção a eles posso enlouquecer.

Mesmo que não queira, lembro-me vagamente do sonho... Seus olhos interrogativos encarando-me solenemente. Não consigo lembrar-me de mais nada, apenas de seus olhos e eles são o suficiente para me atormentar.

Eles queriam algo de mim, queriam me dizer algo e por mais estranho que pareça desejo ardentemente saber o que é.

Termino de tomar café e vou para o banheiro, um banho será maravilhoso para me renovar, não posso negar que isso me afetou, mas preciso ignorar qualquer coisa que não seja a minha realidade.

Após terminar o banho arrumo-me apressado percebendo que estou atrasado, quando estou pronto saio do apartamento e chamo o elevador, estou preso em pensamentos quando sou interrompido pelo meu vizinho.

— Bom dia Marcos, como vai? - Indaga sorridente.

— Bom dia, vou atrasado. - Digo e começamos a rir.

— É uma boa forma de começar o dia. - Fala e eu espero impacientemente o elevador.

— Tenho certeza que é. - Digo. — Arthur, como está com a chegada do bebê? - Questiono sabendo que esse é o seu novo assunto preferido.

— Estou ansioso, nós estamos. - Confessa e entramos no elevador.

— Não duvido disso. - Comento.

— Quando chegar a sua vez...

— Espero que demore um pouco, não cheguei aos trinta ainda. - Digo impedindo que termine sua frase.

— Tem que curtir o casamento antes. - Brinca.

Rimos um pouco do seu comentário e nos despedimos na garagem, entro no carro e preparo-me para sair, mas antes lembro-me dela novamente.

Um sentimento desconhecido cresce em meu peito e percebo que a desejo desesperadamente, mas não sei quem eu realmente desejo, ela não é real. Sinto-me mais nervoso quando não encontro à resposta dentro de mim, quando não sei por que a minha alma busca por algo que desconheço, quando acho que tenho tudo.

Seus olhos questionam-me desesperadamente e isso me atormenta, pois desejo poder salvá-la de todo o jeito, não serei capaz de esquecer esse momento e o que ele pode significar para mim.

Começo a ir para a empresa, forçando-me a deixar esses pensamentos para traz afinal não vejo cabimento em perder o meu tempo com isso.

Assim que entro no prédio corro para não perder o elevador, chego ao andar alguns minutos atrasado, mas não é nada que prejudique o dia.

— Bom dia garanhão. - Diz Maicon assim que sento em minha mesa.

— Não sou eu o garanhão daqui. - Falo e sorrio para ele que parece envergonhado.

— Como ficou sabendo? - Indaga constrangido.

— Isso não importa, pois todos já sabem. Se permite um conselho, pare de se relacionar com suas colegas de trabalho. - Digo deixando-o ainda mais nervoso.

— Fala isso por que já tem a garota dos seus sonhos, eu ainda estou procurando. - Brinca e pisca fazendo com que eu não controle a gargalhada.

— Está certo, eu tenho a minha garota. - Assumo desconfortável quando minha mente nega isso.

— Sei que tem. Só para te lembrar da reunião, é daqui a meia hora. Preparou algo? - Questiona e eu começo a ligar o computador.

— Claro que preparei, quero muito esse contrato. - Digo convicto.

— Sei que quer, será excelente para a nossa equipe. - Concorda.

— Será sim, precisamos de algo que nos traga mais credibilidade e trabalhar fora do comodismo será maravilhoso. - Falo enquanto abro os arquivos.

— Já falou com a Bárbara sobre isso? - Pergunta.

— Não, mas ela me apoia em tudo, sei que estará ao meu lado. - Confesso e ele faz uma careta.

— A relação de vocês é enjoativa. - Brinca.

— Fala isso por que ainda não encontrou a sua metade. - Afirmo e vejo outra careta.

— Cara, você tem apenas 27 anos e diz que já encontrou a sua metade, isso é patético. - Repreende.

— Mas eu encontrei mesmo, idade não significa nada. - Falo e levantamos indo em direção à sala de reunião.

Eu estou certo em tudo o que falei. A Bárbara é realmente a mulher que sempre quis, mas esses sonhos estão me confundindo e fazendo a minha verdade ser distante.

Algo estranho cresce dentro de mim, como um vazio que não sei identificar o motivo, tudo por conta da dona daqueles olhos. Ao mesmo tempo em que preciso dela, tenho que entender do que realmente eu preciso.

 Ao mesmo tempo em que preciso dela, tenho que entender do que realmente eu preciso

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