Capítulo 8

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Você geralmente percebe que está na merda quando algo muito ruim acontece, alcoólatras sabem que chegaram ao fundo do poço quando acontece algo (muitas vezes relacionado a sua família) que afeta demais sua vida, dai eles buscam o AA ou centros de reabilitação.
Mas, Lia, o que isso tem haver com você? Bom, não sou uma alcoólatra, mas sei que tem alguma merda errada comigo.
Como eu descobri isso? Depois de espreguiçar meu corpo relaxado e sentir cheiro delicioso de comida, eu percebi que tinha algo errado, afinal, não tenho empregada para fazer comida para mim, só para limpar a casa de quinze em quinze dias.
E aí eu senti a brisa entrando pela varanda e dois outros pensamentos concretizaram que eu estava na merda, o primeiro: a porta estava aberta, e não tinha sido eu que a abrirá e o segundo, é que eu estava nua, na minha cama, e isso era graças a uma coisa que tinha nome e sobrenome, além de foder bem demais.
E com isso veio a merda final: Pietro Di Santis tinha dormindo na MINHA cama e não tinha ido embora ainda, além de estar fazendo nosso café da manhã.
Eu estou literalmente fodida e mal paga!
Me levanto da cama e faço minha higiene matinal, coloco um shorts e uma camiseta sem roupas íntimas, saio do quarto e caminho para a cozinha, a porta da varanda da sala também estava aberta deixando a luz da manhã entrar.
Paro na porta da cozinha e a cena me faz constatar que a minha conclusão de merda final não era a final e sim a penúltima, porque a final foi eu gostar do que estava vendo, gostar além da conta da cena que se passava na frente dos meus olhos.
O Poderoso Fodão estava só de cueca preta cozinhando no meu fogão ao mesmo tempo que se remexia (sensualmente no meu ponto de vista) ao som de uma música, com Bidu aos seus pés o olhando atentamente. Só espero que meu cachorro não esteja tendo os mesmo pensamentos inapropriados que eu.
-Bom dia, Tesoro. - ele caminha relaxado e com um sorriso até mim, e me dá um selinho.
-Bom dia?! - digo desconcertada.
-Não sabia o que você costuma comer de manhã e Bidu não foi muito útil nisso. - ele olha para o meu cachorro e sorri. - Então fiz café, apesar de ter sido bem difícil encontrar o pó, achei pão de queijo no freezer...
-Perdeu o hábito italiano de só comer doce no café da manhã?
-Não perdi a tradição, só aprendi a lidar com os costumes brasileiros.
-Certo...sobre o café, eu não tenho costume de tomar café, o saber não é um dos meus preferidos. - ele franze o cenho me olhando.
-Falando em hábitos, não são os arquitetos que vivem de café? - gargalho e abro minha geladeira.
-Tem uma coisa mais gostosa que se chama energético. - aponto para o meu pequeno estoque na porta da geladeira.
-Então você não faz parte do clube loucos por café? - nego com a cabeça. - Decepcionante, estou ofendido acho que vou embora.
-Oh! Me desculpe juro que não foi minha intenção ofender quem bebe essa coisa preta horrenda, ops...quero dizer, café. - debocho vendo ele me olhar brincalhão ao mesmo tempo que assume uma pose fingida de ofensa.
-Bom o que você toma então, Senhora anti-café?
-Passei minha vida tomando leite com Nescau, por isso sou bem radical. - ele me olha confuso. - AH MEU DEUS VOCÊ NUNCA OUVIU FALAR DE NESCAU?
-Não!? - abro a geladeira e pego o leite, coloco numa caneca para esquentar, abro o armário e pego o pote de Nescau depois misturo quatro colheres com o leite e entrego a xícara a ele.
-Te apresento leite com Nescau, a melhor coisa do mundo. - ele bebe e me olha como se fosse normal, estou ofendida, extremamente ofendida.
-É leite com chocolate, devia ter algum sabor diferente? - bufo e olho para ele indignada, talvez vocês achem que é drama, mas não é não.
-Olha aqui, isso não é um simples leite com chocolate, esse é o Nescau, entendeu? NESCAU! Ele é simplesmente perfeito, não precisa colocar açúcar, deixa seu leite escuro e acima de tudo: É radical! - olho para Bidu - chocolate...pumf... não é um chocolate.
-Certo... - ele diz segurando o riso, ele quer rir de mim, vê se pode.
-Não ligue para ele meu bebê, você não é um simples chocolate, ele que é um italiano fajuto! - pego o pote de Nescau e dou um beijo antes de guardar.
-Você não vai beber Nescau? - ele arqueia a sobrancelha.
-Não, vou tomar suco de laranja. - cerro os olhos em sua direção.
-Que foi?
-Por que você está aqui?
-Porque eu dormi com você? Tesoro, estás com perda de memória? Posso te ajudar a lembrar. - reviro os olhos para a expressão maliciosa que assumiu seu rosto.
-Vamos comer...
-Vamos... - ele me puxa para perto do seu corpo e sorri.
-Larga de ser tarado, homem, vamos realmente comer, tenho que trabalhar e nem sei que horas são.
-Dez e...vinte e quatro. - ele diz depois de olhar no celular.
-Eu devia estar na empresa a uma hora e meia. - suspiro e me solto dele sentando na cadeira da ilha.
-Faltar um dia não vai fazer diferença...
-Vai sim, meu adorável chefe está de volta.
-Trabalhe na área de construção civil da minha empresa, pode ter certeza que seu chefe não vai ligar, pelo contrário. - gargalhei e me sentei na bancada.
-Coloca a comida na boca e fica caladinho.

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