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vinte e nove de dezembro

O show é hoje e eu finalmente estou indo para Londrina. A Bruna pediu pra eu ter paciência, e esperar um tempo a mais, mas eu não queria esperar.

Sai de Curitiba cedo. Queria andar em Londrina, se o Well deixasse. Decidimos que eu poderia andar no jardim botânico, e ele me seguiria a uma certa distância. É óbvio que meu segurança não me deixaria andar sozinho por aí.

Cheguei no hotel, dormi até as 15h. Fomos para o jardim botânico e deixei minha mente viajar. Há dias eu estava com uma melodia na cabeça. Algo suave.

Sentei com o violão, um caderno e comecei a rabiscar algumas palavras. 

É engraçado como a escrita flui. Algumas vezes é tão fácil. E em outras é tão complicado colocar para fora o que se sente. O processo de escrita nem sempre é sobre a gente, mas muitas vezes sentimos que é. 

Sentado ali naquele jardim, em um dos meus raros momentos de paz em um lugar público. Além de tentar compor, eu decidi me ver. Me ver por dentro de mim. 

Há algum tempo eu não via mais graça em sair cada noite com uma mulher. Eu já queria firmar uma relação com alguém, mas não tinha ninguém. E nessa rotina maluca como eu ia conhecer alguém? Eu não conseguia sentar e conversar. E o pior, se eu fosse a programas normais, provavelmente estaria exposto em todos os sites em questão de 10 minutos. 

Em meio a tantos pensamentos ela apareceu na minha mente. Eu vinha me perguntando como seria a risada dela. Como seria a voz. Eu só tinha visto fotos. E toda vez que eu via o sorriso, já me aquecia o coração. A Bruna insistia em dizer que eu estava apaixonado... Como se apaixona sem mesmo conhecer a pessoa? 

E então começou a vir uma letra na minha cabeça. 

"Eu sei que já não tenho idade
Pra ficar tão dependente
Mas eu mudei quanto te olhei
Você me fez pensar pra frente
Por mais que eu tente desviar
'Tô sempre em sua direção
Parece que eu soltei do mundo
E segurei só na sua mão" 

A fome começou a apertar, olhei as horas, e já faziam 2h horas que eu estava ali, sentado. O sol estava começando a baixar. Levantei, e comecei a caminhar, com o Well me seguindo. 

— Well, você acha que é possível se apaixonar sem conhecer? 

— Como assim, Luan? 

— Só de ver a pessoa, sem fala com ela. 

— Não sei. Acredito em atração sim. Mas paixão? Acho que já é demais. 

— É, talvez seja só carência. — murmurei baixo, sem que ele pudesse ouvir. 

— Luan, tá na hora de você comer algo. Tem lá na Van. A gente aproveita e vai embora. 

— Queria ficar mais um pouco aqui. Você pega lá pra mim? 

— E se... 

— Well — interrompi — aqui tá praticamente vazio. Não vai vir um bando de gente do nada. E se alguém aparecer, eu me viro. 

Ele nem respondeu, só saiu andando. Eu sabia que ele odiava quando eu fazia algo do tipo. Mas já fazia um tempo que não tinha minha liberdade. Eu precisava dela um pouco. 

Fiquei um tempo parado, olhando para o céu. E pensando que talvez a Bruna não tinha razão nenhuma. Eu só estava carente, e feliz de alguém ter me dado uma função diferente, como a de diário e não só ídolo. Well chegou com uma maçã, e eu voltei a caminhar, pedi pra ele manter a distância. Queria colocar em ordem meus pensamentos. Enquanto caminhava, senti alguém trombrar comigo. Escutei Well vindo mas já olhei pra trás, demonstrando estar tudo bem. E então prestei atenção na menina que estava rindo de joelhos no chão. Quando ela ergueu a cabeça, meus pensamentos sumiram, mas pelo incrível que pareça, ainda fui capaz de dizer uma única palavra. Porque eu tinha quase certeza que ali estava ela. 

— Jade?

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