Garoto confuso do c@ralho

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-- Então... – Tentou pensar no que dizer para ocupar o silêncio. – Qual o motivo? – Perguntou, apontando com o queixo para o rosto do garoto. Obviamente a marca roxa que viu pela manhã permanecia na face dele.

Só depois que as palavras saíram que se deu conta de que poderia estar sendo inconveniente, principalmente ao notar o rubor de Peter, já que a luz o iluminava. O garoto fungou, ou deu uma meia risada. Tony não soube diferenciar o som.

-- E desde quando alguém como Flash precisa de motivos? – Ele rebateu, voltando a tentar abrir sua lata de tinta, tendo problemas ao fazê-lo.

Tony estava sentado no chão depois de abrir a própria lata, esperando os próximos passos dele, mas ao vê-lo ter problemas com isso, se inclinou e puxou para si a lata, a abrindo com facilidade com a ajuda do cabo de um pincel. O garoto sussurrou um “obrigado” antes de colocar um pouco de tinta no apoio de plástico e sair para a coxia, voltando de lá com dois cabos de vassoura, deixando um ao lado de Tony enquanto encaixava o seu em um dos rolos.

O moreno imitou os movimentos do menor, atento, o espelhando conforme ele molhava o rolo e retirava o excesso de tinta antes de começar a movê-lo pela parede, com movimentos fluidos e sem interrupções. Era quase uma dança, o modo como os braços se moviam e o corpo seguia o impulso deles, indo e voltando.

-- Já fez isso antes? – Perguntou ao tentar fazer o mesmo, mas era desajeitado e respingava muita tinta no chão e em seus sapatos. Se bem que tinha inúmeros em seu closet, então aquilo não era um problema. O problema era estar passando vergonha, sujando tudo ao redor e deixando marcas mal feitas, tortas e apagadas de tinta preta sobre o vermelho enquanto Peter realizava tudo com perfeição e maestria.

Não que estivessem competindo... quer dizer, Tony tinha esse traço forte em sua personalidade. Mas o incômodo mesmo vinha do fato de Peter, que não tinha relação com aquela confusão toda, estava fazendo aquilo no lugar de Flash e os outros. Ou melhor, Peter tinha relação sim. Ele fora o pivô de tudo, a principal vítima. Um motivo a mais para o Thompson estar ali e não ele.

O garoto permanecia em silêncio e em pouco tempo tinha feito mais do dobro que Tony fez. Depois de superar um pouco do seu modo desajeitado, o moreno conseguiu realizar um trabalho razoável, mas ainda estava em desvantagem ali.

-- Bora dar uma pausa? – Tony propôs, sentindo os braços enrijecerem e formigarem pelo esforço repetitivo, prometendo dores para mais tarde. – Tô com sede, cara.

-- Tudo bem. – Peter parou o rolo, o deixando no apoio de tinta que estava quase vazio. Tony viu quando o garoto saiu para a coxia, voltando de lá com as mãos limpas.

O jovem se perguntou se seria seguro se arriscar a entrar naquele lugar escuro, mas se lembrou de como a Anciã por si só o aterrorizou o bastante, então procurou alcançar Peter que já estava perto da saída, colocando fones de ouvido.

-- Por que tenho a impressão de que não está ouvindo música? – Perguntou ao andar ao lado do menor, se dando conta de que não ouvia nenhum som vindo do aparelho nos ouvidos dele.

-- Por que tenho a impressão de que mesmo entendendo o recado de que não quero conversar, você continua insistindo? – Rebateu Peter. Tony arqueou a sobrancelha para ele, com um sorriso de lado, pronto para uma resposta espertinha.

-- Ei, Tones! – Alguém chamou. Tony olhou em volta, para ver de onde vinha a voz, se dando conta de que estavam perto do campo. Um dos caras do time de quem nem lembrava o nome o chamava.

-- Volte para seus amigos de plástico. Mas não se esqueça de estar de volta em cinco minutos, ou juro que vou conversar com Fury. – O garoto falou, dando meia volta e sumindo perto de um corredor. Tony ficou se perguntando o que ele quis disser com aquilo. 

-- Por que não está treinando com a gente? – Perguntou o estranho, recebendo uma resposta vaga do moreno que foi logo beber água.

Estava perto da sala de teatro quando viu que Peter estava próximo dali. Foi até ele, notando como parecia distraído, ou melhor, muito focado em algo. Foi quando percebeu o que tomava a atenção do rapaz.

O garoto estava nas portas da quadra fechada, onde provavelmente deviam acontecer as aulas de basquete e futsal, mas naquele momento, tudo o que Tony podia ver eram enormes tecidos vermelhos ou pretos, presos nas barras de ferro do teto, nas quais uma ou duas meninas tentavam se pendurar. Com exceção das duas, a quadra estava vazia, mas Peter continuava olhando e o moreno se perguntou o que ele procurava por ali.

-- Namorada? Irmã? Peguete? – Perguntou com deboche, parando ao lado dele. O garoto suspirou, cansado das brincadeiras, mas não se moveu. – Sua admiração secreta, então?

-- Vamos voltar. – Peter disse, voltando a andar em direção à sala de teatro.

Tony deu de ombros, não entendendo o motivo do garoto não gostar dele. Ou talvez entendendo. Ele era aluno de teatro, então provavelmente estava se sentindo mal pelo que fizeram à Yao. Mesmo que o moreno não tivesse colocado a mão na massa, ou melhor, na tinta, ele fez parte daquilo.

-- Peter, não é? – Tentou mais uma vez, se irritando um pouco com o modo com que estava sendo tratado. – Vem cá, qual é seu problema, cara?

O garoto continuou andando, até entrar na sala escura outra vez. Tony o acompanhou, já sabendo que voltaria a ser invisível outra vez. Talvez fosse isso também. Sempre esteve sob os holofotes, na atenção de todos. O jovem gostava de ser visto, o que não acontecia agora.

-- Desculpe. – O garoto murmurou, pegando outra vez o rolo.

Tony o olhou surpreso, mas ele já estava de costas para si, voltando ao serviço de antes. Foda-se tambémGaroto confuso do caralho. Pensou ao voltar à atividade de antes.

P.S.: Eu te odeio Onde histórias criam vida. Descubra agora