Um Conto Qualquer

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Não sei se alguém vai se interessar em ler uma história como essa, afinal ela foi feita especialmente para a minha irmã mais velha. Mas, espero que gostem S2

Também postada no Spirit sob o nome kvothe_sphinx, que é o nome da minha conta principal aqui.

Boa leitura!! >.<

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A mais nova das duas garotas bisbilhotava a discussão com uma das orelhas rente à fresta aberta da porta. Não era nenhuma novidade, sequer algo interessante para uma criança daquela idade, mas sua curiosidade era demasiadamente grande para que conseguisse se controlar. Cada inspiração hesitante, no entanto, era o fruto de uma ingenuidade tamanha ao ponto de fazê-la acreditar que escutaria palavras gentis a qualquer momento.

E elas vieram:

— Não se preocupe, vai ficar tudo bem.

Estarrecida, tomava sustos com uma certa frequência, já que o tom brando que a dirigiam nunca vinha de quem ela gostaria. A frase foi pronunciada lentamente pela irmã mais velha, sentada ereta na cama de casal. Esta, por sua vez, possuía maturidade o suficiente para perceber o clima que rondava a casa, eram quase dez anos de diferença afinal.

Por conta disso, sabia exatamente o que sua pseudofilha precisava ouvir:

— Venha aqui! Vou te contar uma história. — Disse, sentindo uma leve queimação no canto dos olhos ao segurar a expressão chorosa.

A menina, quem apertava os nós dos dedos firmemente na maçaneta, soltou-a com velocidade espantosa. Assim que pulou no colchão desgastado, os gritos cessaram. Não que a briga tenha se findado, mas a esfera de proteção da irmã não permitia a entrada de nada que a machucasse e as principais delas eram, justamente, a voz grave do pai, que mais se assemelhava a um forte trovão, e a explosão de sentimentos da mãe, a qual podia jurar se igualar à perda de algo importante.

Sem se ater a esses pequenos detalhes, apenas aproveitou-se do cafuné que recebia e se atentou ao curto conto que se formava em sua mente. Um mundo perfeito e repleto de felicidade, porém, acima de tudo, imaginário. Um mundo em que sua família pudesse jantar tranquilamente sem que os problemas se esgueirassem pelos cantos escondidos da casa velha.

Aos sussurros, desejou a mais experiente:

— Durma com os anjos, pequena.

X—X—X—X—X

— Quarto 108, querida. — Informou a enfermeira parruda, enquanto ajeitava os óculos redondos na ponte do nariz.

Infelizmente, não dava para simplesmente avisá-la como eles deixavam seu rosto mais caricato. Por isso, dirigi-lhe um sorriso discreto e agradeci, contentando-me em seguir as regras de conduta social, que, misteriosamente, foi a única coisa que toda a humanidade entrou em consenso ou boa parte dela.

Por fim, fiz o trajeto indicado, vendo os números crescendo conforme eu adentrava mais a fundo o corredor extenso do primeiro andar. Nesse ponto, minha visão de cavalo ignorava minha frente e observava em silêncio as janelas milimetricamente idênticas, em busca de algo que me distraísse do que viria a seguir.

Vi um senhor que beirava a extrema magreza dormindo em posição de cadáver na maca. Talvez realmente o fosse, não saberia diferenciar.

O próximo estava aberto, com uma mulher baixa parada no batente, gritando com um jovem encolhido lá dentro. Foi uma daquelas cenas engraçadas de tão trágicas, com ela dizendo aos quatro ventos que o expulsaria de casa se continuasse se drogando. Sinto muito, mas eu ri internamente da veia saltada em sua testa e as gotas de saliva deixadas no chão limpo.

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