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quatro de dezembro

— Eu não sei o que fazer Bia, eu já tentei de tudo, até a caminhada era pra ela se abrir mais. Mas desde que Safira se foi, a Jade nunca mais foi a mesma. — Escutei a minha mãe conversando, aparentemente com a Bia. Eu sentia que estava em uma cama que não era minha e um leve incômodo no meu braço. 

— Dona Sofia, calma. Graças a Deus, dessa vez não deu certo. Agora ela vai procurar a polícia e ajuda psicológica. Ela não pode deixar se render assim. — Escutei minha melhor amiga responder.

— Onde foi que eu errei, Bia? Onde?

— Em lugar nenhum, mamãe. — Respondi, com o pouco ar que tinha, abrindo os olhos, e vendo que estava em um hospital. — Eu que deixei minha dor me sugar. Mas a Bia está certa. Eu não vou me deixar render assim de novo.

— A Bia tá sempre certa, que menina incrível, não? — Bia disse, enquanto saia do quarto, ela tinha essa mania de citar a si mesma na terceira pessoa.

— Bom, há quanto tempo estou desacordada?

— Dois dias.

— O que?

— Ja, tiveram que te sedar pra tirar todas toxicinas que você ingeriu.

— OK. E quando eu saio daqui?

— Só quando conversarmos, Jade. Prazer, sou o Doutor Ricardo, sua amiga informou que você acordou. Podemos conversar? — Disse enquanto abria a porta e adentrava no quarto.

— Acho que sim. 

— Bom, uma tentativa de suicídio é sério. Já retiramos tudo que você ingeriu, mas não posso deixar você sair daqui sem assistência psicológica. 

— Entendo. 

— O hospital tem atendimento gratuito pra pessoas como você. Você poderá sair daqui hospital às 18h se tiver passado na psicologia. 

— Entendido. 

— A área da psicologia e psiquiatria é no quarto andar, pede pra falar com o Rafael, e diz que foi o Ricardo que te mandou. Ele saberá o que fazer. 

vinte e nove de dezembro

Depois de três dias, eu já estava tomando remédios, e fazendo acompanhamento com o Rafael, que era o psicólogo que o Dr. Ricardo me mandou ir. A Dr. Gizela, que era a psiquiatra, me explicou que os remédios só sutiriam efeito completo após 30 dias de uso. Que eu ainda teria dias ruins, pra não me deixar levar. 

No dia um, com a minha queda, meu celular quebrou, então eu não tinha contato com o mundo exterior. Eu até poderia comprar outro, mas todos, e quando digo todos digo mamãe, Bia, meu psicólogo, até minha patroa, concordaram que seria bom eu dar um tempo de redes sociais e afins, então eu preferi não comprar um por agora, até o meu "castigo" passar. 

Dona Aline, como a maravilhosa patroa que é, me deu licença médica de 20 dias, e depois teríamos as férias coletivas. Então todo meu tempo eu passava com mamãe e Bia. Que insistiram tanto, e conseguiram me levar a polícia pra denunciar. 

Eu fiz a denúncia, o retrato falado, e até exames, graças a Deus aqueles crápulas não tinham passado nenhuma doença e nem me engravidado. Descobrimos que eles estavam fazendo isso há algum tempo, e eu era a oitava vítima, depois de mim, ainda tiveram mais sete. Conseguiram prender aqueles três monstros cinco dias antes do Natal. 

Hoje teria show do Luan, e a Bia queria que eu fosse com ela. Eu só não tinha decidido ainda. Decidi correr no jardim botânico, era o que me auxiliava. Quando a dor e pressão apertavam, eu corria. Isso todos os meus médicos concordaram que era saudável. E ninguém me impedia, apesar de eu sempre ter que falar pra onde ia, com quem e até que horas. Eu entendia a preocupação de todos. Já que eu não tinha celular, recuperei meu velho mp3. Ele me auxiliava durante as corridas. 

Eu estava correndo de olhos fechados. Um risco e tanto, eu sabia. Mas já conhecia o caminho, e Don't Stop Believing estava me movendo. Isso era outra coisa, eu tinha permissão para ouvir músicas que me colocassem pra cima. Nada de músicas tristes e dor de corno. De repente, sinto que bati em algo, e acabei caindo. Imediatamente comecei a rir. Onde você estava com a cabeça, Jade? Correr de olhos fechados, é lógico que ia dar ruim. Decidi levantar a cabeça pra ver em que tinha batido, e vi um par de sapatos. Ok, eu tinha que pedir desculpas. Quando subi meus olhos eu não acreditei. Ali estava ele. Alguém que eu nunca imaginei encontrar no jardim botânico. Nos olhos dele vi incertezas. Eu não podia pirar, nem entrar em tela azul, e fiquei ali, estagnada. Até que ouvi uma única palavra que me tirou do transe, ou me fez entrar em um transe diferente. Aquela voz que foi minha fortaleza em dias difíceis pronunciou meu nome. 

— Jade? 

Tentei levantar, e acabei caindo sentada. Foi onde tive outra crise de risos. E dessa vez aquela risada dele me acompanhou. Ele me deu a mão e me ajudou a levantar. 

— Luan, desculpa. — Eu tentava dizer em meio a risos. 

— Como é bom te ver. 

— Oi? Afinal de contas, como sabe meu nome? 

— Acho que temos uma longa conversa pela frente. 

Olhei meu relógio. Estava na hora de ir embora. 

— Eu meio que preciso ir, desculpa Luan. 

— Vem, eu tô de Van, te levo embora. 

E então, nós caminhamos até a Van. E assim que entramos, ele me encheu de perguntas. 

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