O7.

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O que era a risada da Jade? Meu ouvido queria ouvir aquilo pra sempre. Nem a música mais linda se comparava aquela risada.

Assim que entramos na Van, eu não poderia deixar ela escapar. Sentamos no fundo, e pedi pra equipe ficar sentada nos bancos da frente. Não queria ninguém nos bisbilhotando. Ela já tinha passado o endereço pro motorista.

— Jade, o que aconteceu? Porque não me respondeu?

— Oi? Não te respondi?

— É Jade. Depois que você me deu aquele adeus eu fiquei desesperado, achei que tinha morrido.

— Você via minhas mensagens?

— Bom você já viu que sim, agora pode me responder?

— Luan, eu realmente tentei morrer e não quero falar disso. Só o que você precisa saber é que agora eu estou me tratando. Estou caminhando pra ficar bem.

— Mesmo?

— Sim.

— E porque não me respondeu no Instagram?

— Porque meu celular quebrou, e meus médicos acharam melhor eu dar um tempo de tecnologia, então não tenho como responder ninguém. Eu nem sabia que você tinha me enviado mensagem.

— Você sabia que coloque minha assessora atrás de você? Ela ligou até pra sua patroa.

— Então foi você?

— Eu o que?

— Dona Aline ligou pra minha mãe dizendo que ligaram lá atrás de mim, mas não sabíamos quem era.

— Bom, agora você já sabe...

Um silêncio tomou conta da Van. Ela parecia estar com a cabeça no mundo da lua.

— Jade. — Chamei enquanto ela olhava pra janela. Querendo ainda sua atenção.

— Hum. — Ela resmungou me olhando com aqueles olhos castanhos brilhantes. Parecia ter lágrimas, mas não quis questionar o porquê. E se fosse sobre a tentativa de suicídio? Ela não iria querer falar.

— Você vai no show hoje? — perguntei, esperando que ela desse uma resposta positiva.

— Ah. A Bia quer ir, mas não sei se vou.

— Vai sim. Eu passo pra buscar vocês as 21h. Só entro no palco as 23h. Vocês ficam comigo no camarim esse tempo.

— Certeza, Luan?

— Certeza. Quero ter certeza que você não vai sumir de novo.

— Tá bom, eu vou.

Nesse momento, a Van parou. Ela olhou pela janela.

— Bom, chegamos. As 21h te espero aqui no portão.

E me abraçou. Senti seu cheiro. Ela cheirava a nada específico. Mas era algo tão gostoso. Era cheiro de Jade. Fiquei sem reação e sorri. Ela agradeceu e deu tchau a todo mundo. Pedi pro motorista esperar ela entrar pelo portão.

— É chefinho, parece que alguém tá ferrado.

— Well, se quer manter seu emprego, fecha essa boca.

E então ele riu. E partimos em direção ao hotel.

×

Às 20h eu estava pronto, e jantando. O que era um milagre, eu sempre me atrasava. Well olhava e ria. Eu queria dar um soco nele.

Partimos pra casa da Jade, que era um pouco distante, e estava tendo trânsito.

Pedi ao motorista parar em uma loja, tinha visto na vitrine algo que combinava com Jade. Dei meu cartão e mandei Well comprar.

Mesmo com transito e paradas, chegamos a casa de Jade uns minutos antes. Vi uma senhora, muito semelhante a ela olhar pela porta, sorrir e entrar em casa novamente. Na hora eu soube que era Dona Sofia. Jade saiu uns minutos depois, com uma calça jeans, uma regata branca e um blazer rosa, e uma maquiagem leve. Ela nem precisava de maquiagem. Era linda toda suada correndo, e esbarrando em mim por aí. Ao lado dela, estava Beatriz, sabia quem era pelas fotos. Bia, como Jade a chamava, estava com uma saia de couro, uma camisa de alguma banda de rock, e um blazer também de couro. Uma maquiagem mais carregada. Well abriu a porta da Van, e ajudou as duas a subirem na Van. Eu me perdi no sorriso que a Jade deu ao me ver. Eu nem sabia que um bendito sorriso podia ser tão perfeito. Partimos pro show conversando amenidades. Dei minhas entrevistas, tirei foto com as minhas fãs (sempre é um dos meus momentos preferidos). Tirei foto com Jade e Beatriz. Comemos. Fiz a Jade comer, Bia tinha dito que ela não andava comendo. E então falei pras duas assistirem o show do palco.

×

Quando acabou, levamos a Beatriz até a casa dela, que me abraçou e agradeceu. E ainda disse pra cuidar bem da amiga dela, que se eu quebrasse o coração da Jade, ela me quebraria na porrada. Dei risada, mas que cisma era essa que eu e Jade éramos algo a mais? Eu era só um ídolo preocupado. Estávamos sentados no mesmo lugar de antes, indo pra casa da Jade, quando ela virou pra mim, segurou a minha mão.

— Luan, obrigada. Obrigada por tudo. Por hoje, e por antes. Mesmo sem saber, você muitas vezes evitou que eu tentasse acabar com a minha vida. — Ela disse olhando nos meus olhos, e lágrimas escorriam dos seus olhos. — Obrigada por ser quem é. E perdão por ter te preocupado. Prometo que não vou mais tentar tirar minha vida. Não é o que Safira queria.

Nessa hora lembrei da pulseira, e do bilhete que eu coloquei na sacola.

— Você ama Safira demais, né? — Perguntei. Já sabendo a resposta. Só esperando ela falar mais. Aquela voz delicada dela era como melodia pra mim.

— Amo. Ela voltou a visitar meus sonhos depois que fui a polícia. — Eu abri minha boca pra perguntar, ela ergueu a mão me impedindo de falar. — Sim, eu denunciei, e eles já estão presos...
Nessa hora a Van parou. Ela veio me dar tchau, mas desci da Van com ela.

— Well, me dá a sacola.

Entreguei pra ela. Ela fez que iria abrir. Mas eu não deixei.

— Abra na sua casa. Eu já tenho seu endereço, assim que tiver um espacinho na agenda, venho te ver.

— Luan, não precisa se preo...

— Não precisa mas eu quero, — a interrompi — agora descansa. E me da um abraço.

Foi difícil soltar os braços dela. Uma lágrima escorria quando a soltei, e eu a limpei. Demorei com os dedos em seu rosto. Quis a beijar, mas não o fiz. Não era momento. Ela sorriu, mesmo com os olhos marejados, e entrou saltitante - como meu coração estava naquele momento.

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