Depois que o Luan me deixou em casa, pedi para minha mãe ligar pra Bia, pra ela vir se arrumar em casa comigo. Que nós já tínhamos carona pro show, corri pro banho, e até lavei o cabelo que não estava nos meus planos.
Assim que saí só de toalha pro meu quarto encontrei Dona Sofia e Beatriz sentadas na minha cama. Atentas.
— Posso saber o que as duas estão fazendo aqui?
— Queremos saber de tudo - minha mãe falou.
— Tudo o que?
— Do nada você decidiu ir pro show, e até arranjou carona. — Bia respondeu.
— Sem contar que foi correr, e chegou numa Van que nunca vi. — Minha mãe completou.
— Será que as duas podem me deixar colocar a roupa e depois conversamos?
— Querida? Tá louca? É Dona Sofia, Jade pirou de vez.
— Não, neném, eu só estou pelada Beatriz.
— Nada que eu não tenha visto antes e nem tenha igual, Jade.
— Sem contar, que eu aqui, te vejo pelada desde que você nasceu.
— Para de enrolar, e desenrola Jade.
— Entendi, a dupla dinâmica não vai me deixar fazer nada sem contar.
Comecei a contar das mensagens, que elas não sabiam. Bia achou magnífico, enquanto minha mãe achou loucura eu enviar mensagem pra um desconhecido, mesmo que famoso. Contei que ele quem mandou ligar no ateliê atrás de mim. E contei do nosso encontro no parque, e da carona. Enquanto colocava minha roupa, e penteava meu cabelo.
— Então quer dizer que você encontrar o Luan hoje foi por acaso?
— Foi mãe, puramente sorte. Ou destino, sei lá.
— E a gente vai no show do Luan Santana com o Luan Santana?
— Vamos, Bia. Ei, mãe. Vamos com a gente.
— Que?
— É tia, — Quando não era pra implicar comigo, Bia chamava minha mãe de tia — vamos com a gente.
— Não, não, hoje não dá. Mas aproveitem por mim.
Nos arrumamos, e quando a Van chegou, uns minutos antes, eu já estava pronta, mas a enrolada da Beatriz ainda estava se maquiando. Assim que ela ficou pronta, demos um abraço em minha mãe, e saímos.
— É o seguinte — Bia começou enquanto íamos para Van, — se você não quiser ele, e ele me quiser, eu vou pegar. Não tô nem aí. Não é sempre que tem a oportunidade de ficar com o Luan Santana.
Eu não fiz nada, além de rir. O Luan era só um ídolo preocupado, e eu uma fã que nunca teria chances.
Assim que entramos na Van, nossos olhares se encontraram, e eu não consegui segurar o sorriso. Sentei ao seu lado e partimos.
No camarim, comemos, tiramos fotos. E enquanto o Luan atendia imprensa e fãs, eu e Bia ficamos conversando.
— Ja, eu não sou fã do Luan, não como você. Mas eu acho que ele te olha como se você fosse de porcelana e pudesse quebrar. Parece que ele moveria o mundo pra você não machucar.
— É só como ele olha pra todas as fãs, Bia. Para de loucura.
— Não é não. Ele tá rodeado de fãs. E o olhar é de amor, carinho, gratidão sim, mas pra você, é como se fosse a joia mais preciosa do mundo.
— Beatriz. Não se iluda, e nem me iluda, ok menina?
Ela riu, e o Luan nos chamou pra tirar foto com ele. Depois disse que poderíamos assistir o show do palco, e assim foi. Durante todo o tempo que estava com o Luan, eu conseguia segurar a emoção e não chorar, mas vê-lo cantar, tão de perto, foi muito complicado. Aproveitei que só a Beatriz iria ver, e soltei minhas lágrimas. Pela primeira vez, em muito tempo, lágrimas de alegria. Eu ainda sentia falta de Safira, principalmente quando Luan cantou suas músicas antigas, que ela amava, mas tinha certeza que ela estava bem, nos meus sonhos ela aparecia sorrindo e me fazendo carinho.
Mamãe parecia mais feliz também. Sorridente e cantarolando pela casa, coisa que eu não via desde que papai morreu. Falando em papai, ele também estava mais frequente em meus sonhos. Segurava minha mão. Eu estava aprendendo que não podia mudar essas situações, mas podia aprender a conviver com elas. Era difícil viver sem papai e Safira, mas eles sempre estariam no meu coração. E naquele momento do show, com Luan cantando, eu vi que ainda poderia ser feliz, se me permitisse.
Meu acesso a tecnologia era restrito, mas eu podia tirar fotos. E Bia fez exatamente isso. Tirou muitas fotos nossas, fez vídeos nossos cantando e dançando durante o show. Enviava todos para minha mãe, que mandava áudios feliz pela gente. Era um dos melhores momentos da minha vida, mesmo em meio a minha doença. Eu estava extremamente bem naquele momento. Se tinha influência dos remédios? Não sei. Mas ali, entender que minha vida é muito mais que minha dor, muito mais que meu sofrimento, me deixou extremamente bem. Coisa que não estava há dois anos.
Depois que ele me deixou em casa, e de toda aquela conversa sentimental, entrei com todo cuidado pra não acordar mamãe. Foi quando a ouvi sussurrar:
— Eu sei que vocês estão juntos, e cuidando da nossa menina. Safira, Joarez, só queria agradecer por não abandonarem a Jade. Nossa menina precisa, e sente tanta falta de vocês.
Nessa hora parei de ouvir. Mamãe como eu sentia falta de papai, de Safira. E ainda pedia para que eles cuidassem de mim, fui pro meu quarto, quase me esquecendo da sacola em minhas mãos. Sentei na cama, e abri. Dentro tinha um envelope e uma caixa. A sacola eu reconhecia da joalheria que Dona Aline sempre comprava. Abri primeiro o envelope. Nele tinha um bilhete.
"Sempre que precisar, procure por mim.
SEMPRE que quiser se lembrar, de mim ou dela, toque nesse presente.Beijos, Luan"
No verso do bilhete tinha um número de telefone e escrito: esse é segredo. Não passe pra ninguém.
E então abri a caixa, dentro tinha a pulseira mais linda que já tinha visto. Delicada e pequena, com pequenas pedras espalhadas nela. Olhei mais de perto, e as reconheci.
Eram pedras preciosas. Pedras de Safira.
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Safira
FanfictionJade Magalhães é uma estudante que batalhou muito em sua vida. Perdeu familiares e acabou desenvolvendo depressão. Luan Santana é um cantor de grande nome, com uma rotina lotada de shows e trabalhos. Começa a receber directs no Instagram de Jade. Um...