Elevador

966 104 118
                                    

(Presentinho de agradecimento pra vocês)


 Alexander Lightwood detestava reuniões simplesmente porque detestava ficar trancado numa sala cheia de velhos rabugentos que não aceitavam opiniões alheias e se achavam os donos do mundo, mas para sua infelicidade, não havia como escapar daquela tortura, já que era o assistente pessoal, quase igualitário do grande advogado Ash Morgenstern.

Ash era um bom chefe, e até mesmo amigo de Alec, muitas vezes oferecendo pausas sutis quando a coisa ficava feia em alguma reunião, mas Alec era profissional, um advogado quase tão renomado quanto o amigo, e recusava a oferta de descanso fora de hora, sempre se mantendo firme e forte para ajuda-lo nas questões jurídicas mais complicadas da empresa.

Hoje eles teriam uma reunião às 9h30 com os mesmos velhos rabugentos que não aceitaram um acordo no mês passado, e Alec já acordou naquela manhã respirando fundo, repetindo para si mesmo que o salário era divino e o ajudava a pagar a faculdade de seus irmãos caçulas, Gideon e Gabriel.

Gideon tinha 22 anos, apenas um a mais do que Gabriel, e ambos cursavam Literatura na Universidade de Nova York.

Alec os amava mesmo os vendo pouco, ao contrário do pai que praticamente sumiu do mapa depois que a mãe morreu.

Ter notícias de Benedict era o mesmo que ter notícias de uma sereia perdida no mar... não existia.

Alec até cogitou a possibilidade de usar seus recursos de advocacia para localiza-lo, apenas para saber se ele ainda estava vivo, mas decidiu que não valia o esforço.

Nenhum dos três irmãos sentia a falta dele, estavam ocupados demais vivendo suas próprias vidas.

Alec pelo menos tentava viver o máximo que seu tempo fora do escritório permitia, mas no auge de seus 32 anos ele às vezes sentia que na verdade tinha 60 e só queria ficar em casa.

Seus planos para hoje eram esses mesmo, tomar um bom banho, um bom café, aturar duas horas de reunião sem assassinar ninguém, organizar papeladas no escritório por mais um tempo e depois voltar pra casa afim de se esparramar na cama com uma bela taça de vinho enquanto revirava o catálogo da netflix.

- Vai ser perfeito. - Ele disse para si mesmo, se espreguiçando na cama antes de se arrastar pro chuveiro.

Gostava de ter a vida organizada numa agenda mental, onde nada dava errado... pelo menos até aquele dia.

Alec se arrumou com um terno simples de delicadas riscas de giz, tomou seu precioso café e saiu pela porta com a pasta na mão, 8h em ponto.

Daria tempo suficiente de passar na sua lanchonete favorita e comprar uma das rosquinhas deliciosas que complementavam o café da manhã de cada dia.

Ele estava tão distraído pensando nos sabores das rosquinhas enquanto caminhava pelo corredor que não percebeu quando esbarrou num papel grudado no elevador, o mesmo papel que voou para dentro junto com ele e outra pessoa que surgiu correndo e gritando para segurar a porta.

A pele de Alec se arrepiou instantânea e involuntariamente mesmo sem olhar para o foco daquela voz, mas esticou a mão e segurou a porta antes que ela fechasse.

- Obrigado. - A voz cantarolou, e Alec virou a cabeça para observar um homem ao seu lado, aparentemente asiático e com um terno quase extravagante demais para qualquer profissão que Alec pudesse pensar.

- De nada. - Foi tudo o que disse antes das portas fecharem por completo e o elevador começar a se mover.

Alec morava naquele prédio há quase 8 anos e nunca o elevador se moveu daquele jeito, com um solavanco assustador seguido de um estrondo.

Stuck with the devil - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora