Capítulo I

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Mas, afinal, quantas coisas calamos, mas que precisavam ser ditas? Quantas vezes esperamos o momento certo pra dizer essas coisas que precisam ser ditas? E se não existir o momento certo? E se existir, e se ele não chegar?  E se ele já chegou? E se já passou? E se o momento exato, o dia exato, a hora exata for o agora? E se eu deixar passar? Respirei fundo, juntei cada pedacinho de coragem que me restava e disse:

       ---- A gente não funciona mais. ---- Eu disse com lágrimas nos olhos.

       ----Eu sei, Bárbara. ---- Cecília disse completamente sem expressão.

       ----Como foi que chegamos até aqui?

   ---- Oi! ---- e congelei. Eu fiquei parada olhando fixamente pra ela, enquanto ela respondeu alguma coisa que eu não pude escutar, a música estava muito alta ou eu já tinha bebido demais? O que eu faço agora? O que se diz depois do “oi”? ----Eu não entendi o que você falou! ---- Eu disse tentando falar mais alta que a música, e se eu estiver completamente bêbada e gritando? Por que eu fui beber pra começo de conversa? 

     ----A música tá muito alta! Eu consigo te escutar.---- ela gritou. Depois colocou a boca perto da minha orelha e disse: ---- Você parece ser muito legal, vamos sair qualquer hora, hoje eu tô aproveitando com umas amigas. ---- e apontou para um grupo de meninas que estavam cantando a música ou gritando, talvez mais bêbadas que eu.
    Ela pegou a minha mão e escreveu seu número de telefone, beijou minha bochecha e foi embora, andando entre a multidão até encontrar suas amigas. Eu fiquei lá parada em transe, pensando "de onde ela tirou essa caneta?".
    As luzes piscando dão a sensação de que todos estão em câmera lenta, a música é muito alta e eu já havia bebido demais, talvez a letargia tenha feito parecer que ela estava indo embora como nos filmes, um momento dramático. Será que eu iria vê-la novamente? Olhei para os números e letras escritos na palma da minha mão, naquele momento eles não faziam sentido nenhum.
   Voltei para a roda de amigos e o Léo estava me olhando com cara de ansioso.
    ---- E aí, amiga?! Como foi? ---- ele falou com animação.
    ---- Acho que ela escreveu o telefone dela na minha mão. ---- eu disse mostrando-a, ele parecia muito animado com tudo aquilo.
    Passamos o resto da noite dançando, bebendo, tentando nos comunicar gritando. Sair com o Léo sempre era divertido, o conheci na faculdade havia cerca de um ano e meio, mas sentíamos como se sempre tivesse sido assim, uma ligação forte com uma pessoa totalmente diferente de mim, quase todas as nossas características eram exatamente o oposto, mesmo assim, estávamos sempre juntos.
    "Mãe, vou dormir na casa do Léo, não me espera hoje" enviei para Olga, minha mãe, às 01:35 am quando eu já estava na casa dele.
    "Amanhã a gente conversa, Bárbara." Ela respondeu cerca de 2 minutos depois, eu gelei, mas o que estava feito, não poderia ser desfeito.
    Tomei um banho de água fria, mesmo depois disso eu ainda estava meio tonta, sentindo um pouco de enjôo. Deitei e olhei pela última vez para minha mão riscada, os números e letras já estavam um pouco apagados, mas ainda eram legíveis. Ela escreveu:

"Manda uma mensagem
(00)90365-6700
XOXO"

    "Ah, não, uma fã de Gossip girl?" ---- pensei inconformada.  E cai no sono.

   

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