Capítulo Único

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Mesmo com o corpo dolorido e ferido, e mesmo ainda esgotado, decidira ir. Seu rosto, com alguns curativos, além das bandagens em volta da cabeça, não o impediriam de estar ali.

Nem mesmo o ressentimento do irmão da falecida Okita Mitsuba o impediria de estar no funeral dela.

Era o mínimo que poderia fazer por ela, depois de ter sido tão covarde por tanto tempo.

Em consideração a ela e a Sougo, fizera-se presente, bem como os demais homens do Shinsengumi, liderados por Kondo. Não estava vendo ali o sádico Capitão da Primeira Divisão, Okita Sougo. Conseguia enxergar apenas Sou-chan, irmão de Mitsuba.

"Eu quero estar do seu lado.", ela lhe dissera anos atrás, às vésperas de sua partida a Edo, junto com Sougo e Kondo.

"Eu não me importo.", era sua resposta. "O que acontece com você não me interessa."

Sempre havia dado respostas evasivas. Sempre agira como covarde. Sempre ignorava o que ela dizia e o que seu coração sentia. Sempre procurava fugir de tudo isso. Por ironia, anos depois, era o destemido "Vice-Comandante Demoníaco" Hijikata Toushirou.

Uma bela fachada para um covarde, isso sim. Um covarde que procurava não olhar nunca para trás, com medo de retroceder.

Quando tivera a chance, não teve coragem de revê-la. Mesmo com a insistência de um preocupado Yamazaki.

Mesmo pensando em não fazê-la sofrer, era um covarde. Rejeitando-a para o bem dela, visto que sempre corria o risco de morrer em qualquer operação do Shinsengumi... Ainda assim, sentia-se um covarde.

Se ao menos tivesse aproveitado as oportunidades que apareceram... Apenas uma oportunidade para dizer a ela tudo o que queria lhe dizer...

Ou, pelo menos, se tivesse surgido mais alguma oportunidade antes de Mitsuba morrer...

Apesar daquela fachada de durão, ele sabia que seu coração doía, e muito. Doía de remorso, de arrependimento, de culpa... Doía muito. Tanto, que se tornava difícil manter a expressão impassível que exibia o tempo todo.

Ao final de tudo, saiu logo dali. Precisava ficar só. Passou por Gintoki, que também estava lá. E como estava envolvido naquela história, sabia muito bem o que o moreno iria fazer.

― Ei, não se esqueça disto. – o albino disse, após jogar-lhe um pacote de biscoitos apimentados, carregados de tabasco.

― Eu nunca escapo de ver a sua cara mesmo, não é, Yorozuya...?

Apressou o passo e se afastou. Com o casaco sobre os ombros, procurou por um lugar afastado o bastante para que não fosse encontrado. Ao ver-se completamente isolado de tudo e de todos, abriu aquele pacote lentamente. Pegou o primeiro biscoito, já com a mão trêmula, com os olhos ardendo e com aquele incômodo nó na garganta.

Fechou fortemente os olhos azuis e deu a primeira mordida. O gosto excessivamente picante veio na boca, ao mesmo tempo em que as primeiras lágrimas surgiam, mesmo com os olhos fechados.

― Apimentado demais...! – murmurou com a voz embargada e começou a mastigar. – Tão apimentado que saem lágrimas dos meus olhos...!

A cada mordida, a cada mastigada, sua boca queimava mais e mais com aqueles biscoitos extremamente apimentados... Do jeito que Mitsuba gostava. E vício em condimentos era apenas uma das coisas que tinham em comum. Ela, em pimenta tabasco, ele, em maionese.

A cada porção de biscoito apimentado que engolia, mais lágrimas escorriam por sua face e a encharcavam. E, entre soluços, continuava a murmurar sobre o fato de os biscoitos estarem apimentados demais. Tentava disfarçar a frustração e o arrependimento por não ter conseguido corresponder o afeto de Mitsuba... A quem ainda amara, mesmo depois de anos e mesmo distante.

Fukuchou no nagekiOnde histórias criam vida. Descubra agora