vi baleias voando enquanto aguardava atravessar a rua. era uma esquina como tantas outras, mas com um quê de maleável: o chão não costuma se mexer, brincar de ondas e confundir a cabeça como se baixo, meio e cima fossem um. mas, ali era. uma menina brincava de pular enquanto a mãe segurava o braço, a gravidade piscando, o sinal ficou azul, depois roxo. andamos, um do lado do outro, pisando em pedras flutuantes e ouvindo uma nota a cada passo, um mar de passos, uma orquestra montada pelo próprio mundo no meio da cidade enquanto as baleias espreguiçavam-se pelo céu, demoradas, arrastadas, empurradas pelas nuvens ou as nuvens sendo empurradas. descemos as escadas da estação até o topo, alguns já nem tão apressados porque bastava um botão do elevador e estaríamos no destino, mesmo com aquele enjoo costumeiro. não pode ler no elevador. e, de repente, silêncio. o cenário foi puxado, repuxado, esticado até o limite, fui até depois do limite e senti meu corpo como nunca antes: o tornar-se imaterial. como num sonho, acordei.
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Que tudo seja azul
RandomCompilado de textos sobre as mais diversas temáticas, a maioria proposta em um grupo de escrita. Não há um gênero fixo ou tamanho delimitado.