88º Capítulo - Clara

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_ SOCORRO! – exclamei ao entrarmos o local. – SOCORRO, UMA MACA!

Mamãe estava paralisada nos braços de papai, ainda tentando entender o sangue em suas pernas, resistindo bravamente às dores que sentia. Papai segurava as lágrimas e respirava fundo, aguentando o peso de mamãe e do desespero.

De repente, alguém tocou meu ombro.

_ Clara? – escutei em seguida uma voz vagamente conhecida.

Virei-me para trás assustada e dei de cara com Heitor, o médico que me atendera meses atrás, pouco antes de irmos para a sede dos Luminescentes, quando cortei uma das mãos com um copo de vidro.

_ Heitor! – exclamei, segurando seus ombros. – Pelo amor de Deus, socorra minha mãe!

Confuso, mas ágil, ele assentiu, começando a dar ordens em seguida:

_ Rápido, uma maca! Tragam soro e um par de luvas. – depois, correndo os olhos de mim para meu pai, sussurrou: - Vai ficar tudo bem.

Assustada e sem saber o que fazer, balancei a cabeça em sinal positivo e observei-os colocar mamãe na maca e partir rumo a um dos quartos daquele lugar, lado a lado com meu pai.

Paralisada, sussurrei:

_ O carro.

_ O quê? – perguntou papai, passando uma das mãos pela testa a fim de minimizar o suor.

_ Vá buscar o carro. – repeti, voltando-me para ele.

_ Ah, meu Deus! – exclamou quando se deu conta. – É verdade, o carro!

E, assim, saiu correndo porta afora para resolver mais um problema, deixando-me sozinha, de pé, parada em meio a recepção.

×××

_ Clara? – chamou meu pai após longos minutos ausente quando adentrava o pronto-socorro.

Eu estava sentada em uma das cadeiras desconfortáveis do lugar, com as mãos segurando a cabeça e os cotovelos apoiados nos joelhos, ainda sem nenhuma notícia de mamãe e nenhum sinal de Heitor.

Quando ouvi meu nome, fiquei de pé.

_ Sim? – respondi, observando-o se aproximar.

_ O carro foi guinchado. – respondeu.

_ O quê? – exclamei.

_ Preciso resolver este problema agora mesmo enquanto ainda fazem o boletim na delegacia. Vou explicar a situação e...

_ Senhor Ícaro? – repentinamente Heitor surgiu atrás de meu pai.

_ Doutor!

_ Receio que precise de um documento assinado por mim para evitar a perda do veículo. Vou pedir à secretária que prepare tudo, venham comigo.

A passos largos, seguimos até a recepcionista e escutamos o rapaz transmitir as instruções à moça.

_ Demorará uns dois minutos. Enquanto isso, os atualizo sobre a senhora Lucy.

_ Tudo bem. – concordou papai parecendo mais aliviado.

_ Até agora temos poucas informações reais, apenas hipóteses, mas resolvemos coloca-la no soro pois sua pressão estava baixa, evidenciando fraqueza. Preferimos dar-lhe um analgésico contra a dor, mas tomamos cuidado para não oferecer riscos ao possível bebê que sua esposa carrega no ventre.

_ O quê? – exclamamos eu e papai em uníssono.

_ Como eu disse, não é uma informação real, apenas a hipótese mais óbvia. – o médico reprimiu um sorriso. – Mas acho que estou certo.

Engoli em seco.

Ai. Meu. Deus.

_ Independente disso, Lucy acabou pegando no sono devido aos efeitos do remédio, sendo assim, só poderei realizar a ultrassonografia quando ela acordar.

_ Mas até lá ficará tudo bem com ela? – questionou papai, trocando o peso dos pés.

_ Sim, com ela e com o bebê. – respondeu ele sorrindo. – Agora só nos resta esperar.

"... Com o bebê..." Pensei. "O bebê"... Um bebê...

Meu mundo ficou lento.

Não era possível.

Pelo canto do olho, vi Heitor assinar uma folha e papai toma-la nas mãos. Em seguida, virar-se de costas e começar a se afastar.

Ele ia resolver o problema do carro para, em seguida, voltar e assistir a ultrassonografia. Para ver o possível, mas impossível, bebê.

Lentamente, fui sentindo a cor sumir de minha face.

Um bebê... Um irmão... Mamãe... Grávida...

Impossível.

Minha vista escureceu e senti a tontura me desestabilizar. Só então ouvi Heitor chamando meu nome.

­ ­_ Clara? Clara, você precisa se sentar.

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora