Todos os meus músculos tremiam, embebidos em pavor. Minha cabeça doía e meu coração estava à mil por hora.
Quando o gel desconfortavelmente gelado foi espalhado cuidadosamente em toda a extensão de minha barriga, senti vontade de fugir, mas Ícaro segurou minha mão. Clara encarou meu rosto e sorriu tristemente, tentando expressar compreensão, mas era impossível entender o que acontecia.
Grávida? Estávamos prestes a saber.
_ Preparada? – perguntou Heitor. O aparelho à milímetros de minha pele.
Mordi os lábios, fechei os olhos e assenti. Meu marido apertou mais meus dedos entre os seus.
Será possível que mais uma vez o destino brincaria comigo?
_ Sim. – murmurou Heitor. Arregalei os olhos, assustada, como se o médico acabasse de responder a meus pensamentos. – Sim, sim... – continuou para si mesmo.
Respirei fundo.
_ Sim...
_ Sim o quê? – exclamou Clara, de repente.
Todos demos um pulo de susto.
_ Desculpem... – pediu, envergonhada. – Mas não deu para aguentar.
_ Bem, senhora Lucy... – começou Heitor, transcorrendo o objeto frio para lá e para cá em minha barriga, os olhos fixos a tela cuidadosamente colocada ao lado da cama. – Sim. Está vendo aqui? – perguntou, apontando com o indicador um pontinho escuro da tela.
_ Parece uma mancha... – comentei. – É um tumor? – exclamei, repentinamente ponderando o câncer e me lembrando em um segundo de tudo que passamos com mamãe.
Ícaro tremeu por inteiro. Heitor riu.
_ Não. É seu filho.
Perdi o chão. Clara levou lentamente as mãos à boca e sentou-se na cadeira bruscamente, fazendo um ruído seco se espalhar pela sala silenciosa.
Meu marido sequer respirava. Apenas apertava com força minha mão.
_ Ainda não dá para saber o sexo. Pelo tamanho do embrião, está com cerca de dois meses, dois meses e meio... – explicou o médico, afastando enfim o aparelho de mim e limpando a gosma sobre minha pele. – Bem em tempo de iniciar o pré-natal!
_ E agora? – sussurrei.
_ Agora vou encaminhá-la a um amigo ginecologista e obstetra para acompanharmos o crescimento do bebê e, quando chegar a hora, fazermos o parto. – respondeu atenciosamente Heitor.
A questão é que a pergunta não fora feita para ele, e sim para mim mesma. E agora?
Jamais houve um caso de dois filhos entre as mulheres e toda a geração de minha família. Mas essa tradição havia mudado... Como disse meu marido, desde que vovó teve uma filha com um membro do Caos, nada mais era impossível. Nem mesmo dois filhos.
_ Heitor, por que mamãe passou tão mal? – quis saber Clara, quebrando o silêncio do lugar.
_ Parece que o organismo dela queria expulsar o bebê, porque via o feto como um "objeto estranho", digamos assim, e tentava livrar-se dele. Graças a Deus, nada parece ter acontecido, só precisamos medicar sua mãe para ajudá-la neste período decisivo da gestação e acompanhar de perto o desenvolvimento da criança.
_ Muito repouso precisa ser feito, certo, doutor? – pronunciou-se Ícaro pela primeira vez após a confirmação. Seus olhos estavam fixos em minha barriga.
_ Certíssimo. Nada de esforços desnecessários, nervosismo ou notícias chocantes. Os próximos meses serão de férias relaxantes para a senhorita aqui. – afirmou, piscando para mim com um sorriso no rosto.
Desviei os olhos.
E agora?
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasyClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...