O futebol nunca foi o meu forte – aliás, como os esportes em geral. Lembro-me, quando garoto, do tédio que sentia nas tardes dos fins de semana, quando algum jogo importante mobilizava meus colegas e me deixava em profunda solidão – que se estendia ao dia seguinte, quando discussões acaloradas sobre tal e qual jogada me deixavam à margem. Creio que foi por isso que, por volta dos 13 anos, descobri e me deslumbrei com a natação. A partir daí, pude me sentir à altura dos meus amigos: eu agora também praticava um esporte, como todo homem deveria fazer. Não era o futebol, mas era, sim, um esporte.
Adotei a prática da natação como uma rotina em minha vida, embora em algumas fases – algumas mais longas, outras passageiras – a tenha abandonado. E foi por causa da natação que conheci Camilo.
Eu praticava em um clube próximo à minha casa. Era um clube grande, bastante caro, mas eu não era sócio: havia um programa para uso exclusivo das piscinas por uma mensalidade razoável. As duas piscinas – a coberta, aquecida, e a outra, maior, nos padrões oficiais – podiam ser utilizadas todos os dias úteis em horários determinados (logicamente, aqueles menos frequentados pelos sócios). O vestiário, comum aos praticantes de todas as atividades físicas, era limpo e bem cuidado e, com o pagamento de um pequeno acréscimo mensal, eu tinha direito até a um armário privativo e serviço de toalhas. Todas as demais instalações do clube (exceto o bar) me eram vedadas, mas elas não me interessavam. Enfim, era perfeito.
Meu horário me permitia nadar após o trabalho, quando em geral estava caindo a tarde, já no finzinho do período permitido pela mensalidade que eu pagava. Depois de um ou dois anos de frequência, naturalmente fiz algumas amizades, mas nada realmente muito forte. Em geral, terminava o treino, tomava banho no vestiário e ia embora sem maiores delongas. Uma ou outra vez comi algo no bar. Como morava próximo, me abastecia das proteínas pós-treino em casa. Mesmo após a separação de minha mulher – quando deixei de contar com a cozinheira que me preparava um lanche tão frugal quanto balanceado –, preferia comer em casa do que no bar, mesmo tendo ele um cardápio bem interessante para desportistas.
Por alguma razão inexplicável, um dia dei uma atenção maior a um rapaz no vestiário. Não por atração física, mas por seu comportamento ter me intrigado. Nunca havia prestado muita atenção no que se passava em torno de mim no vestiário, mas o fato de ele entrar no chuveiro de sunga e carregando a toalha me fez observá-lo. Explico melhor: diferentemente de muitos vestiários, as duchas eram separadas por paredes, como que cada uma numa espécie de cabine sem porta. O arquiteto, talvez devido a alguma história homossexual mal sucedida (sabe-se lá...), tomou cuidados para que os usuários não se tocassem ou mesmo se vissem durante o banho, levantando paredes entre os chuveiros. Assim era, embora parecesse uma maluquice: se ninguém se via enquanto tomava banho, todos tinham que se expor nus antes e depois, como em qualquer vestiário, porque as cabines, além de não terem portas, não possuíam ganchos ou quaisquer dispositivos que permitissem pendurar sungas, toalhas ou quaisquer coisas. Só havia o chuveiro, a torneira e uma saboneteira de louça, embutida numa das paredes divisórias. Assim, os frequentadores pegavam suas coisas nos armários, colocavam no banco, frente à cabine que iriam utilizar, e entravam na cabine já nus. Terminado o banho, eram obrigados a sair para pegar a toalha e, naturalmente, secavam-se ali, junto ao banco, completamente nus – e, nos horários mais cheios, uns ao lado dos outros. Vai entender...
O vestiário consistia num longo salão com pé direito bem alto. Ao se entrar, havia uma antecâmara com duas máquinas de autosserviço: numa delas, os frequentadores pegavam sandálias de borracha para uso durante o banho; na outra, aqueles que pagavam por isso pegavam toalhas limpas, também mediante a digitação da senha. Ao lado, havia duas aberturas na parede para a devolução de ambas as coisas. Não havia funcionários para fiscalização, pois imagino que, dado o tipo de frequentadores, fossem raros os espertinhos que não fizessem a devolução na saída. Na parede em frente, havia um grande armário metálico com diversos nichos, semelhantes a estes que se encontram em aeroportos, para guardar as mochilas daqueles que não utilizavam os armários pagos. Cada nicho tinha uma chave presa à porta, que se abria quando ela era girada e que se soltava ao ser fechada. O sujeito, assim, chegava, se vestia para sua atividade física e guardava suas coisas ali, levando a chave presa ao pulso por um elástico. Ao retornar, engatava novamente a chave, tirava suas coisas e, fechando a porta, prendia novamente a chave.